20/12/2010

Lições do deserto


“Lições do Deserto”

O Senhor DEUS “te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes abrasadoras, de escorpiões, de terra árida e sem água, onde fez jorrar para ti água da pedra dos rochedos; que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram, a fim de te humilhar e provar, e afinal te fazer
bem” (Deuteronômio 8:15-16).

Peço licença ao meu amado irmão em Cristo, amigo e escritor, Daniel Tomás, do qual utilizei o título do seu excelente livro, Lições do Deserto, que recomendo a todos os cristãos, como um alimento espiritual.

Os desertos são as regiões mais secas do mundo. Eles podem ficar vários anos sem receber sequer uma gota de chuva. É lugar de extrema solidão também, onde, além de faltar o necessário para a sobrevivência humana, só se vêem camelos e tuaregues (integrantes de tribos desérticas que viajam normalmente em grupos). Durante o dia, as temperaturas nos desertos habitualmente alcançam os 25° C, à sombra, e 40° C, podendo chegar a 58° C, como ocorreu na Líbia. Em contrapartida, à noite faz um frio quase que insuportável; pois o calor escapa para um céu sem nuvens. Ocupam mais de
12% das terras emersas do planeta. O Saara, por exemplo, maior deserto do mundo, é um mar de morros de areia do tamanho do Brasil que se estende por 5 mil km, do Mar Vermelho ao Oceano Atlântico, a oeste, e algumas de suas dunas de areia podem alcançar 300 m de altura. Com tantas características adversas ao homem e diante de inúmeras outras belezas turísticas existentes, raramente um deserto faria parte do roteiro de algum viajante interessado em contemplar as “maravilhas” do mundo. Mas, caro leitor, e se DEUS o convidasse agora a passar alguns dias ou meses, ou anos, num deserto
total, onde a sua única correspondência fosse com o seu próprio interior? Se ainda não recebeu este convite da parte de DEUS, prepare-se! Seu dia pode estar bem próximo… Se você já está no deserto, aproveite agora essa oportunidade que DEUS lhe dá para aprender melhor a atravessá-lo e compreender quão maravilhoso é ser preparado para receber a promessa maior, que é o Reino dos Céus.

Na Bíblia Sagrada o deserto é palco de muitas narrativas, caracterizando-o como lugar de solidão, abandono, sem vegetação, quase inabitável, com perigos frequentes de fome, sede e serpentes. Nem sempre o termo recebe esse significado e pode não representar um lugar como o Saara ou o da Arábia, mas um mundo interior essencialmente solitário, tipo retiro ou isolamento. Para DEUS, o deserto constitui-se como um “habitat” incontaminável com o mundo, onde o homem, por força das circunstâncias, sente-se obrigado a se despir de suas vontades e de seus pecados (os quais o impedem de ouvir a voz do PAI), tornando-o um ser extremamente frágil e humilhado. O deserto confronta-se diretamente com os nossos anseios humanos: enquanto no mundo temos sede de conquistas, no deserto a principal lição é aquietar-se; viver na total dependência de DEUS. E aí consiste o nosso maior problema. Se DEUS lhe falar para escalar uma montanha e
alcançar o cume, você logo vai. Mas se ELE convidá-lo(a) a entrar no deserto, você talvez não aceite.

O deserto é lugar de experiências maravilhosas; um ambiente onde o homem esvazia-se de si mesmo e aprende a marchar contra a sua vontade interior. É onde o ser olha para um espelho invisível e o reconhece em sua mais profunda pequenez. O deserto abre os nossos olhos através de um vale de lágrimas. Estando em completo estado de dependência, é a hora de o homem experimentar os milagres de DEUS. DEUS fala ao coração dos seus filhos com mais intimidade no deserto. Foi por isso que o apóstolo Paulo escreveu: ”Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois quando estou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:10). DEUS só leva ao deserto aquele que ELE deseja provar, transformar e realizar um grande feito. Não há deserto sem provisão e sem propósitos grandiosos. Toda trajetória desértica só tem um fim para aqueles que marcham confiantemente em DEUS: vitória. Enquanto você marcha no deserto, DEUS endurece o coração dos teus inimigos para te perseguir, para te afrontar, para te injuriar. Eles até pensam que são fortes e poderosos; convocam um enorme exército para ir ao teu
encontro. Mas em toda guerra há um dia estabelecido por DEUS para cessá-la. É aí que o SENHOR sai da frente do seu povo para se posicionar atrás, exatamente à frente dos adversários. ELE diz: “não temas; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êxodo 14:13-14).

