22/06/2010

Qualidade de Vida – Desafio do Líder

Um curso ministrado durante três meses para os pastores do CONPAS de Uberlândia-MG


O Propósito


1 – A proposta primeira
Deus tem me feito pensar muito na Qualidade de Vida de nós, que somos “chamados para sermos líderes, separados para o evangelho de Deus” e anunciar vida a todos, especialmente, ao próprio povo de Deus. Neste propósito, por Qualidade de Vida, queremos entendê-la, na dimensão espiritual, como também na dimensão da psique – alma - e do corpo, e na dimensão do serviço. Ou seja, estamos nos propondo a refletir sobre a qualidade dos nossos relacionamentos com o Senhor, com a nossa intimidade, com a nossa família, com a nossa igreja e com a sociedade.

A questão é um questionamento: somos pessoas sérias, compromissadas, fiéis, coerentes, qualificadas como referência para o povo que crê e para o que não crê? Somos líderes felizes!

Não penso a partir de sua vida e, muito menos, da vida dos outros... Mas estou sempre pensando a partir da minha vida. Quando se trata de conserto, eu quero estar no início da fila. E já agradeço sua oração!

2 – Além da proposta primeira
É oferecer aos irmãos e amigos um instrumento de reflexão para a liderança de sua igreja. A metodologia é programar um tempo de acerto, ou, se quiser, de cura. Uma série de reuniões para compartilhar os pontos desta proposta. Em cada reunião, os líderes serão motivados, à luz da orientação do Espírito Santo, a “confessar” seus sentimentos de deficiências e carências, no que se refere a cada ponto de alerta exposto nesta “apostila”. Isto é, que cada um “lance fora todo medo” para abrir a sua alma e ser curado, ou ser melhor.

Definindo

QUALIDADE DE VIDA é vida e vida em abundância

“O ladrão vem para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.

Não sei se já tomamos ciência do peso da ameaça da primeira parte deste versículo. É a manchete dos jornais deste tempo de violência. O ladrão rouba. Para não ser reconhecido, ele mata. E para não deixar pista, ele destrói o corpo e o joga em qualquer lugar. Rouba-nos os valores, as virtudes e as bênçãos. Mata as nossas motivações. E destrói todo resquício de algum bem, ou de alguma boa intenção que possa restar. Destrói toda nossa identidade. Ele faz-nos irreconhecíveis.

Mas quando se fala em “vida em abundância”, a nossa convivência com o Senhor nos revela coisas tremendas da parte de Deus, para nós. Coisas que enchem o nosso espírito. Gratificam a nossa alma. E refletem, de forma saudável, em nosso corpo. É abundância das virtudes de Deus presentes em nós. E a igreja, onde nós estamos, é edificada. E o mundo que nos rodeia fica saudavelmente “chocado” ou, seduzido pela nossa palavra e testemunho. Nossa “qualidade de vida” de filhos de Deus marca. Incomoda. E atraí.

Todavia, nós entendemos que a “vida em abundância” está condicionada, é claro, em primeiro lugar, à graça e misericórdia do Senhor, e, em segundo lugar, à nossa obediência a Ele. E a obediência ao Senhor não permite sermos mais ou menos, no que se refere ao Reino de Deus e, no que se refere à nossa posição de líderes. Vidas vividas no meio termo jamais serão confiáveis. Nunca serão significativas. A qualidade de vida não admite mornidão, que é condenada em Apocalipse 3:16. Dante chamava de “neutros” os que não se arriscavam na vida, dizendo que “deles no mundo não fica memória”.

Terrível, de acordo com a Bíblia sagrada, é uma pessoa não deixar memória. Em Jó 18: 6.17, está a declaração: “A luz dos ímpios se apaga; a faísca do seu lar não resplandece”. E ainda: “A sua memória perece na terra: pelas praças não tem nome”. Que coisa horrorosa é morrer e não deixar nome. Morrer e não deixar saudade. 2 Cr 21:20 diz que o rei Jeorão morreu e “foi-se sem deixar saudades algumas”. Nós, quando queremos preservar a memória de alguém: colocamos o busto ou a estátua dessa pessoa numa praça. A idéia é reverenciar a sua memória, e não permitir que caia no esquecimento. O homem que vive a vida e vida em abundância, sua memória ungida ficará no coração de seus queridos.

Vamos tentar ler, à luz de Jo 10:10, o que, para nós líderes, pode significar QUALIDADE DE VIDA, de forma prática, em nossa relação com a nossa igreja, e convivência com as pessoas que dependem de nós ou nos rodeiam.

Queremos, então, convidar a você, Pastor ou líder, a fazer um mergulho dentro de sua alma, onde estão as grandes possibilidades da QUALIDADE DE VIDA que o Senhor, que o chamou, e a igreja-gente, que o espera, desejam de você. O mergulho é necessário, porém desafiador. Há elementos na alma – psiqué – de todo mundo que são traiçoeiros, amedrontadores, resistentes, inimigos da conscientização dos aspectos submersos – escondidos. Nós, os espirituais – espirituais, até demais! – temos medo de mergulhar dentro de nós mesmos, para não vermos os destroços, os danos sofridos na estrada da vida, e as nossas fragilidades... No entanto, há também tesouros, elementos convocadores da alma, agenciadores de oportunidades, geradores de graça, que podemos estar desconhecendo, mas que nos qualificam para a nossa vida de ministério a serviço do Reino.

“Há uma escada.
A escada está sempre ali?
Inocentemente suspensa
junto à lateral da escuna...
Vou descendo...
Vim explorar os destroços...
Vim ver os danos sofridos
E os tesouros que restaram...”
(Adriene Rich, “O mergulho no barco naufragado”)

O Reino de Deus, a que servimos, tem, como princípio, a busca da QUALIDADE DE VIDA, com a condição de “hoje – todo momento se chama hoje – se ouvirdes a sua voz não endureçais os vossos corações” (Hb 4:7).

Mesmo sendo um Pastor ou um líder ungido, uma bênção, pode estar acontecendo que ser feliz está se tornando hoje uma miragem para você. Sua vida, talvez, tenha se transformado num canteiro de estresses. Talvez, você não saiba mais o que é ser espontâneo, livre e solto. Talvez, você tenha desaprendido a ser alegre e simples e nem saiba mais fazer coisas fora de sua agenda. Agora é hora – não resistais ao Espírito – de você aprender a navegar no oceano do Espírito e descobrir o novo e redescobrir o que se fez tão costume que você já não tem, dele, mais consciência. Mas eu quero dizer: isto é uma arte! E o Senhor estará junto com você neste mergulho...


1 - QUALIDADE DE VIDA É...
TER A MENTE DE CRISTO, PARA GERENCIAR OS SENTIMENTOS E AS EMOÇÕES

Rm 8:1-2 – “...nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito, porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, livrou-me da lei do pecado e da morte”. 2 Rs 7:9 - “Este dia é dia de boas novas e nos calamos”. Rom 12:2 – “Não vos conformeis comeste mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”.

A minha história e a sua história testificam que, de vez em quando e de quando em vez, a vida fica estranha. Fica esquisita. Se absurdifica para valer, chegando até a nos desarticular, desorganizar, ao ponto de fazer com que nós fiquemos amargos, azedos, fechados, retraídos, melancólicos, “emburrados”, e “chatos”. Mas, abra a sua Bíblia, e leia o salmo 137. Este salmo tem muito a ver com a dificuldade que o crente – nós pastores e líderes não podemos esquecer que somos crentes, também... – tem de SER o que deveria SER na hora da crise, do arrocho, do aperto, da agenda encapuçada de angústia e, por isso mesmo, acabamos encontrando uma “baita” dificuldade de ESTAR com o outro ou com os outros.

Este salmo nos traz, já, agora, adiantando a nossa reflexão, o seguinte recado: “Tá” estranho, mas não desista de cantar!” Eu li isto em algum lugar... Creio que foi durante o curso de Psicanálise Clinica.

Mas, porém, todavia, contudo, o convite, agora, é chamá-lo ao treinamento das emoções. Apesar de todo o progresso e de toda tecnologia a serviço do homem, nunca o homem foi tão triste e sujeito a tantas doenças psíquicas. Ele está preso no cárcere da emoção. Este estado tem contaminado, também, os líderes da igreja imprevidentes. Estão se permitindo se conformar “com este mundo”. Estão pensando como o mundo pensa. Estão falando como o mundo fala. Estão agindo como o mundo age. Só espero que não creiam como o mundo crê. Nós sabemos em quem cremos. Cremos no Deus vivo!

Como os lá de fora, os líderes não estão sabendo falar a linguagem emocional. Não é simples navegar nas águas da emoção. Reis e súditos, intelectuais e iletrados, grandes e pequenos, pastores e ovelhas falharam em viver a vida, e a vida em abundância. E as perguntas borbulham: “Como educar a emoção e resgatar o prazer de viver? Como ter a qualidade de vida em meio às turbulências? Nós, que cremos e sabemos em quem cremos, temos a resposta. Mas, de repente, “dá um branco na mente” do crente, e ele fica só – solo - no meio da multidão.

O mundo da emoção não crê em atos heróicos ou palavras de “energias positivas”, em “mantras”. No mundo da emoção as palavras importantes são “treinamento” e “educação”. Você precisa educar sua emoção para ela ser feliz. Você precisa treinar sua emoção para superar as perdas e frustrações e cansaços. Caso contrário, você nunca será capaz de contemplar o belo da sua alma, da sua vida, do seu ministério. E ver o bonito que Deus faz em você e, através de você.

Mas, queremos começar, falando de Jesus Cristo, a pessoa que mais brilhou nesta área. Em Jesus está o nosso treinamento e educação. “Se deixarmos a questão teológica de lado e analisarmos a sua humanidade, ficaremos impressionados com a sua inteligência. Seus comportamentos chocam a psicologia. Ele sabia como e quando iria morrer, mas administrava seus pensamentos com incrível sabedoria. Não sofria por antecipação, nem gravitava em torno dos seus problemas. Sabia abrir as janelas da sua mente em situações em que era quase impossível raciocinar, como quando foi ferido em seu julgamento mutilado na cruz. Fez da capacidade de pensar uma arte. Tinha plena consciência de que, se não cuidasse da qualidade dos seus pensamentos, não sobreviveria”. (Augusto Jorge Cury, em “A Pior Prisão do Mundo”)

São muitos os homens e mulheres ungidos que choram. Que reclamam. Que murmuram. Que se rebelam. Que estão vivendo a miséria na alma e no corpo. Para muitos, todos os seus dias são dias maus. Pessoas que estão se deixando governar pelas emoções e sentimentos negativos, destruidores e amortecedores. Eternos perdedores, que só vêem raios e não vêem chuvas. Perdedores paralisados diante das perdas e das frustrações. Escravos dos pensamentos negativos. Encarcerados da emoção. A pergunta do Senhor é: Onde está a minha promessa de que meus filhos não serão envergonhados? Será que também eu sou mentiroso?

Deus nos criou com capacidade de exercer a vontade de fazer escolhas. Muitas vezes nosso sofrimento é fruto de nossas escolhas infelizes ou erradas. Se nossa vontade nos levou para o “desastre emocional”, ela pode ser exercitada na direção da melhoria e da cura. Ficar recitando a ladainha de vítima é “cauterizar” ainda mais nosso mal estar.

