Euler P Campos
COMEÇANDO
Hoje
é muito raro ouvir falar em cursos de teologia nas igrejas. Há inúmeros
projetos tentando acordar os cristãos evangélicos para o conhecimento da
Palavra de Deus – a Bíblia; para despertar os salvos ao trabalho no Reino; para
estimular à vida íntima com Deus através de eventos de adoração e louvor,
subida ao monte, campanhas de Jejum. Tudo é válido e, às vezes, eficiente. Mas, pode não ser sustentável para o
entendimento daquilo que se crê ou se faz; para a formação do caráter do
crente; para dar sentido à vida do crente; para a defesa do cristianismo; para
a propaganda do Evangelho; para fundamentar a prática cristã.
Crentes
evangélicos, desde o dia de seu novo nascimento, têm caminhado, “entre trancos
e barrancos”, o caminho da fé. Alguns, com segurança, porque sabem o que crêem e em QUEM crêem. A
eles tudo é possível, graças á certeza em um Deus que tudo pode. Para eles tudo
é vida! Neles não há dúvida e não há medo. Outros caminham o caminho da religiosidade
desvestida de espiritualidade adulta e qualificada. Mudaram de caminho e não
mudaram de objetivos. Buscam a novidade de vida sem a cruz e, não a curiosidade
do conhecimento que os faz adultos na
fé. Qualquer sedução do mundo os convence que a
promessa de Deus para sua vida não vai criar problemas com a promessa do
mundo. Em alguns casos, com a aprovação da liderança. Não estamos falando de
leis, mas de atitudes. E, há crentes
evangélicos que, na sinceridade do seu coração caminham preocupados com suas
dúvidas doutrinárias: como as relacionadas à predestinação e à possível perda
da salvação.
A
preocupação com o crescimento numérico das igrejas não está dando tempo nem despertando interesse em montar projetos de aprofundamento
do conhecimento racional das verdades bíblicas. O que se propõe, no mínimo, é manter as Escolas Dominicais, muitíssimo
importantes e que, aos poucos, estão sendo “fechadas”; o trabalho de células que
é válido para evangelização e convite a uma vida diferente em comunidade
eclesial; ou alguns eventos de palestras que misturam ensino e movimentos espirituais emocionais com poucos
resultados de um passo a mais no crescimento espiritual. Na realidade, ainda
pouco se faz para responder às questões vivenciadas por crentes evangélicos que
nasceram de novo e ainda continuam crianças.
Ao
ler o prefácio do “Manual de Teologia Sistemática”, de Zacarias de Aguiar
Severa, da A.D.SANTOS EDITORA, Curitiba – Paraná, fui também alertado pela
“desimportância” da Teologia presente em
nossas igrejas evangélicas, e mais, naquelas que são criadas por geração
espontânea da vontade do homem presunçoso, ou, seja, sem a aprovação do
Espírito Santo. Não muito facilmente podemos encontrar um crente evangélico e,
mesmo um líder, de argumentos firmes de
sua fé e de sua própria crença na Bíblia que ele lê todos os dias ou ministra.