É terminantemente impossível caminhar sozinho no deserto, com suas próprias forças humanas, e não morrer no meio da caminhada. São tantas imagens sombrias ao redor que os olhos humanos não conseguem resistir. Por isso, DEUS também se preocupa em preparar um “Moisés” e um “Arão” para te pegar pelas mãos e seguir contigo. A relação de Moisés com os filhos de Israel foi, sobretudo, apaixonada (dos seus 120 anos, 80 foram vividos no deserto com a sua gente). Ninguém conseguiria passar 40 anos marchando ao lado do seu líder e não se apaixonar. É ele quem DEUS o capacitou para suportar os teus dias tristes, mais pesados, os teus dias maus, de angústias, onde até mesmo se pensa em desistir de viver. O teu “Moisés” DEUS já preparou. Descubra-o e entregue-se a ele. Ele será a voz de DEUS para a sua vida. Quando eu comecei a andar no deserto, sozinho, sentia-me completamente sem forças e sabia que, daquele jeito, não chegaria ao fim da jornada. DEUS também sabia. Foi por isso que ELE levantou um “Moisés” em minha vida, chamada Andréa Duarte, no Rio de Janeiro. Como minha vida mudou! Que bênção foi caminhar com Andréa! Pelo grande amor que ela nutriu por mim era impossível não me apaixonar. Com a minha “Moisés” aprendi a esquecer o problema que tanto me angustiava, a ter contatos com ela quase todas as noites, aprendi especialmente a ficar de pé e a ouvir a voz de DEUS: “Põe-te em pé e falarei contigo!” (Ezequiel 2:1). Minha vida passou a ser centrada em Andréa que, com muita sabedoria e paciência, soube me edificar nos momentos em que mais eu precisei. Hoje somos completamente apaixonados e ela ocupa um lugar de destaque em minha vida e em meu Ministério. Tudo o que DEUS falou a Andréa para a minha vida, ELE cumpriu.

A maior prova de nossa fé é sabermos esperar. No deserto, temos que esperar. É por isso que ele se torna tão difícil para nós. DEUS molda os seus filhos amados onde a contaminação pelas influências mundanas se torna impossível. Portanto, só é convidado a ir ao “deserto” para ser provado por DEUS quem ELE escolheu para servi-lO: “também no deserto vistes que o Senhor vosso Deus vos levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes até chegardes a este lugar” (Deuteronômio 1:31). No deserto aprendemos que, embora nos sintamos sozinhos, DEUS sempre está no nosso lado. Foi assim com o povo de Israel sob a liderança de Moisés: “Assim partiram de Sucote, e acamparam em Eta, à entrada do deserto. O Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite. Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem de dia, nem a coluna de fogo de noite” (Êxodo 13:20-22); com Abraão no sacrifício do seu único filho a caminho do “deserto” de Moriá: “e estendendo a mão, pegou no cutelo para imolar o filho. Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde o céu, e disse: Abraão! Abraão! Respondeu ele: eis-me aqui” (Gênesis 22:10-11); com José ao ser vendido como escravo no Egito: “vendo o seu senhor que Deus era com ele, e que tudo o que ele fazia o Senhor prosperava em suas mãos” (Gênesis 39:3); com Davi quando este fugiu da ira do rei Saul para uma caverna no deserto de En-Gedi: “este dia os teus olhos viram que o Senhor te pôs em minhas mãos nesta caverna. Alguns disseram que eu te matasse, porém a minha mão te poupou (…)” (1 Samuel 24:10); com Elias fugindo da ira de Jezebel (que havia matado muitos profetas e queria matá-lo também) e, em extremo desespero, instalou-se numa caverna. Quando ele pensava em morrer veio a presença do Senhor trazer a bênção inigualável, que só é possível contemplar quando não há mais forças,
mais recursos, mais nada. Enquanto Elias dormia pensando na morte como solução, um anjo, ao seu lado, preparava-lhe a comida fresca e saudável no fogo: “o anjo do Senhor voltou segunda vez, tocou-o, e lhe disse: levanta-te e come, pois muito longo te será o caminho. Levantou-se, comeu e bebeu. Com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus “(1 Reis 19:7-8). Nunca duvide da presença de DEUS quando as areias do deserto parecerem cobrir toda a sua vida. DEUS nos prepara para sermos co-herdeiros do Reino dos Céus: “Vê, eu te purifiquei, mas não como a prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por amor de mim faço isto (…)“ (Isaías 48:10-11).