Ao acordar todos os dias, o líder de espírito saudável, firme nas promessas, não permite que algo que saiu errado ontem seja o primeiro tema do dia. Não permite que as emoções negativas de ontem voltem a governar sua vida no novo dia. Mas, profetiza para sua alma que esse novo dia será de edificação para sua vida. Para sua casa. E para a sua igreja. Quem se aproximar do líder, segundo o coração de Deus, vai encontrar um líder cheio de vida, com palavras de vida. Um líder cheio de misericórdia, com gestos de misericórdia. Um líder bem-aventurado.

Na força do Senhor, ele não permitirá que as emoções negativas governem sua vida. Na força do Senhor, ele acorda vencedor, que não vê raios. Mas, vê chuvas. Que vê, a cada dia, uma oportunidade para começar tudo de novo.

Somos chamados o povo mais feliz da terra. Pelo nosso DNA, isto é para ser verdade. Mas, o nosso comportamento, as nossas emoções podem contradizer esta afirmação. Todavia, na força do poder de Deus e na unção do Espírito Santo, o líder entende que ontem foi ontem... Hoje é um novo dia... Hoje, tudo é novo... Hoje é dia de “em tudo dar graças”. De “alegrar-se sempre no Senhor”. Hoje é o dia que o Senhor fez. E o que Deus faz é bom. Por isso, o líder permite que “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” governe a sua alma e o seu dia!

Todo dia é dia de amar a vida e tudo que a promove. Educar a emoção para amar a vida. Prevenir ansiedade e outros transtornos emocionais. Nunca desistir da vida. E recusar tudo que a perturba. Construir relações sociais saudáveis e afetivas, usando o diálogo. Porque temos o Senhor!

Hoje é o dia de contemplar o belo. Aprender a fazer das pequenas coisas um espetáculo para os olhos. Gastar tempo, analisando os detalhes de tudo que é belo ao redor de si. Fazer coisas fora da agenda e que propiciam prazer. Transformar a energia da reclamação e lamentação em agradecimento e contemplação com alegria. Investir no bom, no agradável, no bonito. Porque o nosso Deus é bom, agradável e bonito!

Pessoalmente, eu tenho pensado que muito das nossas “choranças” têm como causa uma certa rebeldia e desobediência ao Senhor ou marcas de traumas inconfessáveis... É não saber ler a Bíblia... É não aprender de Deus a ler a vida. Como líderes e filhos da obediência, vivemos na abundância, e não caminhamos na miséria espiritual. Não nos alimentamos de murmurações. A murmuração destruiu os israelitas no deserto. Por isso Paulo aconselha: “Não murmureis como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador” (1 Co 10:10). Vivendo, assim, o líder, na murmuração, a conseqüência é viver a vergonha da mendicância... E ele não consegue esconder este estado de vida à sua igreja. Que o pastor não ouça um comentário de juízo como este: “A pregação do pastor foi desanimadora e pessimista. Afinal de contas, o emprego dele depende do pessimismo”

Qualidade de vida é exercitar a arte de gerenciar os pensamentos dentro e fora dos focos de tensão. Não ser escravo dos pensamentos negativos. Aprender a ser autor da sua história e, não vítima dela. Criticar os focos de tensão, para abrir janelas da memória e desobstruir a inteligência. Cuidar, carinhosamente, do território da emoção e dos solos da memória. Não desistir das pessoas, que amamos. Não negar a vida. Lutar pelos sonhos. Ser apaixonado pela vida. Porque, em Jesus, somos mais que vencedores.

Aquele, que não tem sonhos, não luta por eles. Quem tem sonhos, não tem medo de sonhar. Sonhos são sintomas de vida. Lutar pelos sonhos é lutar pela vida. Aquele, que não é apaixonado pela vida, não tem motivação, nem investimento, nem autoridade para ser guia de outras vidas.

Há muitas coisas que nos aborrecem, mas com os olhos fitos em “Jesus, autor e consumador de nossa fé” (Hb 12:2), e fé na fidelidade do Deus das promessas, teremos sucesso, no que concerne aos desejos de nosso coração e, no que se refere aos projetos do Reino de Deus.

O pior inverno pode anunciar a mais bela primavera. Sábio é aquela pessoa que consegue ver aquilo que as imagens não revelam. É a pessoa que, ao cair da última folha do inverno, é capaz de erguer os olhos e enxergar as flores da primavera. As flores que ainda não brotaram. O exemplo é o Senhor Jesus. Ele conseguia ver o que ninguém via. À sua frente só havia pedras e areia. Ou seja, problemas, dificuldades e ódio. Mas conseguia erguer os olhos e ver os campos branquejando, embora estivesse, apenas, lançando as primeiras sementes na terra. Ele gerenciava seus pensamentos e protegia sua emoção nos focos de tensão Por isso, na terra do medo e do preconceito, ele foi uma pessoa extremamente feliz, segura, sábia, tranqüila. Desse modo, causou a maior revolução da história, sem desembainhar uma espada, sem usar qualquer violência.

2 - QUALIDADE DE VIDA É...
UM PARÊNTESIS DE FÉ... PARA CONTINUAR

Como resposta ao estado de sentimentos e emoções negativas, penso, fazer um parêntesis no início de nossa reflexão, para poder transcrever do jornal do CPPC – Círculo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos – a leitura psicanalítica do salmo 16. É um salmo entre minha fé e psicologia ou um salmo da psico-teologia. Quem sabe, no final de cada ponto de reflexão, poderíamos orar este salmo... Não há nenhuma contra-indicação... Vou até mudar a fonte da escrita.

Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio, em meio à correria de compromissos, cobranças e responsabilidades

Digo a Javé: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, outro alicerce de minha existência que me dê sentido não tenho colocado, senão a ti somente.

Quanto aos santos que há na terra - os colegas pastores, líderes e ovelhas - são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer. Minha herança está no Senhor e nos seus santos.

Bendigo o Senhor, que me aconselha - de modo não-diretivo, quando me deixa com liberdade para escolher os melhores caminhos, as decisões acertadas. Tantas vezes me aconselha - diretivamente mesmo -, quebrando meu orgulho, quebrantando minhas humanas pretensões... Pois, até durante a noite, o meu coração me ensina psicanaliticamente, me enviando sonhos ou nos raros momentos de insônia.

O Senhor Deus, tenho-o sempre à minha presença. Estando ele à minha direita, serei abalado pelo sofrimento, sim. Estarei sensibilizado pela dor minha e a dos outros, mas não estarei desarticulado, aos pedaços. Sua graça me mantém firme, senão nas alturas do andaime, mas no fundamento cravado na terra.

Alegra-se, pois, o meu coração - meus sentimentos de alegria me empurram ao canto, e o meu espírito exulta - minhas emoções afloram do mais íntimo reduto de comunhão com o Pai, para o mundo exterior; até meu corpo repousará seguro e evitará somatizar o que reprimo no dia-a-dia.

Pois, não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que teu Santo veja corrupção. De fato o Santo de Deus encarnado, seu bendito Filho, nosso Amado Salvador não permaneceu na corrupção da morte, mas ressuscitou para a vida incorrupta e incorruptível.

Tu me farás ver os caminhos da vida - foi registrado na minha lembrança da minha confirmação, como profecia dos caminhos de Deus, que se abririam no futuro, e se juntariam aos meus próprios caminhos, de modo que hoje não sei distinguir estes daqueles ...

Na tua presença há plenitude de alegria. Sim, na autêntica presença do Senhor há genuína alegria a manifestar-se no coração, no espírito e no corpo.

Na tua destra há delícias perpetuamente. Para sempre, alegria indizível, louvor em plenitude. Páscoa Eterna!

Tal é a importância da espiritualidade sadia para mim: • O Único Senhor Deus é meu refúgio, segurança, o único bem e herança preciosa.

• Ele me presenteia com santos queridos. Todos "santos sujos" em sua humanidade pecadora, mas redimida.
• Ele é meu conselheiro e gosta de atuar, quando estou à volta com meu travesseiro.
• Minha fé encarnada alegra meu coração. Meu espírito vibra. Meu corpo repousa.
• Minha esperança na Páscoa Eterna é fortalecida.
• Ele me faz não somente sentir, mas ver os caminhos da vida. • De que mais preciso ?!...

3 - QUALIDADE DE VIDA É...
TER A ATENÇÃO DE DEUS, PARA SER EDUCADO

1 Co 16:20 – “Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo”. Rm 12:18 – “... quanto depender de vós, vivei em paz com todos”.

Está fazendo falta, na igreja, um pouco de educação na relação entre líderes e as pessoas. Há líder que tem medo de perder sua autoridade ao querer ser educado com todos. O líder educado cumprimenta cada um que lhe dirige o olhar, mesmo não sendo conhecido. Mesmo não sendo crente. Há líder – não é você! -que, ao entrar na igreja, passa direto para frente, para o púlpito. Não olha. Não vê. Não sente. E não cumprimenta ninguém. Talvez, não queira se desconcentrar da mensagem que trouxe para a igreja!... Ele só vê as pessoas, do alto do púlpito. Alguém já disse que o púlpito é um véu de separação que ainda não foi rasgado.

O líder, segundo o coração de Deus, não faz acepção de pessoas no tratamento educado. Não é daqueles que são “humilhantemente” gentis com os líderes “estrelas” e poderosos, e, desatento com aqueles que não podem dar nada... Que não podem dar nem um “cafezinho corajoso”. Somos, quem sabe, cristãos modernos. E uma das características de nossa modernidade é a capacidade de descartar e desprezar o inconveniente De abandonar o que está estragado. De optar pelo novo. Rejeitar o reparo. O relacionamento está se tornando material descartável...

É também para nós o alerta de Tiago 2:1-6, quanto ao tratamento do rico e do pobre. O líder, conforme o coração de Deus, se assenta com o rico e com o pobre, com o sujo e com o limpo, com o santo e com o pecador. Com o chefe e com os servos... Com o presente e com o ausente – “desviado” da igreja. E é gentil, também, com os de casa... Nossa casa, às vezes, recebe o resto da gentileza, que gastamos na igreja...

Ser educado é exercer a arte da solidariedade. Aprender ser uma pessoa compreensível, flexível, aberta e livre. Procurar aliviar a dor dos outros, mas sem vivê-la. Aprender a ter prazer em se doar, sem esperar a contrapartida do retorno. Aprender a perdoar e ser tolerante. Nosso Deus não é solidão. É solidário!