Em alguns lugares ou para algumas tribos o conhecimento memorizado da Bíblia não
tem força de convicção. Não são os criativos eventos espirituais, agendados em
nossas igrejas, que garantem nossa perseverança na viagem que nos é proposta em
Hebreus 12. Outra observação: muitos dos eventos agendados pelas igrejas
objetivando amadurecimento e reponsabilização da vida cristã podem se tornar
eventos de lazer. Leia Hebreus 12:1ss:
“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por
tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do
pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é
proposta, tendo os olhos fitos em
Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta,
suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de
Deus. Pensem bem naquele que
suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem
nem desanimem. Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto
de derramar o próprio sangue”
Quando
fiz o seminário católico, após cinco anos de seminário menor e a decisão de
tornar-me sacerdote [padre] foi mais um tempo longo de estudos abrangendo três
anos de Filosofia pelo seminário [ao mesmo tempo fiz o curso universitário de Filosofia]
mais quatro anos de Teologia. Entre os cursos de Filosofia e o de Teologia,
ainda havia uma espécie de estágio de três anos, como professor em alguns colégios. E já formado sacerdote, fui
diretor de ensino nos colégios D. Helvécio, de Ponte Nova [MG], no salesiano em
Niterói [RJ] e Araxá [MG] e, ao mesmo tempo, exercia o sacerdócio. Estou
testemunhando esta história para afirmar que este empenho de formação
filosófica e teológica contribuía para o reforço das convicções de fé e
religião [Não gosto da palavra nem do
conceito “religião”. Mas por uma questão didática de entendimento vou
conservá-la nesta exposição]. É por isso que, se não for pelo Espírito
Santo, católico algum - muito menos um sacerdote católico - troca sua visão
pela visão do crente evangélico ou de
outras “religiões”, ainda que
acreditando em doutrinas contrárias á Bíblia, mas inventada durante o percurso
da História Cristã por razões suspeitas. A própria inquisição foi
disponibilizada para castigar os questionadores dessas invenções de mentes
perturbadas pelo poder.
Estimulado
pela leitura do prefácio do livro já mencionado, julguei-me no direito ou melhor na vontade e
no desejo de colocar uma colherzinha – cooperando – no processo de formação
projetado pelas igrejas em seus ministérios. Esta presunção também brota do meu
desejo que “este trabalho desperte os amados
para um maior e melhor conhecimento da razão da nossa fé, para a
formação de uma consciência mais cristã, para uma vida mais firme e segura nas
verdades eternas reveladas na Escritura, não se deixando mover por ensinos
heterodoxos e pelos relativismos da pos-modernidade” [Pr Zacarias de Aguiar
Severa].
Não
vou escrever um Manual de Teologia, mas tentar, em poucas linhas, mostrar o que
é Teologia e sua importância.
Primeiro: O QUE É TEOLOGIA
A. DEFINIÇÃO
A
palavra teologia vem de duas palavras
gregas: theós , [Deus] e logos
[palavra, assunto, tratado]. Então, no sentido etimológico, Teologia
quer dizer palavra, assunto ou tratado sobre Deus.
A.
H. Strong diz que “Teologia é a ciência
que trata de Deus e das relações entre Deus e o universo”. O termo ciência,
na definição de Strong, não é empregado em sentido restrito, como quando se
refere às ciências naturais. Ciência na Teologia, tem sentido mais geral,
querendo indicar conhecimento adquirido mediante os critérios válidos
empregados nos outros ramos do conhecimento científico, tal como a Sociologia,
a Ética, a História, e outros.
A
Teologia consiste em fatos relacionados com Deus e suas relações com o
universo, apresentados de maneira lógica, ordenada e consistente. O campo de
estudo é muito amplo e aberto: Deus e
suas relações com o universo. No enfoque teológico o homem está no centro
desse universo. É ele que pode refletir sobre a revelação que Deus dá de Si
mesmo, e elaborar uma explicação racional desses fatos, de modo orgânico e
consistente. Opa! Aqui. alguém pode estar torcendo o nariz por não aceitar em
seu espírito a expressão “explicação
racional” por compreender e aceitar uma “explicação
espiritual”. É bom que entendamos:
Deus revela seus mistérios e desejos a homens, em princípios racionais. A
homens que pensam e raciocinam. Deus não quer de nós uma fé não pensada. Mas,
se pensada, não a entendemos, nos
humilhamos na certeza que o Senhor não nos engane ou nos tapeie. Porque também
cremos que Deus não é “Deus de confusão –
nem de desordem – mas de paz” [1 Coríntios 14:33].
Uma
outra definição é dizer que teologia é o
estudo e a declaração cuidadosa e sistemática da doutrina cristã. Por
doutrina cristã entende-se “a declaração
das crenças mais fundamentais do cristão” [Erickson – Introdução à teologia
Sistemática]. A Teologia investiga criteriosamente e sistematiza os princípios,
as verdades básicas da que chamamos Religião Cristã. A Teologia deve ser
expressa no idioma contemporâneo, no contexto da cultura geral, relacionada com
a maneira de viver do homem. Daí o seu caráter dinâmico na sua forma de expressão
e na sua aplicação. Não entendam isso como se a Teologia distorcesse a Bíblia,
mas, sim, como coloca em ordem para nós os conceitos bíblicos que afetam nossa
vida cristã!