Outras lições que você deve aprender no deserto: o próprio DEUS o colocará em combates grandiosos, como ocorreu com JESUS: “Então foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo” (Mateus 4:1). Mas como a Palavra Santa afirma: “Não veio sobre vós tentação, senão humana. E fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13). Por isso, permaneça firme e confiante porque grande será a sua vitória. E se nada mais lhe resta, transforme o seu deserto num grande concerto de louvor a DEUS. Através dos louvores, o Senhor lhe dará forças para prosseguir na caminhada. Lembre-se da vitória do servo Jó. Agora um detalhe muito importante: não confunda “deserto” com “prisão” espiritual. Os que estão amarrados em cadeias malignas ou não são do Caminho ou estão fora dEle. Vivem em completo domínio de satanás e foram entregues às imundícies do seu coração. “Deserto” é para quem precisa ser aperfeiçoado,
melhorado, cujo coração se encontra esperança, por menor que seja, de redenção. DEUS conhece aqueles que, em sua pouca força e pobre fé, almejam ser fortalecidos pelo Seu poder. São os que clamam dia e noite; os que perseveram; os que se humilham; os que choram; enfim, os que não se entregam nem desistem jamais.

No deserto de Daniel, DEUS tapou a boca dos leões. No de Jó, fê-lo receber em dobro tudo o que havia perdido. A duração do deserto de JESUS CRISTO não foi quarenta dias nem quarenta noites, mas todo o Seu Ministério, ao levar sobre si os desertos de todos os homens. Estar no deserto é motivo de alegria e um privilégio que é dado a poucos neste mundo. Não se pode chegar ao céu sem antes passar pelo deserto e ser aprovado. O deserto é a via única de acesso ao paraíso celestial; é onde a voz de DEUS ecoa como canção sublime aos nossos ouvidos. Se DEUS o convidar para esse “passeio” maravilhoso com ELE ou se já procedeu, alegre-se porque os olhos sagrados não querem que você se perca do alvo; e as mãos sagradas vão transformá-lo em vaso precioso. Por essa razão, JESUS, intercedendo pelos Seus servos, pediu a DEUS em Sua oração: “não peço que os tire do mundo, mas que os guarde do mal. Eles não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:15-17). ELE sabia que haveria ainda muitos desertos para os Seus Filhos atravessarem…

Amém, Senhor JESUS!!!

FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é líder do Ministério Famílias para Cristo.