Por falar em ser solidário, eu queria compartilhar com você algo que li em um destes “jornalzinhos informativos”, que caem em nossas mãos, sem avisar: “Com a encarnação de Jesus, Deus se mostra com cara de solidariedade e escreve no útero da história que, ser solidário é investir o meu melhor no pior do outro. É fazer da gentileza sacramento de todas as relações com quem quer que seja ou esteja. É fazer da ternura liturgia de encontro com os que se encontram em um zigue-zague existencial”. Creio que dá para entender o significado deste recado para o que, até agora, estamos falando. Estamos falando que educação é também solidariedade e gentileza. Assim como Deus foi tão solidariamente gentil que não teve medo de investir sua divindade na humano, a plenitude de sua glória no vazio da miséria humana, através da encarnação de seu Filho. “Se fez carne – humano, gente, pessoa – e habitou – morou, conviveu, andou, chorou, riu – entre nós”

E é preciso que nunca esqueçamos que Igreja é gente, e não lugar. É a reunião de pecadores perdoados. De vidas sofridas que se tornam curadas. De gente que chora no sangue, e no desespero que geme na carne, e é consolada. De incrédulos que se tornam crentes. De pessoas espiritualmente mortas, que são espiritualmente ressuscitadas. De apáticos, que passam a ter sede do Deus vivo. De soberbos, que se fazem humildes. De desgarrados, que voltam ao aprisco. Igreja é mistura de raças diferentes. Distâncias diferentes. Línguas diferentes. Culturas diferentes, Níveis diferentes. Temperamentos diferentes. A única coisa não diferente na Igreja é a fé em Jesus Cristo. Toda esta igreja precisa de nossa educação e nossa atenção, como veremos adiante.

Educação também seduz... Se não formos atentos ao nosso papel de pastores, corremos o risco de sermos desagradáveis a Deus e aos homens, nos colocando entre os “intocáveis”..., pessoas de “casta superior”. Ou de construirmos um véu, que nos separe do resto do povo de Deus.

Jesus nunca foi assim. Ele rasgou tudo o que poderia separá-lo do povo para quem veio. Fez tudo para ser igual, menos no pecado. Jesus tirou a capa, e tomou uma água, uma toalha para lavar os pés dos discípulos.

O prazer de Deus nos que se humilham e sua rejeição aos que se exaltam é falado também a nós. Em 1 Coríntios Paulo escreve: “... tenho para mim que, Deus, a nós apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte. Somos feitos espetáculos ao mundo, aos anjos e aos homens” (4:9)

Mas, a nossa educação ou atenção não nos autoriza a sermos omissos, transigentes com aquilo que não admite transigência. Às vezes, o amor requer austeridade. Precisa ser duro!... (2 Co 13:2)


4 - QUALIDADE DE VIDA É...
TER A SENSIBILIDADE DE DEUS, PARA SER ATENCIOSO

Gl 6:10 – “Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”. Mt 7:9 – “Qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o filho, lhe dará uma pedra?”. At 2:45 – Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um”. 1 Pe 4: “Tende, antes de tudo, ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados”

A essência do ministério pastoral é a atenção. O pastor é ungido para o ministério da simpatia, do carinho, da afeição e do serviço em amor. Foi consagrado PARA CUIDAR. O ritual da consagração do sacerdote do Antigo Testamento, como está descrito em Levítico 8 – abra sua Bíblia e leia - dá o tom da responsabilidade pastoral. Na consagração a orelha, a mão e os pés eram tocados pelo sangue. Simbolicamente, orelha, mão e pés eram lavados e dedicados ao Senhor. O que, também, significa, que o ministro de Deus ouvirá e obedecerá, e suas mãos e pés servirão ao Senhor. Em obediência ao Senhor, o líder se dispõe a OUVIR – ouvir e aconselhar. Ele não vai ouvir um paciente ou um cliente, porque ele não é um profissional da psicologia, da psicanálise ou das várias outras terapias. Ele vai ouvir uma ovelha, ou alguém igual a si. Ele é ungido na mão para TOCAR vidas. Vai influenciar vidas. Ele tem um ministério para atuar nas crises e, em tudo aquilo, que interfere na rotina da vida de sua ovelha. E, ainda, ele é ungido nos pés para ANDAR, crescendo em sabedoria e graça. Em santidade, em ética e em maturidade, de forma que poderá dizer o mesmo que disse Paulo: “Sede meus imitadores...” Ele vai estar pronto para PARTIR, como Abraão, às vezes, sem perguntar por onde, ou para onde, ou para quê, ou para quem.

PARTIR é um fenômeno, sem pausa, sem stop, na vida humana. Continuamente, ele vai estar PARTINDO. Entendendo que PARTIR não é, apenas, um deslocamento físico – um partir geográfico. Mas ele poderá ser levado a PARTIR ao encontro de sua alma... PARTIR em busca da reformulação da sua vida... PARTIR para construir conceitos e destruir preconceitos... PARTIR para reconstruir gente... PARTIR para implantar o Reino de Deus... O homem se encontra partindo. Um autor escreveu: “O homem se faz fascinante com a seqüência de partidas. Da concepção embriogenética à velhice, do útero materno até o salto para a eternidade, para além do túmulo. O homem é um insistente partir”. A palavra de Jesus aos seus discípulos é sempre a mesma: “Ide...” Parti!

O medo de PARTIR encolhe as pessoas e a mantém presa a hábitos estressantes e condicionantes. Há os que partem somente se o êxito estiver previamente garantido. São securitários. Querem ter a segurança de que não vão falhar. Enquanto não tiverem a certeza de que terão, mesmo, sucesso, não se aventuram. Não foi assim, com Abraão, que “partiu, em obediência, sem saber para onde ia”. O líder ou pastor não “anda – não - por vista, mas por fé”. Ele não parte na segurança do resultado, mas na segurança do Deus que o mandou, porque vê e sabe o que não vemos e sabemos. Então entendemos que o PARTIR do líder é uma resposta a uma proposta de Deus.

Esta introdução parece dispersiva. Mas não o é. Porque atenção é, também, PARTIR AO ENCONTRO DO OUTRO. Esta atenção vai exigir, às vezes, cortar laços auto-interesseiros... Largar o seio que infantiliza... Despreender-se de conceitos “turrões”, ou insignificados... Levantar-se da mesa... Sair da comodidade do gabinete pastoral... Deixar o culto, onde “o fogo está descendo”... Em João 13, o verso 4 diz que Jesus “levantou-se da mesa, tirou a capa e colocou uma toalha e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura”.

Volto a falar da “capa” que Jesus tirou, para elucidar o aspecto do cuidado, da atenção. É a atenção de Jesus que coloca o cuidado das pessoas acima do poder. A capa era um sinal de poder. Ainda é. Muitos, hoje em dia, gostam de usar as vestimentas que, em si, já demonstram poder. Um juiz veste sua beca. O advogado põe o seu terno. O padre sua toga ou batina. Em nosso caso, o pastor põe o terno e a gravata. São roupas que mantém as pessoas afastadas por que, aqueles que as usam, são ordenados e vistos como pessoas, que detém o poder sobre outros. Entretanto, ninguém tinha mais poder que Jesus de Nazaré. Mas, mesmo assim, ele tira a sua capa...

Figurativamente, entendemos que, quem deseja pastorear tem que deixar a sua capa e se levantar, apanhar a toalha, colocá-la na cintura, e derramar água numa bacia, e ir em direção a aqueles, a quem nós dizemos que o Senhor nos deu, e a quem dizemos que amamos.

Pastorear é dedicar tempo com o outro, cuidando de suas feridas e retirando o seu cansaço. Para pastorear, vai ser necessário apanhar a toalha, a bacia cheia de água, nos curvar e lavar os pés de quem está cansado. Mesmo que sintamos a possibilidade de traição.

Pastorear é cuidar de gente. Ou na conversa de Jesus com Pedro: “cuidar dos meus cordeiros”, “pastorear as minhas ovelhas”, “cuidar das minhas ovelhas”. Pastorear, na perspectiva bíblica é cuidar das ovelhas, olhando todos os aspectos da sua vida. É chegar junto, no momento difícil. É estar junto nas horas do riso. É viver com o outro, nas várias instâncias da vida.

Ser atencioso tem muito de educação. É saber ver além do conteúdo manifesto. Ver o que está latente na expressão da palavra e dos gestos. Mas, também, tem a ver com sensibilidade ao que se passa ao redor. Ser atencioso é aproveitar as oportunidades para fazer o bem: uma palavra Um sorriso Um aperto de mão. Um telefonema. Um convite. Quando somos abordados ou procurados por alguém, este alguém pode estar acima de nossa própria tarefa; pois, quem veio nos procurar deve estar precisando bastante de nossa ajuda... E veio, porque confia em nós. Há muita esperança quando alguém procura o pastor. Você é especial para este alguém. É o Pai que fala a palavra de Cristo sob a direção do Espírito Santo. È preciso, pois, saber ouvir, na mesma atenção que Deus ouve você. Seja um psicoterapeuta pastoral... preparado na escola do Espírito Santo. Ele ficará feliz pelo auxílio que nós possamos lhe dar. Ele pode ser a centésima ovelha... que ainda não está no aprisco. Ou a ovelha que está na porta dos fundos de saída do aprisco...

Um alerta para nós. Pessoalmente, eu fico meio assustado quando alguns, por serem líderes, se aventuram ao exercício do aconselhamento em todas as áreas. Quem sabe - aqui é a carne que fala e julga - o exercício do aconselhamento seja a forma da busca de certa intimidade suspeita!... É preciso – olha a ordem dos termos – GRAÇA. SENSIBILIDADE. AMOR. ESTUDO. TREINAMENTO. Muitos foram preparados para o ofício de pastores – ofício é uma coisa e dom é outra – o que não significa que foram preparados para o exercício de aconselhamento em todas as áreas da complexidade humana. Há casos que não são de competência do líder espiritual, mas do profissional... E, pior, quando nos julgamos no direito de nos responsabilizar pelas decisões muito pessoais e particulares das ovelhas... As ovelhas têm algumas dependências onde é “proibido entrar...”, sem ser convidado. Se o mesmo Deus, para entrar, bate na porta!...

Alguém, para se tornar conselheiro, “tem que se dispor, primeiro, a trabalhar sua própria vida, ser restaurado, avaliado. Penso muito no texto dos evangelhos, em que Jesus fala de alguém que quer remover o cisco no olho de outra pessoa, enquanto no seu próprio tem uma trave. Para que eu tenha algum tipo de autoridade para mexer na vida dos outros, eu tenho que ter mexido na minha. O conselheiro tem que trabalhar seu próprio coração primeiro, porque depois vai mexer com a alma do outro” (Werner Haeuser, teólogo, terapeuta e conselheiro)

Por questão de lógica kantniana – de Kant, o filósofo – não existe a menor possibilidade de que eu me relacione bem com os outros, estando mal, em atrito e conflito comigo mesmo. Mesmo que, no início, eu, você, nós, teatralizemos um pouco diante dos outros, logo, logo, o show acaba, e a vida se encarrega de nos desmascarar e escancarar o que está batendo forte dentro do peito da gente.

Estejamos nós, prontos porque, também, podemos ter a coragem e a autoridade de dizer o que Jesus disse: “Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados...” (Mt 11:28). Por que não?! Ser atencioso é ser consolador. É ser Barnabé, “filho da consolação”

O evangelho, significativamente, apresenta a parábola do bom samaritano. Ele mudou o roteiro da viagem. Atrasou a viagem, porque alguém precisava... E era algum estranho à sua fé e cultura... Adiou, por umas horas, o compromisso de sua agenda.

Talvez precisemos, ainda, crescer em sabedoria e graça para entendermos o significado da acolhida. Nossas igrejas estão precisando ser locais de acolhidas, onde as pessoas, além de ouvir ou “ter que ouvir” um sermão profético, se sintam percebidas, recebidas e abraçadas. Fazemos festa para quem chega pela primeira vez. E ficamos desatentos para quem já chegou há mais tempo.