A
palavra Teologia pode assustar e
criar nas pessoas que a ouvem certa resistência, por parecer um termo ou um conceito
“bombástico” que exige palavras e idéias complicadas para a mente do homem
comum ou de pouco estudo. Tranqüilize-se quem assim julga. Porque a Teologia
deve e pode ser expressa com palavras de um linguajar que facilite o
entendimento de quem possa ter certa dificuldade. É possível traduzir a
linguagem da Ciência Teológica para
uma linguagem acessível às limitações da mente humana.
B. DISTINÇÃO ENTRE TEOLOGIA E OUTROS ESTUDOS
AFINS
* “afins” igual: que
apresenta afinidade; relativo ao parentesco de afinidade; semelhante
Para
melhor compreensão da natureza da Teologia, precisamos observar a distinção que
há entre ela e algumas outras disciplinas semelhantes.
1.
TEOLOGIA E RELIGIÃO
A palavra religião,
para alguns, deriva de religare [em latim: ligar de novo], e significa religar o homem a Deus. Outros, como
Cícero, senador do Império Romano, bem antes dos tempos de Cristo, entendem que
a palavra vem de relegere [também em
latim: considerar, rever, retomar o caminho].
O
termo religião tem sido usado para
expressar idéias cristãs e não cristãs.
Entre os cristãos, o conteúdo essencial da religião já foi expresso por alguns
filósofos, em termos de conhecimento
intelectual, sentimento de dependência, ética. Nenhum desses conceitos,
entretanto, é adequado.
Num
sentido mais amplo do termo, podemos dizer que religião é a vida do homem nas suas relações com o poder soberano e
sobrenatural do universo. Esse relacionamento baseia-se em conceitos diferentes
da realidade sobrenatural, assume formas diferentes e materializam a religião
na vida prática de cada povo. O perigo e a armadilha da religião é criar e
impor conceitos e atos “berrantes” aos
seus seguidores.
O
forte em qualquer religião, inclusive, na cristã é o estabelecimento de leis
para a avaliar a dignidade , o mérito e até, mesmo, a “santidade de seus
crentes”. Para usar o mesmo termo, a Religião
Cristã está acima de qualquer outra religião do mundo, porque nela encontra-se
a ideia mais esclarecida, desenvolvida e correta acerca de Deus e suas relações
com o mundo e do meio de se cultivar uma relação efetiva com o sobrenatural,
dada a revelação especial que temos nas Escrituras. Disse antes e confirmo:
ainda que não concordando com o termo “religião”, por razões didáticas, aqui,
vou conservá-lo.
Em
algum lugar, Jesus expressa que sua religião é fazer a vontade do Pai. Vejam algumas de suas afirmações: “Nem todo aquele que me diz: “Senhor,
Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” [Mateus
7:21]. “A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou e concluir a sua obra” [João 4:34]. Várias outras
citações são encontradas nos Evangelhos. Por isso, eu creio que a religião do
crente evangélico é a VONTADE DO PAI e o seu [do crente evangélico] culto é a
OBEDIÊNCIA.
Um
parênteses: Há uma
verdade nem sempre descoberta e clara na mente e na alma do crente evangélico e
que eu gostaria de descrever. Se a vontade de Deus se pormenoriza em diversas
expressões como predestinação, eleição, vocação, libertação, promessas,
castigos, salvação, convém mostrar como a Vontade de Deus, fazendo-se no céu,
deve ser feita na terra [Mateus 6:10]; como a Vontade de Salvação, eficaz por
si mesma, ela – a Vontade de Deus - se encontra com a vontade do homem, a qual
ela não suplanta e, sim, torna perfeita. Para se chegar a isso, é preciso que
Deus triunfe da maldade do homem e obtenha a comunhão das vontades. Deus quer.