Por Pr Euler P. Campos

08/12/2010

Módulo- 3 O Homem, Criação Especial, Mas...o homem é a obra especial da Trindade


Para introduzir

Os elementos de uma antropologia bíblica se oferecem nos estudos sobre alma, coração, carne, corpo, espírito. Segundo essa concepção sintética tão diferente da mentalidade comum de nossos dias, que vê no corpo e na alma os dois componentes do homem, o homem se exprime todo nos seus diversos aspectos. Ele é a alma enquanto animado pelo espírito de vida; a carne aponta nele uma criatura perecível; o espírito significa sua abertura para Deus; o corpo, enfim, o exprime exteriormente. A essa primeira diferença entre as duas mentalidades acresce uma outra, ainda mais profunda. Na perspectiva da filosofia grega, trata-se de analisar o homem, microcosmo que une dois mundos, espiritual e material; a Bíblia, a teologia, não vê o homem senão diante de Deus de quem ele é a imagem. Em vez de se encerrar num mundo natural e fechado, ela abre o cenário às dimensões da história, de uma história cujo principal ator é Deus: Deus que criou o homem e que, para o remir, se tornou ele próprio homem. A antropologia, já ligada a uma teologia, se torna inseparável de uma cristologia. Assim os variados comportamentos dos homens no curso da história sintetizam-se nas duas categorias do pecador e do homem novo. E essas últimas atualizam as duas figuras reveladas em momentos privilegiados da história sagrada: Adão e o Servo de Javé, e realizadas por Jesus Cristo. O tipo autêntico do homem vivo não é portanto Adão e sim Jesus Cristo; não é aquele que saiu da terra, mas o que desceu do céu; ou., antes, é Jesus Cristo prefigurado em Adão, o Adão celeste esboçado no Adão terrestre.
A Bíblia ensina, claramente, a doutrina de uma criação especial, que significa que Deus fez cada criatura “segundo a sua espécie”. Ele criou as várias espécies e, então, as deixou para que se desenvolvessem e progredissem segundo as leis do seu ser. A distinção entre o homem e as criaturas inferiores implica a declaração de que “Deus criou o homem à sua imagem”.
Em oposição à criação especial, surgiu a teoria da evolução que ensina que todas as formas de vida tiveram sua origem em uma só forma e que as espécies mais elevadas surgiram de uma forma inferior. O homem está incluído nesta teoria. Mas o que se entende por “espécie”? É uma classe de plantas ou animais que tenham propriedades e características comuns, e que se possam propagar, indefinidamente, sem mudarem essas características. Uma espécie pode produzir variedade, isto é, uma ou mais plantas ou animais isolados, possuindo uma peculiaridade acentuada que não seja comum à espécie em geral. Por exemplo, um tipo especial de cavalo de corrida pode ser produzido por processo especial, mas é sempre cavalo. Quando se produz uma variedade, e essa se perpetua, por muitas gerações, temos uma raça.
Os evolucionistas procuram unir o homem ao irracional, mas Jesus Cristo veio ao mundo para unir o homem a Deus. Ele tomou sobre si a nossa natureza, para poder glorificá-la no seu destino celestial. Jo 1:12: - “Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.
Aqueles que participam de sua vida divina chegam a ser membros de uma nova e mais elevada raça – sim, filhos de Deus! Porém, essa nova raça surgiu – “o homem novo” (Ef 2:15) – não porque a natureza humana evoluisse até à divina, mas porque a divina penetrou na natureza humana. E àqueles que são “participantes da natureza divina” (2 Pe 1:4), diz João na sua Primeira Carta 3:2: - “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos”.


A criação segundo a Bíblia

Após criar todas as coisas, no sexto dia, Deus criou o homem e a mulher, de uma forma diferente e cuidadosa. Deu-lhes alma racional e imortal. Dotou-o de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem. Escreveu em seu coração a sua lei. Com poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixado à liberdade da sua própria vontade, que era imutável. Gn 1:27-31:- “Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. 28 Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre todas as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. 29 E disse Deus ainda: Tenho-vos dado todas as ervas que produzem semente, e se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dá semente. Ser-vos-ão para mantimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres viventes que se arrastam sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento, E assim foi.31 Viu Deus tudo o que tinha feito, e que era muito bom. E houve tarde e manhã – o sexto dia”. (Cf Gn 2:7; Sl 8:4-5; Ec 12:7; Cl 3:10).


Conhecendo a natureza humana

Conforme Gn 2:7, o homem é composto de corpo – matéria - e alma. A alma é a vida do corpo. Quando a alma se retira, o corpo morre. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente”.
Mas conforme a carta aos Tessalonissenses e aos Hebreus, o homem é composto de espírito, alma e corpo: 1 Ts 5:23: - “…o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Cf Hb 2:12).
Estas afirmações não se contradizem. O espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual do homem. Embora distintos, o espírito e alma são inseparáveis um do outro. Por estarem tão interligados, as palavras “espírito” e “alma”, muitas vezes se confundem. Ec 12:7:- “... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu”. (Cf Ap 6:9).
Mas, onde está, então, a diferença? A alma é o homem como o vemos em relação a esta vida atual. As pessoas falecidas descrevem-se como “almas”, quando o escritor se refere à sua vida anterior. Ap 6:9-10: - “Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. 10 E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” – 20:4: - “Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos”.

“Espírito” é a descrição comum daqueles que passaram para a outra vida. Atos 23:9:- “Daí procedeu grande clamor; e levantando-se alguns da parte dos fariseus, altercavam, dizendo: Não achamos nenhum mal neste homem. E se algum espírito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus”. E 7:59: - “Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. (Cf Hb 12:23; Lc 23:46; 1 Pe:19).
Quando alguém é “arrebatado” temporariamente fora do corpo, se descreve como ”estando no espírito”. 2 Co 12:2: - “Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu”. (Cf Ap 4:2).

Sendo homem “espírito”, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo “alma”, ele tem conhecimento de si próprio; sendo “corpo”, tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo (Scofield). Vamos explicar melhor a distinção.

