Euler P Campos – Ministério Sal da Terra –
Uberlândia MG
APRESENTAÇÃO
O
Livro de Neemias é continuação da história dos judeus que retornaram a Judá
após o cativeiro babilônico. O nome do livro é o da figura principal, o determinado
Líder [governador] Neemias. Era uma espécie de Ministro da Casa Civil da corte persa de
Artaxerxes., porque por ele passavam quase todas as decisões do reinado. Com
toda esta autoridade, ainda o preocupava a situação de sua cidade Jerusalém a
qual amava de paixão e compaixão. Todo o peso de seu serviço na corte não
conseguia se desligar do seu povo desesperançado. Esta sensibilidade era tão
forte que, ao receber notícias das situações desastrosas de sua cidade, não
titubeou e pediu licença do cargo para que pudesse ir e reconstruir os muros de
Jerusalém.
Chegou
em Judá pelos anos 446 a.C., aproximadamente 100 anos após o primeiro grupo de
exilados ter retornado. Neemias, com a arma de sua paixão, levantou o astral dos judeus para o projeto de restauração de
Jerusalém, o que exigia determinação para resistir firmemente à oposição dos
povos vizinhos. Com o poder de seu carisma de Líder sábio e a força dos braços
de seus liderados, conseguiu ver a Cidade Santa novamente cercada por muros.
Os
muros, no mundo antigo, era a “tecnologia” da segurança. Para tomar uma cidade
a estratégia era derrubar os muros. Lembrem-se da espetacular tomada de Jericó[1]. Com a
ajuda de Esdras, reforçou as leis do Antigo Testamento, novamente ignoradas
pela comunidade. Depois de um tempo, voltou para prestar contas ao rei. O
último capítulo do livro nos conta que ele retornou como governador pela
segunda vez, provavelmente cerca de 433.C., somente para encontrar e corrigir
os mesmos abusos que existiam antes do seu primeiro período como Líder governador.
Neemias
tem sido considerado um dos livros favoritos da Bíblia, pois ele nos mostra o
como um indivíduo apaixonadamente comprometido pode levantar e transformar uma
sociedade com a auto-estima derrubada. Alguns consideram Neemias como um dos
mais firmes e admiráveis heróis [eu prefiro Líder] do Antigo Testamento. A
verdade desta avaliação é tão segura que livros têm sido escritos, mostrando
Neemias como modelo de Liderança em todas as áreas da atividade humana. Foi
esta percepção dos especialistas em Recursos Humanos que nos despertou a
trabalhar um artigo que despertasse na Igreja – ou quem interessar possa - uma
liderança comprometida com o Reino de Deus, tendo como referência Neemias,
Homem de Deus, que busca no Senhor os princípios para o exercício de sua
Liderança. Isto, sabendo que, com certeza não estávamos trazendo novidades.
Atrás deste objetivo vinham à mente chamadas de alertas aos que têm ouvidos e
querem ouvir. Para o que nos propunha não foi necessário percorrer todo o Livro
de Neemias. Amarramo-nos nos quatro primeiros capítulos o que resultou nos
tópicos a seguir.
Não
queremos nos alvorar em mestre de
mestres. Quem somos nós?! Mas faço dois pedidos: 1. nos faria um grande favor
aquele que ler nos enviar comentários críticos. Só alérgico a comentários elogiosos.
Ainda mais não sou estrela do mundo evangélico; 2 Quem ler e achar
aproveitável, por favor, envie a seus amigos, lembrando que quem deve ser
reconhecido não somos nós mas, o Senhor único de honra e de glória. Só
esperamos que o tenhamos envergonhado com estas idéias.
Introdução
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QUEM
É NEEMIAS
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CONHECENDO
OS PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA SEGUNDO NEEMIAS
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Primeiro:
LÍDER É UM HOMEM DE VISÃO
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Líder Cristão
Deve Ter Uma Visão Clara.
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Líder Cristão Se
Sente Comprometido Com A Sua Visão
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Segundo: LÍDER NÃO ARRISCA
SEM PLANOS
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Líder Cristão Busca A Ajuda De Deus E Das Pessoas
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Líder Cristão Tem Alvos Possíveis
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Terceiro:
LÍDER É PERVERANTE E DETERMINADO
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Líder Cristão
Atrai E Forma Discípulos
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Líder Cristão Se
Recusa A Ficar Desanimado
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Conclusão
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[1]
Josué 6
INTRODUÇÃO
Uma
observação inicial: a palavra “líder” neste estudo significa qualquer membro da
igreja que tem a função de coordenação. Isto é, pastor presidente da igreja,
pastores auxiliares, presbíteros, diáconos, líderes de qualquer ministério na
igreja.