E o homem precisa querer. Fecha parênteses.
Para
realçar mais o que está em nossa mente teológica, confira, agora, em Atos 17:24-28: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da
terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido
por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a
vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos os povos, para que
povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos
e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que o homens o
buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de
cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como disseram
alguns dos poetas de vocês: “Também somos descendência dele”.
Vamos
em frente: Strong conceitua a religião cristã dizendo: “Em
sua ideia essencial, religião é uma vida em Deus, uma vida vivida em
reconhecimento de Deus, em comunhão com Deus, e sob o controle do Espírito de
Deus habitando no crente”.
A
Teologia se relaciona com a Religião, mas dela se distingue, tal como a
Botânica está relacionada com a vida das plantas mas é distinta dela. A
Teologia estuda as verdades que na religião o homem procura vivenciar e
expressar em atitudes e ações. Assim
como a religião é um fenômeno natural na vida do ser humano, por isto, também, um fenômeno universal, assim, a Teologia, que surge da necessidade de se
explicar o que se crê na religião, é inevitável e imprescindível para a vida
humana.
2.
TEOLOGIA E APOLOGÉTICA
Apologética
significa um discurso sistemático e argumentativo na defesa da origem e da
autoridade da fé cristã. A Apologética tem como propósito justificar a religião
cristã diante das ideias contrárias e provar sua veracidade. O propósito da
Teologia é outro: conhecer e expor o conteúdo e o significado da fé cristã para
fins práticos. A Apologética é uma disciplina e a Teologia, uma ciência.
Enquanto
a Teologia expõe à razão o conhecimento da revelação das verdades bíblicas de
Deus e, assim, nos dar firmeza na caminhar da fé que nos é proposta, a
Apologética se apresenta como uma arma de defesa contra as aberrações doutrinárias
bíblicas e contra os ateus e os questionadores e, também, os inseguros cristãos
neófitos e adultos. É verdade que o uso dessa arma pode, em vez de gerar convencimento,
gerar guerra. Isto se a razão falar mais alto que o Espírito Santo.
Mas
Apologética precisa ser conhecida. Na carta de Judas, versos 3 e 4 , está
escrito: “Amados, embora estivesse muito
ansioso por lhes escrever acerca da salvação que compartilhamos, senti que era
necessário escrever-lhes insistindo que batalhassem pela fé de um vez por todas
confiada aos santos. Pois certos homens, cuja condenação já está sentenciada há
muito tempo, infiltram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios,
e transformam a graça de Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único
Soberano e Senhor”. Temos que admitir que este texto, dificilmente é
assunto de pregação ainda que, em algumas tribos eclesiais, a própria graça da
salvação está sendo usada como um aval à libertinagem!
Não
faltam na Bíblia textos que nos impelem ao estudo da Apologética Cristã –
defesa da fé – para que possamos fazer frente àqueles que pervertem o
Evangelho. Judas declara que nutria o desejo de escrever um tratado sobre a
salvação, porém, sentiu necessidade – obrigação – de insistir que os santos
batalhassem pela fé que lhes fora confiada. Judas também nos orienta a termos “compaixão daqueles que duvidam; a outros,
salvem, arrebatando-os do fogo” [22-23]. Isto significa que, mesmo em meio
aos hereges, há aqueles que buscam a verdade com sinceridade. Paulo, por sua
vez, considera que a liderança eclesiástica tenha domínio das evidências
cristãs, para que sejam capazes “de
encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela” [Tito
1:9]. A Timóteo, o mesmo Paulo aconselha a ser manso com os que resistem, para
ver se por ventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade [2
Timóteo 2:25. Martinho Lutero escreveu:
“Se não houvesse seitas, pelas quais o diabo nos despertasse,
tornar-nos-íamos demasiadamente preguiçosos, dormiríamos roncando para a morte.