Espírito, alma e corpo

O ESPÍRITO é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas criadas. O homem é dotado de vida humana e inteligência que o distinguem da vida dos irracionais. Os irracionais têm alma, mas não têm espírito. Pv 20:27: - “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração”. (Cf Jó 32:8).
Diferentemente dos homens, os irracionais não podem conhecer as coisas de Deus e não podem ter relações pessoais e responsáveis com ele. 1 Co 2:11: “Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus”. E 14:2: - “Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios”. (Cf Ef 1:17).
O espírito do homem, quando se torna morada do Espírito de Deus, é centro de adoração, de oração, cântico, bênção de serviço. Jo 4:24: - “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”. (Cf Rom 1:9; 8:16; Jo 4:23-24; 1 Co 14;15; Fp 1:27).
A ALMA é aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo do homem, usando os sentidos físicos como seus agentes, na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o mundo exterior. Originalmente, a alma veio a existir, em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos descrevê-la como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No entanto, não podemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É mais correto dizer que é dom e obra de Deus. Zc 12:1: - “A palavra do Senhor acerca de Israel: Fala o Senhor, o que estendeu o céu, e que lançou os alicerces da terra e que formou o espírito do homem dentro dele”.
Devem-se notar quatro distinções: 1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como, a vegetal. Tanto os homens como os irracionais possuem almas. Gn 1:20: - “E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu”. A palavra “vida” é “alma” no original. Poderíamos dizer que as plantas têm alma – no sentido de um princípio de vida – mas não é uma alma consciente. 2 . A alma do homem o distingue dos irracionais. Estes possuem alma, mas é alma terrena que vive, somente enquanto durar o corpo. Ec 3:21: - “Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos brutos desce para a terra?” – 3. A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano. Existe a alma humana e existe a alma dos irracionais. Os homens fazem o que os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que sejam; a sua inteligência é de instinto, e não proveniente de razão.
Os seguintes nomes aplicam-se ao CORPO: a - casa, ou tabernáculo. É a tenda na qual a alma do homem peregrina, mora durante sua viagem no tempo para a eternidade. Na morte, desarma-se a barraca e a alma parte. 2 Co 5:1: - “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. (Cf Is 28:12; 2 Pe 1:13-14). - b – invólucro. O corpo é a “bainha” da alma. A morte é o desembainhar da espada. Dn 7:1: “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbavam”. - c- templo. O templo é um lugar consagrado pela presença de Deus – um lugar onde a onipresença de Deus é localizada. 1 Rs 8:27-28: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei! 28 Contudo atende à oração de teu servo, e à sua súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que o teu servo hoje faz diante de ti”.
O corpo de Cristo foi um “templo” porque Deus estava nele. Quando Deus entra em relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa torna-se o templo do Espírito Santo. Jo 2:21, quando da descrição do “barulho” que Jesus “aprontou” no templo, o evangelista termina: “Mas ele falava do santuário do seu corpo”. (Cf 2 Co 5:19; 1 Co 6:19).

O homem caiu na lábia...

O homem e a mulher, seduzidos por Satanás, pecaram, desobedecendo a Deus, em relação à árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Por este pecado, eles saíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado, e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma. Gn 2:16-17: “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. E no capítulo 3:1-13: “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? 2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, 3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. 4 Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis. 5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal. 6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. 7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. 8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. 9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás? 10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me. 11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi. 13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi”. Paulo, várias vezes, faz alusão a esta situação. Basta conferir Rm 3:23; 2Co 11:3; Ef 2:1-3; Tt 1:15.
Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus filhos - raça humana; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteriodade, que deles procede por geração ordinária. Gn 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Cf Sl 51:5 ; At 17:26 ; Rm 5:12-19; 1Co 15:21).

O pecado, a transgressão da justa Lei de Deus, torna culpado o pecador e, por sua culpa, ele está sujeito à ira de Deus e à maldição da Lei e, assim, exposto à morte com todas as misérias espirituais, temporais e eternas. Paulo é contundente nesta doutrina na carta aos Romanos 1:21-25: “...porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. 22 Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, 23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. 24 Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; 25 pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém”. – E no capítulo 2:15: “ ...pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os. E ainda no capítulo 3:9-19: “Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; 10 como está escrito: Não há justo, nem sequer um. 11 Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.12 Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. 13 A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; 14 a sua boca está cheia de maldição e amargura. 15 Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. 16 Nos seus caminhos há destruição e miséria; 17 e não conheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante dos seus olhos. 19 Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus”. (Cf Gl 6:5; Ef 2:2-3; Tg 1:14-15).

Por- Pr Euler P. Campos