O líder é um modelo e referencial para inúmeras outras pessoas. É possível que o líder esteja sempre procurando atenção para si, mas pouco atento ao que está ocorrendo ao seu redor. Ele, às vezes, nem está percebendo que sua igreja está morrendo, perdendo o primeiro amor.

As nossas igrejas estão cheias de carentes. Carência é uma doença presente em nossas casas, no mundo e também na igreja. Gente amargando solidão no meio da multidão. Augusto Jorge escreveu: “Infelizmente nossa espécie está adoecendo coletivamente. Adoecendo nem sempre por doenças clássicas, como a depressão, a síndrome do pânico, as fobias, mas a solidão, pela falta de solidariedade, pela crise do diálogo, pela incapacidade de contemplação do belo, pela vida estressante, pelo individualismo”. Os cultos estão sendo celebrados por homens e mulheres, que não conseguem trabalhar suas emoções e pensamentos. As nossas igrejas estão cheias de pessoas salvas. Mas, nem todas estão curadas em suas emoções. Temos igrejas cheias de pessoas, que podem ganhar qualquer concurso sobre temas bíblicos, mas que não conhecem o Deus da Bíblia. Nem todas estão com sua fome satisfeita.

Em “Os Caçadores de Deus”, Tommy Tenney escreve: “Você não pode me dizer que as pessoas, quando colocam cristais nos pescoços, gastam dinheiro diariamente para ouvir gurus e contratam médiuns caríssimos, não estejam famintas de Deus. Elas estão famintas para ouvir algo que esteja além de si mesmas, algo que não estão ouvindo na Igreja hoje. A questão é: as pessoas estão enfadadas da Igreja, porque ela tem se portado como mera difusora da Bíblia! As pessoas querem estar ligadas a um poder maior! Sua fome os leva a qualquer lugar, menos à igreja. Elas estão à procura de algo para saciar a fome que lhes corrói a alma”.

Precisamos entender esta carência, com atenção de não sermos paternalistas. A atitude paternalista é prejudicial ao desenvolvimento e amadurecimento do filho, da ovelha, do dependente. Aqui, cabe o alerta de Paulo: “Fiz-me fraco para com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Co 9:22). Reparemos na expressão de Paulo: “fiz-me TUDO para com TODOS... para chegar a salvar ALGUNS”.

Ricardo Barbosa de Sousa, da Igreja Presbiteriana do Planalto (DF), em um de seus artigos, na revista Eclésia, escreve: “Somos ocupados demais, para dar atenção ao endividado, para ouvir as histórias do carente, acolher o choro do cansado e abatido. Somos instruídos demais, temos diplomas e cursos, para perder nosso precioso tempo com aqueles, que nada poderão nos oferecer, como compensação pelo nosso esforço. Precisamos resistir aos apelos do consumo, à pressa desumana, e abrir nossos olhos, estendendo as mãos para restaurar a cana quebrada e reacender a chama do pavio quase apagado”.

A virtude da atenção é uma grande sedutora. E, às vezes, é a que segura os membros em uma igreja. É possível que alguns de nós, aqui, tenhamos mudado de igreja, porque nossas carências não eram satisfeitas...

Diante de atitudes de irmãos, que deixam nossa congregação ou denominação, nos armamos de juízo de condenação, chamando estes irmãos de crianças na fé, ou, de rebeldes, ou de coisas semelhantes. E não assumimos, que muitas vezes, somos nós, verdadeiramente, os culpados por estas deserções.

Para concluir: ser atencioso é ter sensibilidade aos dons e talentos dos líderes. Ou seja trabalhar em equipe. Aprender a discutir idéias em grupo. Não manipular nem polarizar reuniões. Elogiar as idéias dos membros da equipe. Explorar positivamente a inteligência deles e motivá-los. O Senhor Jesus não andou sozinho... Escolheu doze para andar com ele e ministrar com ele!... E não eram eles muito competentes... nem todos de bom caráter!...


5 - QUALIDADE DE VIDA É...
CONHECER OS PLANOS DE DEUS, PARA PÔR A CASA EM ORDEM

Jr 291 – “Pois eu sei os planos que tenho para vós, diz o Senhor, planos de paz, e não de mal, para vos dar uma esperança e um futuro”. Mt 21:12 – “Entrou Jesus no templo, e expulsou a todos os que aí vendiam e compravam, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” - Is 38:1 – “Veio a ele Isaías, filho de Amoz, o profeta; e lhe disse: põe em ordem a tua casa, porque morrerás; não viverás”. 1 Co 14:40 – “Mas faça-se tudo com decência e ordem”. Pv 4:26 –“Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados”

O primeiro lugar que precisa passar por uma organização é a nossa vida interior. Ela pode estar, aparentemente, muito bem organizada no departamento espiritual. Mas o nosso departamento de relacionamentos, sentimentos e emoções pode estar desorganizado. Falar de “organização interior” a alguns líderes lhes causa reações de “ogeriza” e rejeição violenta. Ou são inconscientes, ou estão vestidos de uma falsa espiritualidade.

O homem moderno, onde nós, líderes nos incluímos, nunca foi tão capaz para atuar no mundo de fora e nunca foi tão frágil para atuar no mundo de suas emoções e de seus pensamentos. Somos “bons conselheiros”, e alguns se arriscam a serem “terapeutas” do outro. Mas as nossas emoções e sentimentos ficam fora do nosso controle. A ciência produziu gigantes no mundo físico e meninos no território da emoção. Eles são eloqüentes para falar do mundo que os rodeia, mas emudecem-se diante dos seus sentimentos. São competentes para realizar tarefas objetivas, e em nosso caso, são competentíssimos no governo de uma grande igreja, mas não sabem lidar com suas perdas e frustrações.

Isto pode estar dificultando nossa convivência com o Senhor e suas coisas, e empobrecendo nossa vida relacional na família e na igreja. Isto pode estar impedindo o crescimento do nosso ministério pessoal.

Uma vida interior, terapeuticamente organizada, além, é claro, da forte intimidade com Deus e o compromisso levado a sério com a igreja, é a segurança contra a diversidade de escândalos a que podemos estar sujeitos. E o mais sério é o escândalo sexual. Somos, como todos os homens, sujeitos às mesmas fraquezas e respiramos o mesmo ar carregado de erotismo.

Uma curiosidade: a Bíblia, que nunca escondeu nem explorou os escândalos de seus mais importantes personagens - Gn 9:21; 20:2; 2 Sm 11:1-5; Jô 20:24-25; Mt 26:68-75;At 15:36-41; Gl 2:11-21 -, não registra o envolvimento de nenhum sacerdote, profeta, apóstolo, pastor, presbítero ou bispo com pecados sexuais. Eles podem ter cometido outros pecados, mas não na área da sexualidade. Por que será?! Há uma exceção: os filhos de Eli.

Ser organizado, para saber trabalhar perdas e frustrações. Trabalhar perdas e frustrações significa: não se submeter à pior prisão do mundo: o cárcere da emoção. Superar o medo e extrair lições das perdas e frustrações. Fazer a técnica do stop introspectivo: debelar em cinco segundos o foco de ansiedade, para que ele não seja registrado como zona de conflito na memória. Fazer a técnica do DCD – duvidar, criticar, determinar –, para reeditar o filme do inconsciente.

Urge, a cada dia, relembrar e organizar as boas notícias de ontem. Temos pela frente um dia de grandes promessas de vida e de frutos. Não o desperdicemos. A qualidade dos frutos que queremos, neste novo dia, depende, também, da organização da nossa vida interior. Da nossa casa. Do nosso trabalho. Do nosso ministério. E da nossa igreja.

Uma outra situação, onde o “bicho tem pegado”: finanças. Finanças domésticas e ministeriais inquietam. Paulo diz que ele aprendeu a “contentar-se em toda e qualquer situação”, e que “sabia passar necessidade, e também sabia ter abundância” (Fp 4:11-12). Esta é uma aprendizagem, que não está sendo fácil viver. De repente, mexe conosco o “bom viver” dos homens do mundo! De repente, “temos inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios” (Sl 73:3).

Esta é uma área, onde o “bicho pega” e, por isso, não pode jamais ser descuidada. Porque é uma janela, que aberta, facilita a entrada de confusão, perturbação na família, no ministério e na igreja. E onde nascem os grandes escândalos da desonestidade, no meio evangélico. Como os outros, lá de fora, estão aprendendo, inclusive nossas ovelhas, não podemos fugir da necessidade de fazer o nosso orçamento doméstico e ministerial, para que não sejamos tomados de surpresas. Ou... tenhamos que “nos assentar na calçada para pedir esmola”... Ou... inventar visitas às ovelhas para conseguir uma ajuda...

Estamos no mundo... Embora não sendo do mundo, enquanto aqui moramos, estamos condicionados às mesmas situações de nossas ovelhas, que vivem conforme sua renda. E alguns, de uma forma bem apertada... Não significa que devamos nos contentar com o que temos. É direito, também, do pastor, procurar, debaixo da orientação de Deus, uma qualidade de vida de bem morar. De bem se alimentar. De bem se vestir. De bem se locomover. De bem se divertir. Não é porque ele é pastor que tem de aceitar viver de forma miserável. Com um cuidado só: não “adorar” estas coisas, antes do Reino de Deus.

E finalmente, organizar as nossas coisas, a nossa casa. Creio que muitos de nós estejamos precisando aprender um pouco de organização das nossas áreas administrativas. Do nosso quarto. Do nosso escritório. De nossa papelada. Do nosso carro Da nossa igreja. Da nossa contabilidade. O Novo Código Civil, é positivo, na medida que nos obriga a sermos organizados. Sem querer superestimar, a organização reflete o estado de nossa alma. Lembremo-nos que Deus é muito organizado... Veja a sua criação...

Gênesis 1: 2 diz que o Espírito de Deus pairava sobre o caos. Que não sejamos resistentes ao Espírito Santo, na organização de nossa vida interior. Mas, que o doce vento do Espírito Santo nos invada o coração e nossos rins. E nos faça enxergar seus mais escondidos recantos, onde se ocultam sentimentos destruidores como cupim, que vão roubando o ar, levando-nos a respirar, cada vez mais, dificilmente. Ferindo, junto conosco, os queridos que atraiçoamos. E trazendo descrédito àqueles, a quem um dia servimos de exemplo do verdadeiro Evangelho de Cristo, e agora se perguntam, estupefatos: “Que evangelho é este, afinal?”

6 - QUALIDADE DE VIDA É...
TER O DISCERNIMENTO DE DEUS, PARA SER PREVENIDO

Lc 14:28-30 – “Se alguém de vós está querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: este homem começou a edificar e não pôde acabar”.

Às vezes, os nossos grandes projetos – até suntuosos projetos – ou ações de alcance social e evangelístico podem nos levar a “encostar” as ovelhas para um canto de nossas preocupações. Pedir que elas “dêem um tempo”. E elas aproveitam, saem e vão em busca de ouros pastos..., em busca de outro redil...

A maior parte de nosso tempo é tempo de guerra... Não fomos chamados para passear todos os dias... Uma guerra nos espera. Temos um compromisso com a vida familiar e social. E temos um propósito com o Reino de Deus, que não é deste mundo.