[Antes
de continuar, eu gostaria de sugerir a todos que exercem alguma liderança em
qualquer área, não só na igreja, a leitura do livro “NEEMIAS, A DINÂMICA DA
LIDERANÇA EFICAZ” de Cyril J. Barber, da
Editora Vida. Várias vezes, nós nos recorreremos a ele neste estudo breve]
Aos
Líderes das igrejas evangélicas podem e devem ser feitas outras perguntas: Você
tem certeza que está no lugar determinado por Deus? Você tem certeza que o foco
atual do seu ministério bate com o projeto de Deus? Você desenvolve todo o seu
conhecimento e os seus dons espirituais
a serviço do chamado? Quais passos você tem dado para o exercício do ministério
dentro da visão de Deus e da igreja local? Você é daqueles que se satisfazem
com o que está sendo feito ou daqueles que
estão sempre prontos a novos desafios? Você como Líder se preocupa e age para
formar discípulos? Você tem facilidade em estar sob lideranças? Qual o lugar
que seus liderados ocupam em seus pensamentos e no seu coração?
E
muitas, muitas e muitas perguntas são possíveis. Mas toda e qualquer Liderança
do mundo do governo, do trabalho e do social e do mundo espiritual tem princípios
a descobrir e muito a aprender com Neemias. Principalmente, a aprender com ele
a ser um apaixonado pelos seus discípulos e sábio em trabalhar com todos os que
foram escolhidos para, juntos, restaurar Jerusalém.
Na
leitura do livro de Neemias, inspirado pelo Espírito Santo, assim como os
outros o são, podemos encontrar o que gostaríamos de saber e precisamos saber.
Nele estão princípios os quais Líder algum nunca pode ignorar. Nele aprendemos
lições fundamentais como planejar o
trabalho, organizar o tempo e os
recursos, integrar tarefas no desenvolvimento
do corpo total da igreja, motivar a
outros, e avaliar os resultados. E
saber ainda da importância de estabelecer
alvos realistas, e o que fazer antes de atingir os objetivos.
Outras
lições práticas aprendemos quando lemos com os olhos e os ouvidos o livro de
Neemias. A Bíblia tem força de transformação quando lida com os olhos, com os
ouvidos [sentir a voz de Deus], com a boca [ruminar as palavras] e com o
coração [guardar as palavras]. È surpreendente como Deus já previu os problemas
daqueles que estão na Liderança. Ele nos ensina como lidar com a oposição crítica
e invejosa e as crises[2] e
rebeldias dos liderados. Explica a diferença entre “líder de tarefa” e o
“especialista sócio-emocinal”. Demonstra-nos o que devemos fazer quando
assumimos uma nova Liderança. Dá-nos exemplo de como agirmos em situações
delicadas e difíceis, como relações de rebeldias, relações conjugais, relações
pais e filhos, O contato com o livro de Neemais nos leva ao que Paulo escreveu
aos Colossenses: “Tudo o que fizerem,
seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio
dele graças a Deus Pai [...] Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como
para o Senhor, e não para os homens...”[3]
Uma
sugestão: Quando você ler este estudo não deixe de ler também as citações
indicadas no pé das páginas.
QUEM É NEEMIAS
Neemias[4] era
provavelmente da tribo de Judá[5], e pode
ser que fosse até descendente do rei Davi.[6] Ele se
apresenta como “o filho de Hacalias”[7]. Nada se
sabe de seu pai, por isso concluímos que ele tenha sido levado cativo, quando
Jerusalém caiu nas mãos dos babilônios. É provável que Neemias tenha nascido no
cativeiro e foi cercado por todas as influências corruptoras do antigo Oriente
Próximo[8].
Quando
encontramos Neemias, ele está servindo como copeiro do rei[9] em Susã,
principal palácio e residência de inverno do monarca. Como copeiro, ele se
encontra em posição singular. Exerce ao mesmo tempo os cargos de primeiro-ministro
e mestre-de-cerimônias[10]. O
temor de intriga e a ameaça constante do assassínio do rei faziam com que ele
vivesse uma vida muito recolhida e discreta. Era, portanto, natural que o rei
se achegasse a um homem de sabedoria, discrição e habilidade[11]. Um
copeiro com os interesses do rei no coração[12], que se
mantinha atualizado, poderia exercer grande influência sobre o seu soberano.
Além de provar o vinho do rei, ele também era responsável por guardar os
aposentos reais. Era um homem de casa!
Quando
Neemias começa seu relato, ele conta de uma visita que recebeu de seu irmão
Hanani[13]. Diz
ele: “No mês de quisleu [aproximadamente
novembro/dezembro], enquanto eu estava na cidade de Susã, Hanani, um dos meus
irmãos, veio de Judá com alguns outros homens, e eu lhes perguntei acerca dos
judeus que restaram, os sobreviventes do cativeiro, e também sobre Jerusalém. E
eles me responderam: “Aqueles que sobreviveram ao cativeiro e estão lá na
província passam por grande sofrimento e humilhação. O muro de Jerusalém foi
derrubado[14],
e suas portas foram destruídas pelo fogo”.
A
informação que Neemias recebe é desalentadora. Todas as tentativas de
reconstruir o muro foram frustradas[15]. Ele
sabe que uma “cidade sem portais com trancas e muralhas bem altas não é
cidade”. Está sem defesa e não pode oferecer proteção aos que se encontram
nela. Como resultado, poucas pessoas moram na capital[16].