A fé e a Palavra de Deus seriam obscurecidas e rejeitadas em nosso meio. Agora
essas seitas são, para nós, como esmeril para nos polir; elas nos amolam e
estão lustrando nossa fé e nossa doutrina, para se tornarem limpas como um
espelho brilhante. Também chegamos a conhecer Satanás e os seus pensamentos e
seremos hábeis em combatê-lo. Assim, a Palavra de Deus torna-se conhecida. Por
meio desta luta entre o que é errado
e o que é certo muitos chegam a conhecer a verdade, e por ela são fortalecidos”
(Tirado do livro “Martinho Lutero, o grande reformador]
3.
TEOLOGIA E FILOSOFIA DA RELIGIÃO
A
Filosofia da Religião investiga a natureza e os fundamentos das crenças
religiosas. Trata de problemas tais como a origem, a natureza e a função da
religião na vida do homem. Investiga a verdade e o valor da interpretação
religiosa no mundo.
Quanto
à Teologia, a sua maior consideração é com os aspectos práticos da religião na
vida, e busca interpretar o cristianismo mais em minúcias. Assim como existe a
disciplina Filosofia da Religião, existe também Psicologia das Religiões e
outras ciências que mexem com a Religião. Há um livro bom para se ler, embora
difícil para se entender, de título “Religiões e Psicologia”, de Samuel Costa,
Editora SILVACOSTA. Já faz um tempo que o li.
Nele encontramos tanto uma descrição da expressão religiosa do judaísmo,
cristianismo e outras religiões, como também o estudo e a análise não do
sobrenatural e, sim, do comportamento do homem religioso.
4.
TEOLOGIA E ÉTICA
A Ética Cristã investiga as obrigações morais
do homem à luz do cristianismo para a vida do homem. Na Teologia, muitas vezes,
observamos o efeito ético de uma doutrina, mas este não é o único objetivo, e
nem é sempre o principal interesse imediato ao considerar-se uma doutrina. A
Ética Cristã é específica e restrita, ao passo que a Teologia tem uma
abrangência maior no espaço do conhecimento.
Há
um parâmetro muito prático [uma constituição de poucos artigos] com o qual se
pode comparar a ética de todo crente cristão. Está lá, no Evangelho de Mateus
5,6 e 7. Os artigos são: As bem-aventuranças. Sal da terra e Luz do mundo. O
homicídio. O adultério. O divórcio. Os juramentos. A vingança. O amor aos
inimigos. A ajuda aos necessitados. A oração. O jejum. Os tesouros no céu. As
preocupações da vida. O julgamento ao próximo. A persistência na oração. A
portas estreita e a porta larga. A árvore e seu fruto. O prudente e o
insensato. Esta é a “constituição” que nos julga e nos julgará. E a Teologia
pode nos dar discernimento, sabedoria para nos dar entendimento e segurança na
fidelidade a esta “constituição” criada pelo próprio Jesus.
Segundo: IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA
1.
NEGAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA
Muitas vezes tem se negado a importância do
estudo da Doutrina Cristã ou da Teologia, alegando-se que o que importa é a
vida com Deus, a experiência ou a fé. Esta é uma posição equivocada do
cristianismo. Muitas e possíveis razões
para essa negação da importância da teologia são evidentes no dia a dia do
crente e na mente de lideranças. No momento apresento somente três que podem
não ser as mais sérias mas que têm seu peso.
A.
Uma ênfase exagerada na doutrina em contraposição ao cuidado com o caráter
cristão, evangelização e serviço social, que por vezes tem-se verificado na
história da Igreja.
B.
O dogmatismo sobre vários aspectos da religião, que resultam em atritos, rejeição, confusão doutrinárias e
desinteresse pela doutrina e por questões especulativas, preferindo-se os
aspectos práticos da vida cristã.
C.
A falta de conhecimento do que seja Teologia ou Doutrina, seus objetivos e
efeitos na vida cristã.
Estas
razões merecem uma reflexão ou análise. O que vamos tentar fazer.