Deus chama empreendedores. A sairmos de debaixo da sombra da árvore. Para isto ele enviou o seu Espírito, que nos capacita. Ter espírito empreendedor significa, justamente, sair da zona do conforto e aprender a caminhar por terrenos desconhecidos. Aprender a ser controlado pelos sonhos de Deus e nossos, e transformá-los em metas. Ter motivação sólida. E não ter medo de correr determinados riscos – dar a vida, se preciso - para cumprir suas metas. Tomar decisões. Fazer escolhas. Transformar fracassos em força. E nunca esquecer de dar sempre uma nova chance para si mesmo. A mesma chance que o Senhor nos deu!

Por isso, ser prevenido começa, quando de madrugada, ou no acordar do sol, buscamos Deus, na leitura de sua revelação. Na meditação da Palavra. Na oração. Primeiro, porque o nosso amor a Deus nos impulsiona a buscar a sua intimidade. Aquele que ama quer, sempre, ficar perto da pessoa amada. E porque, também, há momentos que estão previstos e agendados. E há grandes possibilidades de surpresas, durante o dia, como da tocaia do homem violento. Das imprudências do trânsito. Da enfermidade inesperada. Das traições. Da busca inesperada do desesperado e outras. A vida nos surpreende em tempo e fora de tempo, e de lugar. O próprio Senhor pode nos surpreender, a qualquer hora do dia e da noite, com a pergunta: “Onde estás?” E pode nos encontrar, apenas, com uma “folha de figueira...” Bom será o Senhor nos surpreender... Ruim será se, quem nos surpreender, for o ladrão que rouba, mata e destrói (Jô 10:10)

Me permita “enfiar, aqui, uma cunha”. Não só as construções, a implantação de igrejas, a criação de ministérios, os compromissos financeiros são as únicas áreas a exigir exercício de prevenção. Normalmente nossa espiritualidade ou religiosidade pouco ajuda na hora em que o “estranho”, o que não foi “agendado” pinta na nossa vida. Na maioria das vezes, nós – embora pastores e líderes – nos desespiritualizamos na crise, na tensão, nos reviéses da história. O que estamos querendo dizer com esta “cunha interferente”? Não podemos nunca..., jamais... deixar de buscar o amadurecimento de nossa espiritualidade para aquilo que vier, em qualquer momento e em qualquer lugar, sem pedir licença... sem aviso prévio...

Ser prevenido é preparar-se para a vida que está à frente. A prevenção começa pela busca de conhecimentos. É lamentável como alguns lideres não lêem nada. Não estudam. Não participam de eventos especiais... “Não precisam...” Todavia, precisamos estar preparados, até para o inesperado... Há um axioma popular que diz:”urgente é o que não foi preparado”. Mas sem paranóia... A ponto de esquecer do poder de Deus e da revelação do Espírito Santo.

Deus não enviou Jesus de repente, para “quebrar um galho”... Todo o Antigo Testamento foi um tempo que Deus usou para a preparação do envio da salvação, em Cristo Jesus. Se temos um sonho, um projeto de vida, cabe buscar o estudo, a pesquisa, a oração... Aliás, permito-me fazer um questionamento: você tem sonhos? Você tem um projeto de vida? Você tem um projeto para sua casa, sua família, sua igreja, sua velhice?. Há muitos líderes, que na sua velhice, agora, estão abandonados pela família e, até, pela sua igreja... Não sejamos só emoção, em nossos compromissos... Sejamos, também, razão...

Uma observação, sem descer em detalhes: às vezes a nossa falta de discernimento nos leva a pensar projetos grandiosos, sem medir custos... e que, depois, nós quase temos que “obrigar” nossas ovelhas a carregarem a carga Chegamos até, desculpem-me, a criar campanhas “proféticas”, “de cura”, “de prosperidade”... com a aparente motivação de buscar o bem das almas. Mas, atrás, está a motivação de buscar recursos para salvar nossos projetos... A palavra mais usada, hoje, no vocabulário da ministração e, das orações é “recurso”...

7 - QUALIDADE DE VIDA É...
SABER DO CUIDADO DE DEUS, PARA TRATAR BEM A VIDA

Ex 15:26 – “Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, e inclinares os teus ouvidos as seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios, pois eu sou no Senhor que te sara”. Dt 7:15 – “O Senhor desviará de ti toda enfermidade. Ele não te afligirá com as terríveis doenças que conheceste no Egito, antes as porá sobre todos os que te odeiam”. Pv 4:20-22 – “Filho meu, atenta para as minhas palavras; às minhas razões inclina o teu ouvido. Não as deixes apartar-te de dentro do teu coração, pois são vida para os que as acham, e saúde para o seu corpo.” Jr 30:17 – “Mas te restaurarei a saúde, e curarei as tuas chagas, diz o Senhor, porque te chamam a enjeitada, dizendo: É Sião, por quem ninguém já pergunta.” Descanso Gn 2:2

A nossa saúde, antes de toda e qualquer providência ou programa, está condicionada à obediência a Deus, conforme Ex 15:26: ouvir a voz de Deus. Fazer o que é reto. Ouvir e guardar os seus mandamentos. Atentar para as suas palavras. E não deixá-las fugir do coração. E, também, não ter medo de estar, continuamente, exercitando o mergulho, a viagem de auto-descorberta no interior de nossa alma, que estará nos tornando mais humanos, de modo que não possamos ser escravizados, sem o saber, pelas forças sombrias que residem em nós. Explorando e compreendendo as origens e a potência dessas forças, não só ficamos muito mais capacitados para enfrentá-las, mas também adquirimos uma compreensão muito mais profunda e compassiva de nossas ovelhas. E a Palavra de Deus pode nos ajudar neste este mergulho, porque ela “viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ao ponto de dividir a alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).

Por isto, a primeira preocupação: a saúde da alma. Ela corre o risco da síndrome de “enjeitada”. Muitas de nossas enfermidades têm a sua gênese no mal estado da alma. É vontade de Deus que façamos um diagnóstico do estado de nossa alma e busquemos o tratamento. Não sei quantos de nós tem o hábito de, periodicamente, buscar o aconselhamento de um homem de Deus experimentado.

“Pastores muitas vezes não procuram ajuda. Colocam-se em situação, em que não se espera que peçam ajuda. Não se permitem mostrar sua humanidade ou, sua fragilidade. Vivem a partir da agenda de ser forte ou de ser líder – não ficam atentos aos sinais do seu coração, e, aí, fica tarde demais. Muitas vezes, pastores são solitários, não têm para onde ir com suas questões, seus medos, seus sentimentos. Alem disso, carregam uma grande carga de ferida dos outros, e o curador pode acabar se ferindo. Ou acha que não precisa de ajuda, o que é mais lamentável ainda”. (Werner Haeuser, já citado). E é triste o preconceito ainda existente em nosso meio, em nome da salvação dada por Jesus, contra os profissionais da alma.

Há quem esteja tratando do corpo – “malhando” – porque a alma está má. Enchendo-se de silicone porque a alma está uma “pelanca só”... A paranóia da estética, também, tem esmagado o prazer das pessoas, principalmente dos jovens. Muitos, incluindo modelos, têm tido um envelhecimento precoce da alma. Tão jovens por fora e tão envelhecidas por dentro. Quem superdimensiona cada curva do seu corpo e, cada grama de peso, perde a singeleza e a espontaneidade da vida, e torna-se cronicamente insatisfeito e autopunitivo. Não podemos ser felizes, se valorizarmos mais a embalagem do que o conteúdo. Já é tempo de nos rebelarmos contra este paradigma.

Escritórios de médicos e psicólogos estão cheios de crentes doentes... Hospitais psiquiátricos estão cheios de crentes... Presídios estão cheios de crentes... Graças a Deus que alguns estão tendo a humildade de reconhecer que precisam de ajuda, sem desprezar a ajuda de Deus. Somos juízes e, simploriamente, os acusamos de não serem convertidos verdadeiros.

O cuidado do corpo está sendo a chamada em todas as áreas da sociedade. Estão aí as academias de ginástica, os SPAs, as mil e uma receitas para emagrecer, os diets, e os lights... Nada contra. Alimentação, esporte, descanso... Cuidar das nossas necessidades humanas faz parte do processo de equilíbrio necessário para a vida: descanso, divertimento, passeios, caminhadas. Precisamos ter coragem de, um dia, fechar a igreja, a casa pastoral, para cuidar de nossa saúde. Aquela tarefa, aparentemente urgente, pode esperar. Se adoecermos, dezenas de tarefas terão que aguardar a nossa volta, menos aquelas que acabarão por sobrecarregar seus colegas ou familiares. E vamos constatar que não fazemos tanta falta, assim... Não somos insubstituíveis. Só o espírito de super-homem dispensa o descanso. Não há vantagem alguma para quem esnoba que nunca tirou férias. Por isso, talvez, as pessoas, ao seu redor, o não estão agüentando!...

O pai de família que não descansa, cansa e estressa toda a sua família... O líder que não administra sua vida, para poder ter um tempo de descanso, cansa, aborrece e estressa a sua igreja. Se a igreja ver em nós homens educados, atenciosos, dedicados, vai desejar, ou até exigir que tenhamos o nosso descanso...

A obtenção, a manutenção ou o esgotamento da energia espiritual são os assuntos de maior preocupação para os pastores que desejam permanecer com vitalidade em seus ministérios. O resultado final de continuar o trabalho, sem ter realmente o que dar, é horroroso: torna-se uma pessoa amarga, mecânica e fria. Cai-se no pecado da destruição do ministério. Perde-se a intimidade com Deus, com a esposa e amigos. E, o pior de tudo, odeia-se o trabalho. Aqui, não querer descansar é orgulho e pecado.

Certa vez perguntaram a Ruth Graham se já havia passado pela sua cabeça divorciar-se do seu marido Billy. “Divorciar-se?”, pesou ela, “Nunca! Mas assassiná-lo, sim, diversas vezes!” Sem comentários!...

Eu termino este ponto afirmando: há paradas que são obrigatórias. Isto está na Bíblia. Isto também é de Deus. Se não, vejamos: Durante a caminhada de quarenta anos, entre o Egito e a terra de Canaã, Israel armou e desarmou suas tendas. É como se lê: “Tendo partido toda a congregação dos filhos de Israel no deserto de Sim, fazendo suas paradas (indo de lugar a lugar), segundo o mandamento do Senhor, acamparam-se em Refidin” (Ex 17:1).

Nós, também, precisamos de muitas paradas na caminhada de nosso ministério e em direção à Canaã de cima.

Paradas para descansar um pouco da última etapa. O cansaço enerva e provoca desânimo. O próprio Jesus fez questão de sugerir a seus discípulos um período de repouso (Mc 6:31).

Paradas para agradecer o que aconteceu durante a última etapa: O maná não faltou. A coluna de fogo não se afastou. A nuvem, que fazia papel de um enorme toldo, não desapareceu. As sandálias não se gastaram. O agradecimento faz bem à alma. Aliás, precisamos aprender dizer “muito obrigado” e ensinar a igreja a fazer o mesmo. Não se pode esquecer “de nenhum de seus benefícios” (Sl 103:2).

Paradas para refletir. Para reorganizar o pensamento. Para recapitular as lições anteriores. Para enxergar a mão de Deus. Para descer fundo na história da redenção. Para mirar o futuro pelos olhos da fé e da esperança. Asafe livrou-se do suicídio espiritual, ao entrar no santuário de Deus, e ao entregar-se à reflexão (Sl 73:16-17).