Ênfase exagerada [A]. Quero, agora, fazer uns
comentários. Em parte, esses argumentos se justificam. É verdade que, quando
chegarmos diante de Deus ele não irá fazer conosco uma sabatina para avaliar
nossos conhecimentos da doutrina cristã. Não são doutrinas que irão abrir as
portas do céu e nos qualificar para uma posição melhor à direita ou à esquerda
do Trono de Deus. Nosso acesso ao lado do Senhor Jesus estará condicionado ao
grau de amor e obediência que praticarmos em vida. É também verdade que os capítulos 5, 6 e 7 de
Mateus - um verdadeiro manual de formação do caráter cristão - não são muito
lembrados nem pelos pregadores e nem pelos crentes cristãos. Prefere-se que se
exaltem aqueles textos que nos lembram de bênçãos de todo o tipo. Eu creio que
somente a obediência aos mandatos do amor [muitas vezes, uma porta estreita]
traduzidos em prática nos abrirão a
porta larga do Reino Celestial. Mas, o conhecimento e o entendimento das
doutrinas teológicas dão sentido e firmeza a nossos propósitos.
Dogmatismo [B]. É também verdade que o
dogmatismo sobre alguns aspectos doutrinários tem sido usado como forma de
manter os membros no freio, como também motivos de rejeição, de preconceitos
entre as várias igrejas congregacionais. Muitas igrejas se qualificam como as diferentes e verdadeiras, porque se
firmam em doutrinas, quase sempre heterodoxas. Acontecem escândalos absurdos
para a sociedade a que se anuncia o amor de Cristo e morte ao amor entre os
irmãos, filhos e servos do mesmo Pai. Nenhuma doutrina pode matar o amor. Mas o
amor pode conviver entre os que pensam diferente. O amor não pode ser impedido
de passar por cima de qualquer tipo de impedimentos racionais, naturais e
espirituais. É meio complicado afirmar,
mas, vamos lá: Deus prefere você falho na doutrina mas não falho no amor. O amor cobre todos os pecados!
Se, agora, falei uma heresia que o Espírito Santo conserte! Eu sei que Ele me
entendeu!
A falta de conhecimento [C]. A falta de conhecimento do que
seja Teologia ou doutrina pode ser resolvido pelo empenho do pastor zeloso pelo
crescimento espiritual de suas ovelhas. Se deve existir um propósito na ação do
ministério pastoral é fazer de suas ovelhas as mais qualificadas em
conhecimento da Palavra, da Doutrina que as tornam mais íntimas de Deus e mais
próximas das pessoas. A Teologia precisa ser vista como a luz que revela as
verdades da Bíblia.
2.
RAZÕES DA IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA
Vamos começar com um alerta de Deus em Oseias
4:6 – “Meu povo foi destruído por falta
de conhecimento”. Falta de conhecimento é ignorância. Ignorância é pobreza.
Se é lamentável a ignorância no mundo dos homens naturais, pior e maior é a
ignorância no mundo dos homens espirituais. Na própria Palavra de Deus, nem
toda ignorância, sem arrependimento, é perdoada ou levada em conta. O grande
propósito da grande comissão [Mateus 28:16-20] é destruir todo tipo de
ignorância que afete a descoberta da Verdade e o crescimento dos homens que
fazem o Reino de Deus.
São
muitas as razões que definem a importância da Teologia. Mas porque nosso
objetivo não é escrever um TRATADO DE TEOLOGIA para crentes [também não temos
competência para tal empreendimento] queremos mostrar algumas poucas razões.
A.
A TEOLOGIA SATISFAZ A MENTE HUMANA.
É
da natureza da mente humana querer raciocinar e entender aquilo que se crê ou
se faz. Na verdade, no mundo dos crentes, não se pode aceitar viver uma fé cega
ou agir de forma inconsciente.
Entre parênteses: haverá questões de relações
espirituais nossas com Deus que precisaremos nos humilhar e aceitá-las como mistérios, porque nem a própria Teologia
saberá explicar. Fecha parênteses.
Se
a Teologia é a sistematização [organização] dos princípios, das doutrinas, das
verdades básicas da fé que professamos –
vivemos -, é indispensável que tenhamos um estudo técnico e teórico daquilo que
aceitamos e reputamos como sendo de absoluto valor para a nossa existência. Não
podemos separar os aspectos práticos da vida cristã dos aspectos teóricos. A vida humana requer essa base teórica em que
repousa nossa atitude e ação. Enfim, “o
estudo da doutrina é uma expressão de amor ao Senhor através de nossas mentes”. Afirmação esta
lembrada e confirmada em Mateus 22:37. Leia o que saiu da boca de Jesus: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu
coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento [sua mente, com
toda a mente]”. Em síntese: provar que ama a Deus é mostrar, também, a vontade
de conhecer a doutrina que vem da sua Palavra.
B. A TEOLOGIA AJUDA NA FORMAÇÃO DO CARÁTER.
Eu julgo está nesta razão,
aparentemente surpreendente, uma novidade feliz. As verdades incorporadas ao
nosso conhecimento afetam nosso caráter. Nem todo conhecimento nas diversas
áreas da vida [magistério, medicina, psiquiatria, psicologia, filosofia,
informática e outros] tem força para moldar o caráter de um homem. Todavia, eu
quero enfatizar uma questão: é verdade que a salvação aceita com vontade
convicta afeta a personalidade do que crê em todas as suas áreas de relacionamento familiar, profissional, social espiritual. A
salvação aceita, conforme Romanos 10:9-10,
faz do salvo um homem e uma
mulher de personalidade forte e segura.
Não tenho um pingo de dúvida: o foco da Teologia é a formação do CARÁTER
ESPIRITUAL do crente cristão. Isto fazendo dele alguém de personalidade firme e
destacada em qualquer circunstância de sua vida, sem medo de ser
verdadeiro na fé, incapaz de negar e não se envergonhar do Evangelho. Aqui Paulo é
exemplo: “Não me envergonho do evangelho,
porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele crê” [Romanos 1:16]. Por isso, sim, cremos que o conhecimento de
Deus e das relações entre Deus e todas as coisas é o máximo dos fatores na
formação do caráter do crente cristão. O desenvolvimento da vida do cristão, em
seu todo, depende do conhecimento da Verdade de Deus. Leia o que Pedro escreve
em sua segunda Carta 1:2-8:
“Graça e paz lhes sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e
de Jesus, o nosso Senhor. Seu divino poder nos deu tudo de que
necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Dessa maneira, ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas,
para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e
fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à
virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao
domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em sua vida,
elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo,
sejam inoperantes e improdutivos”.
É
pelo nosso caráter imagem e semelhança de Deus que este Deus é e será
conhecido, buscado e amado. É pelo caráter que se conhece o homem. É pelo
caráter de Deus impresso que se conhece um homem de Deus que contamina, atrai e
arrasta os perdidos em suas perdições evidentes e escuras.
C.
A TEOLOGIA SERVE PARA A PUREZA E DEFESA DO CRISTIANISMO.
Na sua caminhada histórica, a doutrina cristã sempre
esteve sujeita a ataques e contaminações de superstições, imoralidades,
correntes de pensamentos filosóficos, científicos e religiosos. Quem conhece a História
da Igreja, conhece também o tanto de
“besteragem” doutrinária que fez da Igreja uma torre de Babel
doutrinária. Um processo que, a cada dia que vamos chegado para o fim, vai
crescendo!
Uma
Teologia fundamentada na Bíblia é necessária para combater esses ataques e
preservar a pureza da verdade cristã. O ministro de Deus tem o dever de
denunciar o falso ensino e defender a verdade. Entre em sua memória e busque o
que está escrito em 1 Timóteo 1:3ss:
“Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não
mais ensinem doutrinas falsas, e que deixem de dar atenção a mitos e
genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra
de Deus, que é pela fé”. Aproveite e leia também Hebreus 13:9: “Não se deixem levar pelos diversos ensinos
estranhos...”. E segue em 2 João 9-10: “Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele,
não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho. Se alguém
chegar a vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em casa nem o saúdem”.
D.