Paradas para fazer reparos. Pode ser que haja um buraco na tenda e muita roupa para lavar. Reparos na economia do lar. Reparos no relacionamento conjugal. Reparos na educação dos filhos. Reparos no testemunho cristão. Reparos na saúde física e emocional. Reparos na vida íntima com Deus.

Paradas para abastecer. Há mais uma etapa pela frente. E, depois, outras e outras. E, assim, até chegar à divisa, ao rio Jordão, e ao outro lado. À terra que mana leite e mel. É preciso recompor o estoque. A fé. A confiança. A disposição. O ânimo. A coragem. A alegria. O entusiasmo. A submissão. O mandamento é encher as entranhas da Palavra de Deus (Ez 3:3) e a alma, do Espírito Santo (Ef 5:18)


8 - QUALIDADE DE VIDA É...
ENTENDER A FIDELIDADE DE DEUS, PARA CUMPRIR O COMBINADO

Mt 5:37 – “Seja, porém o vosso “sim”, sim e o vosso “Não”, não; o que passar disto vem do maligno.” Tg 1:22 – “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.

Dentro do possível, que o líder possa se agendar para seus compromissos, dentro de suas possibilidades pessoais e de recursos. Mas sem, é claro, viver debaixo da ditadura da agenda. A agenda é para nos lembrar e, não, para nos governar. Sejamos, o quanto depender de nós, fiéis ao agendado. Não nos deixemos levar pelas emoções, e prometer o que não podemos cumprir. Marquei uma visita, devo fazer esta visita.

Há um ponto delicado em nossas relações sociais. Por improvidência em suas projeções de receitas e despesas, e em seus compromissos, ou por uma emergência indesejada, o líder é tentado ou, “forçado” a recorrer a empréstimos. E, pior, quando ele busca um padrão de vida acima de suas possibilidades. Então, no aperto, ele apela aos irmãos que o atendem na confiança de líder, pastor e amigo. Ou, pior, apela às amizades “gentias”, quando não, também, às instituições financeiras, onde estão os piores bichos “roedores e consumidores”. Eu confesso que é humilhante ter que recorrer a empréstimos! A própria palavra de Deus, em Provérbios 22:7 o diz: “O que toma emprestado é servo do que empresta”. Não proíbe tomar emprestado, mas declara o fato de que somos servos de quem tomamos alguma coisa emprestada.

Infelizmente, é grande o rol de “mal caratismo” no meio evangélico, nesta área. Pastores deixam o ministério, porque ficaram com o nome sujo na praça. Líderes, entre o povo de Deus, perdem autoridade, por estarem presos a compromissos impagáveis. Nomes de líderes correndo, de boca em boca, na comunidade, como mal pagadores. Outros sendo acionados, judicialmente, por colegas de ministério. Comportamento que é contrário ao conselho da Palavra de Deus. E, pior, porque é escândalo “dos pesados”, quando o líder é acionado por irmãos, às vezes, muito mais necessitados. Onde, depois, o líder vai tirar autoridade para o seu ministério?! Em Romanos 13:8, Paulo alerta que “a ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros”.

Se não foi possível escapar da pressão do empréstimo, que haja empenho em pagar, o mais rápido possível, ou devolver o objeto de empréstimo: livros, roupas, dinheiro, não importa o valor.

Por outro lado, do que compete à nossa parte, o conselho bíblico é que, quando emprestamos a alguém – amigo ou inimigo - devemos fazê-lo com mão aberta, “sem esperar nenhuma paga”. Esta palavra não avaliza a minha displicência em devolver o que a mim foi, somente, emprestado.

Se, por um lado, devemos ser generosos, e, por outro, não devemos tomar emprestado aquilo que não podemos pagar, um terceiro princípio, quanto a dívidas, surge: sejamos muito criteriosos quanto a tornarmo-nos fiadores. Melhor, não ser fiador. “Quem fica fiador de outrem sofrerá males, mas o que foge de o ser está seguro” (Pv 11:15). Ser fiador é uma responsabilidade que mexe com dinheiro que não é nosso, e pode afetar a nossa família e a nossa igreja.

Mas, por outro lado, um dia, pela graça do Senhor, nós assumimos um compromisso tremendo. Foi com o Senhor, quando aceitamos ter Jesus como Salvador e único Senhor de nossa vida. Todavia, muitos se converteram pela emoção e, hoje, não conseguem viver a vida de convertidos... Prometeram que estariam debaixo do senhorio do Senhor, mas não estão dando conta. Deus, também, não quer ser buscado apenas pelos sentimentos... Ele não quer um culto emocional, mas um culto racional. Às vezes, para agradar um líder, buscar uma posição, um título, um lugar à direita ou esquerda do “chefe”, alguém assumiu compromissos e, hoje, não tem condição de cumprir.

Pensemos um pouco no que combinamos com Deus, com o ministério, com as pessoas, e não temos cumprido. Não cumprir o combinado pode nos colocar entre os filhos da mentira, homens sem palavra... Homens sem honra.

9 - QUALIDADE DE VIDA É...
ENTENDER A PACIÊNCIA DE DEUS, PARA NÃO DESISTIR DAS PESSOAS

2 Ts 1:4 – “De maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais”. 1 Tm 6:11 – “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça,a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão”. Rm 12:12 – “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”. Tg 5:7-11: “Sede, pois, irmãos, pacientes até á vinda do Senhor. Vede que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando- com paciência, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós, também, pacientes, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. O juiz está à porta. Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Como sabeis, temos por bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes da paciência de Jô, e vistes o fim que o Senhor lhe deu. O Senhor é cheio de misericórdia e compaixão.

Paciência é a prática ministerial do ouvir, tocar e andar. Para isto foram ungidos as orelhas, as mãos e os pés... Lembre-se de Levítico 8. Os textos, que acabamos de citar, quando falam de paciência, diz também, fé. Justiça. Piedade. Amor. Mansidão. Esperança. Perseverança. Fortalecimento dos corações. Deixar as queixas. Bem-aventuranças. Misericórdia. Compaixão. E fala, ainda, de perseguições. Aflições. Tribulações. Sofrimento.

Em Deus está o exemplo e razão da paciência. Cada um de nós é testemunho vivo da paciência do Senhor. Aqui, eu volto a uma questão: quando estamos debaixo da obediência do Senhor, paciência e perseverança têm sentido. Mas, quando estamos debaixo de nossos próprios critérios, paciência e perseverança é perda de tempo. É desgaste da alma. É cansaço do corpo. É estresse...

Ministério é ofício de paciência, dedicação, perseverança. Talvez o fruto da nossa perseverança não vá gerar nenhum fruto precioso para nós. Pelo contrário, poderá gerar apenas sofrimentos e tribulações. Ou traição... Desde que Deus seja glorificado, nós já somos galardoados. Mas se o nosso sonho ou projeto, ou o que nos foi proposto tem a testificação de Deus, caminharemos de fé em fé, já que não caminhamos por vista, mas por fé. O homem de fé, à semelhança de Noé, se dispõe a construir uma arca no seco, mesmo diante do ridículo e da crítica, sem jamais tolerar qualquer dúvida de que Deus realmente enviará um dilúvio. O homem de fé vive em sociedade com Deus – “se Deus é por nós, quem será contra nós” (Rm 8:31) -. Por isto ele sabe e pode esperar. Nem sempre isto é fácil. O nosso orgulho e a nossa vaidade querem ver o resultado. Gozar o resultado. Se glorificar no resultado... Quer o galardão aqui e agora... Quer uma placa na parede... Um nome de rua...

A parábola do semeador é uma lição. Temos, em nossa exegese de púlpito, interpretado somente os tipos de terreno em que é lançada a semente. Mas, o que chama a atenção é a perseverança do semeador, que, às vezes, apesar de tudo, não vai conseguir 100 % do resultado de seu trabalho. Saibamos esperar... Se estivermos buscando, aprendamos andar, esperando.

Se diagnosticamos que a nossa falta de paciência é fruto do muito trabalhar, é obrigação procurar o descanso. Se a nossa falta de paciência é constitutivo de nossa personalidade, é obrigação procurar a cura.

Ser paciente é, ainda, a arte de pensar antes de reagir. É o mesmo que dizer: Aprender a usar a ferramenta do silêncio, antes dos estímulos estressantes. Não se contaminar com as labaredas da ansiedade dos outros. Se comprometer em pensar e, não, em dar resposta rápida. Abrir o leque da inteligência, para dar respostas inteligentes. Deus não tem pressa em dar respostas!

Também, ser paciente é colocar-se no lugar do outro. Aprender a enxergar os outros, além da cortina dos comportamentos. Ter prazer de pensar no mundo das pessoas, e conhecê-las intimamente. Perceber os conflitos e as aflições delas. Procurar atender às necessidades das pessoas, antes que elas lhe peçam ajuda. É o que a Palavra diz: “... sejais pacientes para com todos” (1 Ts 5:14).

Mas atenção e muito cuidado. Não confundir paciência com o demorar agir na hora que é devida... Não confundir paciência com o deixar passar o que não pode passar... Com o contemporizar com o erro... Com o não fazer questão... Com o calar quando é preciso falar... Com o deixar pra lá... Esta “paciência”, aqui, tem outros nomes: preguiça, irresponsabilidade, desconsideração, desleixo, desculpa, medo, timidez, omissão... O que pode significar prejuízo no lar, furo no bolso, desgaste no relacionamento, mancha no caráter e na honra e anemia na vida da igreja... O Reino de Deus é feito de gente paciente e... OUSADOS... e não de tímidos.

Finalmente, paciência é um outro nome de amor. “O amor é paciente, é benigno” (1 Co 13:4)

10 - QUALIDADE DE VIDA É...
TER O AMOR DA VERDADE, PARA FALAR A VERDADE

Sl 15:1-2 – “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e do coração fala a verdade”. Is 11:5 – “A justiça será o cinto de seus lombos, e a verdade o cinto dos seus rins”. Zc 8:16 – “São estas coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo, e executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas; nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ame o juramento falso. Eu aborreço a todas estas coisas, diz o Senhor”.

Elias Thomé Saliba, em artigo de comentários ao livro “Verdade - Uma História”, de Fernández-Armesto, escreve: “È suficiente ler um comunicado oficial ou não, sobre resultados eleitorais ou algo equivalente, para constatar que, hoje, a verdade não está mais na moda. Os diversos meios de enganar, mentir, distorcer e desvirtuar não são mais necessidades esporádicas e culpáveis, mas tornaram-se parte essencial, permanente, estrutural das nossas formas de vida, conduzindo-nos a desprezar a verdade, como apenas aquele nome que damos para nossas opiniões”. Nosso comentário: Incrível: mentir, hoje, é uma necessidade!... Mentir dá lucro!...

E Elias continua: “Desde que os homens deixaram de crer em Deus, o que se nota não é que eles não crêem mais em nada; é que eles crêem em tudo”. Um pouco modificada, esta famosa maldição do Padre Brown, um personagem fictício do Chesterton, tornou-se a epígrafe do desencanto atual, com sua indiferença pela busca da verdade. De um lado, céticos e niilistas; de outro lado, as mentes fechadas e a suspensão de todas as faculdades racionais requerida pelos inúmeros fundamentalismos religiosos. Cultos malucos prosperam, seitas manipuladoras progridem, superstições desacreditadas revivem; as pessoas se refugiam na confusão, o pluralismo torna-se pasticho (como uma obra musical criada por diversos compositores que trabalham independentemente); e a lógica parece ter se transformado em algo tão trivial quanto as perguntas e respostas daqueles shows televisivos”.

A igreja crê na VERDADE, e tem como missão ser verdade e pregar a verdade, na sociedade que perdeu a fé na verdade. O nome da Verdade é Jesus. E a verdade, para o crente e, particularmente, para o Pastor e líder, é um atributo que define sua essência de vida e sua existência. Seremos julgados pela verdade que formos e vivermos. Isto é um peso, quando as ovelhas, em toda a palavra do seu líder, vê verdade, ouve verdade, entende verdade. Comecemos a nos perguntar: as minhas ovelhas podem ter fé na minha verdade?

Porque a verdade tem muito haver com nosso caráter. No livro de Números 23:19 diz “Deus não é homem para que minta”. Tenho a sensação que Deus, se comparando com o homem, vê no homem uma tendência à mentira, para não dizer que ele nos chama de mentirosos. A impressão que se tem é que a expressão “não há um justo sequer” é o mesmo que dizer “não há um que seja verdadeiro”.

Esta afirmação de Deus é um alerta para nossas atitudes relacionais na família, e na igreja, e em nossos negócios. Prometemos o que está além do nosso alcance, só para impressionar quem nos ouve. Compramos e não pagamos... Contratamos funcionários e não pagamos... Emprestamos e não devolvemos... Se o líder, ou o cristão, ficar devendo um dia, poderá arranhar o conceito, que levou anos para construir. O quanto que, às vezes, somos mentirosos e enganadores com nossas obrigações de cidadania, quando a Palavra de Jesus é clara: “daí a César o que é de César!...” O quanto que a nossa mentira de palavra e de comportamento tem sido impedimento para a conversão de muitos!... Entre os quais, os familiares.

Deus tem compromisso com a verdade. Deus é a VERDADE. Nós, como autoridades por Deus delegadas, temos compromisso com a verdade. A VERDADE, que é Jesus, que liberta. E com a verdade de nossa palavra. Com a verdade de nossas atitudes. Com a verdade da nossa mente transformada. Com a verdade do nosso coração, segundo o coração de Deus.

Temos o direito de falar a verdade. De interpretar os fatos. Mas, também, a obrigação de nos submeter à realidade dos fatos. Ou estaremos mentindo, fazendo fofoca contra as pessoas, difamando, sendo instrumento de maldição e destruição. Se temos o direito de falar a verdade, não temos o direito de distorcê-la, para fazer com que nosso interesse suplante a realidade, ou, pior, que as leis, que criamos para a nossa congregação, tenham força de convencimento... O quanto que verdades bíblicas têm sido distorcidas, através da história da igreja!... Aqui, também, em muitas de nossas igrejas, a palavra do pastor, parece ter maior força que a Palavra de Deus... Continuamos inventando verdades contra A VERDADE.

Ninguém resiste à verdade, especialmente aquela que pode ser acompanhada com os fatos. Mas ninguém, também, resiste à maior verdade que é Jesus, que de si mesmo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”

Cuidemos para não usarmos a verdade como instrumento de acusação e de vingança, ou para “cuspir” no outro toda a nossa raiva. A Palavra de Deus fala em dizer a verdade em amor. E que a nossa “palavra seja sempre agradável, temperada com sal...” (Cl 4:6)

Vivenciar a verdade é, também, a arte de expor e não impor as idéias. Às vezes, não permitimos que a “nossa verdade” – que pode não ser verdade – seja contradita. Portanto, a experiência da verdade poderá exigir não ter medo de ser questionado e confrontado. Aprender a expor as idéias com segurança. Não usar o tom de voz e pressões sutis para impor idéias e controlar os outros. Respeitar as idéias e opiniões dos outros, ainda que sejam diferentes das nossas. O que não significa concordar. Compactuar.

11 - QUALIDADE DE VIDA É...
COMPREENDER AS PRIORIDADES DE DEUS PARA AMAR A FAMÍLIA E OS AMIGOS

1 Tm 5:8 – “Mas se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior que o incrédulo”- Pv 16:28 – “O homem perverso suscita contendas, e o difamador separa os maiores amigos”. 17.17 – “Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia nasce o irmão”

AMAR A FAMÍLIA. Depois de um dia estafante, trabalhando ou procurando trabalho, o líder tem direito de ir para a sua casa e desligar-se um pouco... Deitar-se no colo da amada... Pedir um “cafuné”... A não ser que somos daqueles que não queremos chegar em casa..., para não perder a unção.... Daqueles que querem armar sua tenda no seu monte Tabor, onde eles “se transfiguraram” e, de onde, não querem descer...

Como é bom o líder chegar em casa e rever a família ou os amigos, que lhe dão segurança para desenvolver suas tarefas com equilíbrio!... A sua família é sua plataforma de lançamento para o seu trabalho. No ministério, não é de Deus esquecer que somos esposos, esposas, pais e mães. Deus não pode aceitar o serviço de um líder que, propositadamente, se divorcia de seu papel funcional em sua casa. Ele não compactua com este divórcio. Há pastor e pastora que são bons pastores, mas não sabem ser marido e ser esposa.

Uma pergunta podemos fazer: em que nós temos contribuído com nossa família? Quando chegamos do trabalho, da igreja, das reuniões, espera-se que estejamos trazendo coisas novas e palavras novas para a nossa casa...Conforme o que trazemos, assim seremos recebidos. É entristecedora a notícia de que o trabalho de alguns ministérios tenha levado ao desastre da separação. Pela Palavra de Deus, a ordem das prioridades de nossa preocupação, primeiro Deus, segundo a família e, em último, o ministério. Quando isto é entendido, a nossa casa está conosco, e não abre mão do serviço ao reino de Deus.

Além do mais, o líder nunca, jamais, pode esquecer que a primeira ovelha de seu rebanho é a sua esposa. Ela, antes de qualquer outra, exige orientação, cuidado, carinho e disciplina. Ela está sujeita às mesmas carências, às mesmas falhas, aos mesmos absurdos de qualquer outra ovelha. Se, um dia, for necessário, será agradável a Deus, que o pastor deixe por um momento as suas ovelhas “mais bonitas”, “mais agradáveis”, para cuidar daquela que dorme com ele, que come com ele, que aceitou caminhar com ele, com quem gerou filhos. É lamentável que a esposa do pastor tenha que abrir seu coração para todos, e não tenha coragem de enxergar seus conflitos e buscar a ajuda e manifestar seus sentimentos ao seu pastor, que mora na sua casa. Que a Palavra do Senhor sobre os pastores infiéis de Israel, em Ezequiel 34, não caia sobre você, amado, porque sua esposa, se enfraqueceu. Se perdeu. Se desgarrou. Ou foi entregue à rapina.

É espantoso como são poucos os casais que conversam sobre o que esperam receber no casamento. Em número ainda menor são os que trocam idéias sobre como gostariam de contribuir para o relacionamento, para que este seja bem sucedido. Você, um dia, já perguntou para o outro: “Nosso casamento está sendo o que você esperava?”. Ou “suas expectativas estão sendo atingidas?”. Talvez tenhamos medo de perguntar, para não ouvirmos a resposta. Mas, expectativas não alcançadas podem tornar-se frustrações. E estas podem se transformar em amargura. Há muita mulher de líder, vivendo debaixo de amarguras, de raiva, de depressão... Com, até, pensamentos de suicídio...E ele não está percebendo...

Um risco que pode tomar conta do coração de pastores é achar que pastorear é encher-se de atividades. Quando o pastor entende que pastorear é viver cheio de atividades, ele se comporta sempre como um executivo, que não tem tempo para a sua vida Para as vidas. Para a família... E... para nada. Para ouvir os outros. Para fazer amigos. E para amar as pessoas. É aquele pastor que carrega, orgulhosa e “orgulhante”, a síndrome da onipresença, da onipotência, da onicompetência, da “oni-tudo”. Este estado de espírito pode se tornar uma patologia... Patologia que contamina...

Ray Stedman, citado por Peter Wagner em “Descubra seus dons espirituais”, lamentou que aos pastores foi atribuída a tarefa de “evangelizar o mundo, aconselhar os desinteressados e desanimados, ministrar aos pobres e necessitados, aliviar os oprimidos e aflitos, expor as Escrituras e desafiar as forças entrincheiradas do mal, em um mundo cada vez mais entenebrecido”. Os pastores não foram levantados para fazer tudo isso. A própria tentativa de fazer isso tudo leva o pastor a sentir-se frustrado, estressado e, emocionalmente, exaurido. Será isso, porque alguns pastores, ainda, não descobriram o seu dom ou, seu ministério? Ou porque “querem mostrar serviço?”.

O que Pedro fala na sua primeira carta 3:7, podemos alargar: “... vivamos com a nossa família com entendimento, dando honra a todos como necessitados e como sendo todos herdeiros conosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as nossas orações”. Para que não seja impedido, amarrado o nosso ministério. Já tive o desprazer e um terrível constrangimento de assistir um pastor, que voltava de um ministério de unção e maravilhas, agredir, de forma violentíssima, sua esposa, em público. É triste e, espiritualmente, desprezível, diante de Deus e dos homens, o líder que não leva a sério o seu casamento e a sua igreja.

Permito-me, ainda, fazer uma intervenção, lembrando o que está em 1 Timóteo, capítulo 3. Uma das qualidades requeridas para quem se propõe o pastorado é a de bem governar a sua casa. Seus filhos tem de ser disciplinados e respeitados. É essa realidade familiar que atesta se o candidato é ou não um líder. A família respalda com o seu ministério. Porém, não necessariamente, ministra com ele.

Hoje, na igreja, tem sido cobrado que a família do pastor ministre com ele: os filhos têm quer ser líderes exemplares. A esposa, além de organista, tem de estar liderando as senhoras e o serviço social. Mais que a família do pastor, tem de ser uma família de pastores.

Curiosamente, esse fardo só é colocado sobre a família do pastor! Os outros líderes ficam isentos: a família do presbítero não tem de exercer presbiterato, a do diácono não tem de exercer o diaconato. Mas, da família pastoral, por meio de, na maioria das vezes, meias palavras, se espera um exercício de pastorado: “mas você não é filho de pastor?”

Essa sobrecarga injusta acaba por gerar, no pastor e na sua família, um estresse insuportável: “Eu e minha esposa estamos cansados de tudo isso” ´”Não estou cansado de Deus e nem da vocação, mas da igreja”. O ministério, ao invés de fonte de bênção, converte-se em fonte de neuroses e sofrimento. E fica pior, se é o pastor quem coloca nas costas de sua família este peso. Assim ele é o algoz da sua própria família.