A TEOLOGIA AJUDA NO ANÚNCIO DIÁRIO DO EVANGELHO
Onde
não há uma base doutrinária segura e firme, um fundamento teológico consistente,
a Igreja perde sua capacidade militante. Para se propagar o Evangelho na sua
inteireza é necessário ter alguma compreensão inteligente do seu conteúdo e
significado e ser capaz de dar uma explicação inteligível da verdade a outrem. Podemos
conhecer a Bíblia “de cor e salteado” mas, mesmo assim, não estarmos seguros em
argumentações para convencer o outro do que cremos e do que vivemos.
Mas aquele que não tem preguiça mental e
espiritual encontra na Teologia uma
arma poderosa no ministério
evangelístico. Paulo lembra Tito esta certeza: “... e apegue-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi
ensinada, para que seja capaz de
encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela” [Tito 1:9].
Uma
das grandes necessidades da Igreja, desde os seus inícios é o seu
doutrinamento. Paulo já havia
diagnosticado essa necessidade e, por isso, escreveu à Igreja de Éfeso 4:14: “O propósito é que não sejamos mais como
crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para
lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem
ao erro” .
Os
líderes – apóstolos, pastores, presbíteros e diáconos – são responsáveis por
essa firmeza doutrinária. Meu pensamento é que todo aquele que é chamado ao
ministério de pastoreio e ensino precisaria constar em seu currículo seu caráter
de um homem e mulher de Deus seguros pelo seu conhecimento doutrinário, e não
somente pelo seu conhecimento bíblico ou pela sua prontidão de “pau para toda obra” na igreja
local.
E.
A TEOLOGIA FUNDAMENTA A PRÁTICA CRISTÃ.
A
prática cristã é parte indispensável do caráter do crente cristão. A doutrina é
o conteúdo da fé e a base de toda a prática cristã. O apóstolo Paulo, em suas
cartas, sempre, antes de apelar para a prática da vida, oferece, primeiro, uma
explicação doutrinária da verdade. Quanto mais conhecemos a verdade, tanto mais
entusiasmo vamos ter por ela, e mais comprometidos com ela ficamos. Para uma
vida consagrada e santa, é imprescindível um bom conhecimento doutrinário.
Conhecerá a Verdade e a Verdade o libertará e lhe dará segurança na palavra e
nos gestos em todo lugar onde você for colocado, por alguns minutos, por
algumas horas, por alguns dias e por alguns anos.
Há
grande necessidade de se compreender a Teologia cristã, tanto para a vida pessoal do crente, como para o
cristianismo em si e para o ministério cristão. O mundo está em crise de
verdades fundamentais. A Teologia cristã
pode ajudar na resposta às indagações mais profundas do ser humano. É nosso
dever conhecer toda a verdade e ajudar os que estão na dúvida.
TERMINANDO
Prática
cristã traduz vida cristã. Quando enunciamos que a Teologia dá base à prática
cristã é o mesmo que dissermos dá base à vida cristã. E vida cristã tem um
sentido. Quero terminar alertando para a responsabilidade do sentido da vida
cristã.
Se
formos garimpar na Palavra de Deus vamos encontrar preciosidades definem o
SENTIDO DA VIDA CRISTÃ. De fato, uma vez
proposto o Evangelho aos homens pela palavra de alguém experimentado, eles têm
que fazer uma escolha que determinará sua sorte: a salvação ou a perdição, a vida ou
a morte. Os que crêem e confessam a sua fé se salvam, sendo aliás a sua fé
selada pela recepção do batismo que é uma verdadeira experiência de salvação.
Deus os salva por pura misericórdia, sem considerar suas obras, por graça,
dando-lhes o Espírito Santo. A partir desse momento, o cristão deve guardar com
fidelidade a Palavra que pode salvar sua alma; deve alimentar sua fé pelo
conhecimento das Escrituras e fazê-la frutificar com boas obras; deve trabalhar com temor e
tremor para completar sua salvação. Isto supõe um exercício constante das
virtudes salutares, graças às quais ele crescerá com vistas à salvação. Não se
permite negligência alguma; a salvação se oferece a cada instante da vida; “é
agora o Dia da salvação” [2 Coríntios 6:2].
Aguardo
observações e não elogios. Por favor!
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