Se o líder ler o salmo 23, se retratando como Senhor, vai entender que, como pastor de sua casa, tem o compromisso de não deixar faltar nada para a sua família. Mas, de formar para a sua família um ambiente de relacionamento de esperança, saudável, tranqüilo, e de descanso. Será o pastor a conduzir sua casa em justiça, honra e amor. Saberá usar a vara da exortação, da profecia, e o cajado do apoio, da restauração, da animação. Saberá administrar a mesa da comunhão, onde o alimento será temperado como óleo e o vinho transbordante da alegria. E será, para a esposa e filhos, a bondade e a misericórdia todos os dias de suas vidas. Eles terão, sempre, a sensação e a certeza de sua presença.

Não nos seja permitido pela nossa insensibilidade, ouvir certo dia, o que um pastor, depois de um culto, ouviu do coração de sua esposa, Ester, quando os filhos já dormiam: “Até hoje te reparti com as ovelhas, compartilhei você com todo mundo, e continuo disposta a isso. Mas o que tenho em casa não é o João Luiz, marido de Ester e pai de André e Lucas, mas a sobra, o resto de um ser que tinha tudo para ser feliz em casa e no ministério. Fico quase sempre, ou sempre, com o pior do seu tempo, do seu humor e da sua sensibilidade. Parece que a melhor parte do bolo é servida aos outros, e para nós ficam os farelos...”

Feliz o líder que entende o que é família

onde se aprende ser amigo e todos são amigos para todas as horas
onde os pais são honrados, como geradores de vida e de amigos
onde o esposo e esposa se dão honra, na consideração que o outro é a pessoa mais importante entre todas
onde o dar é mais que receber, onde o individualismo é morto e o interesse pelo outro é vivo
onde não há vergonha de um lavar os pés do outro, no sentido de levantar quem está em baixa
que tem uma mesa onde todos podem se assentar para o prazer da refeição sem brigas e dissensão
onde há cantos e alegria
que permite que Deus seja o Senhor!

AMAR OS AMIGOS... Ter amigos... Quando olhamos para a vida de Jesus, o pastor n.1, nota 10, observamos que um dos fatos marcantes de seu ministério foram os relacionamentos que ele construiu sobe o amor e a afetividade. Aliás, a própria doutrina da Trindade caracteriza esta dimensão de relacionamento, testemunhando que as três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo se interagem sob a dimensão da amizade. Jesus chamou aos seus discípulos de “amigos”. Até Judas, que o traiu, foi chamado por ele de “amigo”. Preferiu esta palavra ao invés de servos, por considerar que “amigo” se tornou palavra-símbolo, sacramento, do novo relacionamento, a partir da história da redenção. Como sacramento, a palavra “amigo” evoca saudades, vontade de rever novamente, compromisso de cuidar. Idéias e sentimentos que a palavra servo jamais evocaria.
Não há dúvidas que este modelo precisa ser considerado por pastores, líderes e membros de igrejas. No caso de pastores, a atitude mais coerente a ser tomada seria considerar de foro íntimo as suas opões no que diz respeito às amizades.

Acima de tudo, trata-se de uma questão de privacidade manter os amigos que tem e escolher os que quer. Além disso, é salutar e humano que estes relacionamentos amigos prezem por uma pauta de assuntos e programas para além daqueles próprios da igreja, o que funciona como um exercício de prevenção para o cansaço ministerial.

O descanso que se receita aos líderes inclui a participação de “amigos de pescaria”, de viagens... Tenha sua roda de amigos como companheiros do peito, - “amigo é para se guardar no lado esquerdo do peito” - reservando à amizade o prazer de estar numa mesa, ou saindo juntos, apenas, para desfrutar do prazer de estar junto com alguém, com quem se simpatiza. Esta tem sido uma prática que tem contribuído para a saúde e consolo da alma, da nossa própria família. Não tenha medo de estar com os seus amigos, aqueles que, ainda, estão no mundo... Uma coisa é não compactuar com suas idéias... outra é andar com eles... Eles, ainda, confiam em você. Isto faz parte do exercício da paciência que o faz esperar pela conversão do seu amigo!...

12 - QUALIDADE DE VIDA É...
BUSCAR SEMPRE A FACE DO SENHOR, PARA VIVER NELE

Gl 2:20 - “Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”

Nos gloriamos pela afirmação “já não vivo, mas Cristo vive em mim”, e não gostamos muito da introdução a este versículo: “Estou crucificado com Cristo”. O viver de Cristo em mim é realidade, se eu aceito ser crucificado com ele. O padrão de Cristo é serviço e sacrifício. O padrão do líder, segundo o princípio de Jesus, é serviço e sacrifício... “Eu vim para servir...” “Quem quiser ser o maior, seja o menor...”

Deus deseja, ardentemente, sentar-se conosco, “comer a páscoa”, e compartilhar suas coisas com as nossas coisas, seus sentimentos com os nossos sentimentos. O prazer de Deus é estar com os homens. É passear com os homens.

Como está sua vida espiritual com Deus? Talvez estejamos vivendo uma vida agitada com projetos que, no nosso entender, são agradáveis a Deus. Ou estamos adiantando a promessa de Deus, assim como fez Abraão, pensando agradar a Deus, gerando Ismael, quando a promessa era gerar Isaque. Estamos comprometidos até à ponta dos cabelos. Comprometidos, com suas “obras e maravilhas”. Todavia, corremos o risco de termos um tempo pobre com Deus. Um tempo religioso e não experencial com Deus. E, pior, quando Deus não é a grande referência, mas a referência é a denominação, são as “bênçãos”. Se há bênçãos, se a congregação está crescendo, tudo bem com Deus, com a vida... e com os homens... Se não há bênçãos, tudo mal com Deus, com a vida... e com os homens...

Verdadeiramente, podemos ser como uns religiosos que também têm seus ídolos – seu pastor, sua igreja, sua congregação, seu ministério. Há muitos que louvam a Deus E há poucos que o obedecem...

Me permito, agora, ir pelo “acostamento” desta última reflexão e me arriscar a uma análise de chão, isto é, do comum. Há um hiato meio trágico entre o que professamos “culticamente” e o que professamos cotidianamente. Nós, pastores e líderes, não precisamos ter medo de nos colocarmos como objeto desta auto-crítica. Um exemplo: Assistimos ou presidimos um culto, que foi “uma coisa de arrepiar”, que foi “poder puro”, onde desceu ”fogo na galera e sapecou muita gente”. Só que, na volta para casa, este culto não consegue existencializar a bênção na vida de quem ficou em casa. E, normalmente, na hora que a coisa fica “estranha” dentro de casa, sai da chamada “bênção” e entra em discussão boba, vazia, descaracterizada de qualquer valor pra a vida da gente. É ríspido com todos da casa. É azedo no serviço. É amargo diante de qualquer coisa que, aparentemente, sirva de afronta para o “santo” irmão.

Sem querer pormenorizar muito as contradições entre a vida de “aleluias” experimentada em um culto, onde “o fogo desceu” e a vida entre as quatro paredes da privacidade doméstica, onde o “fogo apagou”, nós estamos envolvidos com a espiritualidade que tem a cara e o cheiro do sossego conjugal, com a paz política, com uma coisa meio “nirvana” a respeito da vida. Ou seja, quando tudo está de acordo com as projeções psicológicas que gestamos na direção da tranqüilidade e da prosperidade, então, podes crê, que somos profundamente “espirituais”, e celebramos isto na frente de todos. Mas, como a vida não é urdida desse jeito assim e, de repente, pode ser ardida pra todos nós, “então quase, de forma mágica, acontece um processo fenomenológico de desespiritualização na vida dessa gente”.

“Quando o que é “estranho” roça, encosta, faz cócega na vida da gente e começa pra valer na nossa vida, mudando tudo, complicando tudo, desaranjando tudo e todas as coisas da gente, a espiritualidade fica fria, e ficamos com um resfriado ou uma gripe fortíssima provocada pelo vírus da ausência real e consubstancial de experiência com Deus”... “A verdadeira espiritualidade não se restringe ao campo ou ao cosmo da religiosidade. Espiritualidade que se preze, que pinte na vida da gente como uma coisa relevante, tem de ser necessariamente uma espiritualidade misturada com o profano da história”. Ou, melhor, tem que ser vivida, experimentada e experenciada, existida no endereço onde moro e onde trabalho.

Creio que estamos precisando buscar, verdadeiramente a face de Deus. O avivamento em nossa vida e na vida de nossas igrejas só acontecerá, se buscarmos mais a face e o coração de Deus, mais que as suas mãos.

Viver em Deus, fundamentalmente, é permitir ser guiado pelo Espírito, desejar as coisas do espírito. Se os frutos da carne é veneno, os do Espírito é qualidade de vida, porque é amor. Gozo. Paz. Longanimidade. Benignidade. Bondade. Fidelidade. Mansidão (Gl 5:22).

O fruto do Espírito é a conseqüência normal e esperada do crescimento, da maturidade, da semelhança com Cristo e da plenitude do Espírito Santo na vida de todos os crentes.

Guarda-me, o Deus, pois em ti me refugio.
A minha alma disse ao Senhor: Tu és o meu Senhor; não tenho outro bem além de ti.
Quanto aos santos, que estão na terra, são eles os ilustres em quem está todo o meu prazer.
As dores daqueles, que correm após outros deuses, se multiplicarão. Não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios.
O Senhor é a porção da minha herança e, do meu cálice; tu és o sustentáculo da minha sorte.
As linhas me caíram em lugares deliciosos; certamente me coube uma formosa herança.
Louvarei ao Senhor, que me aconselha; até de noite o meu coração me ensina.
Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim. Porque ele está à minha mão direita, não serei abalado.
Portanto, está alegre o meu coração, e se regozija a minha língua; também a minha carne repousará segura, porque não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
Tu me farás ver a vereda da vida; na tua presença me encherás de alegria, com delícias perpétuas á tua direita. (Salmo 16)

CONCLUSÃO

De Augusto Jorge Cury transcrevo um texto significativo “Espetáculo da Vida” para fechar esta nossa reflexão:

Que você seja um grande empreendedor
Quando empreender, não tenha medo de falhar
Quando falhar, não tenha medo de chorar
Quando chorar, repense a sua vida, mas não recue
Dê sempre uma nova chance para si mesmo.

Encontre um oásis em seu deserto
Os perdedores vêem os raios
Os vencedores vêem a chuva e com ela a oportunidade de cultivar
Os perdedores paralisam-se diante das perdas e das frustrações
Os vencedores vêem uma oportunidade para começar tudo de novo

Saiba que o maior carrasco do homem é ele mesmo
Não seja escravo dos seus pensamentos negativos
Liberte-se da pior prisão do mundo: o cárcere da emoção
O destino não é inevitável, mas uma questão de escolha
Você é um ser humano consciente, inteligente e livre

Sua vida é mais importante do que todo ouro do mundo
Mais bela do que o brilho das estrelas: obra prima do Autor da vida
Ainda que tenha defeitos, você não é mais um número na multidão
Não há duas pessoas iguais a você no palco da vida
Você é um ser humano insubstituível

Por isso eu declaro:
Jamais desistirei das pessoas que amo
Jamais desistirei da minha própria vida
Lutarei sempre pelos meus sonhos
Serei profundamente apaixonado pela vida
Pois a vida é um espetáculo imperdível

Augusto Jorge Cury, presbiteriano, psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor. Autor da coleção de livros “Análise da Inteligência de Cristo”, “Inteligência Multifocal” e outros.

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