Mas,
porque os judeus se encontravam em condições tão deploráveis? O que aconteceu
com o povo de Deus desde o estabelecimento do reino davídico e da era dourada
de Salomão? A resposta é uma só: DESOBEDIÊNCIA. E outra vez, Deus levanta um Líder
patriota, que ama seu povo, e fiel ao Senhor. Chama um Líder [pastor] carismático
que, identificado até o sangue com os irmãos, começa assumindo para si o
pecado, as dores e as humilhações de sua raça. O mesmo que fez Jesus tomando
para si todos os nossos pecados na cruz. De fato, Neemias tem consciência que a
barreira que impede a renovação dos privilégios da aliança do seu povo com o
Senhor – o problema n.o UM - é o pecado não confessado. Ele sabe que o pecado
está na base da situação atual desastrosa, por isso, ele assume e confessa: “Nós pecamos contra ti”. Ele não somente
culpa a nação, mas, como um Pastor chamado pelo Senhor, se identifica a si mesmo
com a culpa do povo, “eu e a casa de meu
pai temos pecado”.[17] Que
lição para muitos dos nossos Pastores! Quem tem a coragem responsável para
assumir para si os pecados de sua igreja?... Para tristeza de Deus, alguns não
só não assumem, como toleram os pecados de sua igreja.
Cyril
J. Barber, já citado, comenta:
“Começando com esta confissão geral, Neemias passa a dar exemplos específicos: “Agimos de forma corrupta e vergonhosa
contra ti. Não temos obedecido aos mandamentos, aos decretos e às leis que deste
ao teu servo Moisés”.[18] Ao
dizer isto, é claro que Neemias crê que a miséria de Jerusalém está relacionada
diretamente com o pecado não confessado do povo. Ele admite também que o povo
não tem méritos próprios. Quebraram a aliança com o Senhor”.
Quando
leio isto sinto arrepios porque esta é a situação de muitas de nossas igrejas,
onde parece que o pecado está sendo “institucionalizado”. Grande parte de
nossas Lideranças “não estão nem aí” com os pecados de suas ovelhas, desde que
esse estado não lhe tire o “poder”. É melhor ter ovelhas pecadoras “felizes” do
que ter uma igreja vazia, mesmo que a ovelha pecadora seja também um líder! Cruz
e pecado já não são mais assuntos de pregações. Falar de cruz e pecado aborrece
e afasta as “ovelhas”. O que segura ovelhas é “um pasto verde” de bênçãos e milagres! Este é um tremendo alerta
para todo aquele que sonha ser Pastor de um ministério! Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça!
Nesta
breve descrição da identidade de Neemias, já encontramos alguns detalhes de sua
preparação para a Liderança, dentro do propósito de Deus, com tremendos ensinos
para todo aquele que sonha ser líder ou já é líder a serviço do Reino de Deus. É
ele – Neemias - alguém formado desde o nascimento no cativeiro, na dureza da
vida e não deixado se levar pelas influências da corrupção. Quanto mais testado
é o Líder, melhor e mais confiável é perante seus liderados. Porque é Líder por
confiança de Deus e, não por condecorações. Um Neemias fiel cuidadoso da
integridade da vida do rei, como assim deve ser o Líder-pastor cuidadoso das
coisas de Deus e da Igreja e com os interesses de Deus plantados em seu coração.
Assim como o rei se achegou a um homem de sabedoria, discrição e habilidade, desta
mesma forma Deus quer se achegar a seus Líderes ungidos de sabedoria,
discernimento e capacitação social, emocional e espiritual. Jesus quer muito,
todos os dias, comer a páscoa com seus mais íntimos amigos de luta[19].
A
situação calamitosa de Jerusalém mexeu fundo com o espírito comprometido de
Neemias. Sentou-se para chorar de compaixão pela sua cidade mas, levantou-se, pronto,
para fazer o trabalho na restauração da auto-estima de seu povo. Era um chamado
e um pedido de urgência vindo de Deus.
Uma
pergunta que não pode calar: na prática, qual foi a reação concreta de Neemias
diante do relato trazido por Hanani? Em parte, isto já mostramos. O que fez com
que ele fosse até Jerusalém? Como ele conseguiu fazer o que ninguém mais tinha
sido capaz de realizar?[20]
Sua
primeira reação que deve ser de qualquer um a quem Deus chama para a Liderança foram
quatro meses de oração intensiva. Em algum lugar lemos que “muitos há que
descobriram que a oração os sustém quando os problemas que enfrentam parecem
sobrepujá-los”[21].
A oração persistente, portanto, tem o propósito de fortalecer nossa resolução. Lembremo-nos,
no entanto, que oração só é um direito de quem é comprometido! Recordo-me de
ter lido, uma ocasião, que um pastor norte-americano orou com sua equipe 365
[trezentos e sessenta e cinco] dias durante dez anos pelo avivamento de sua
igreja. E hoje, ela é uma das maiores igrejas do mundo. Cabe aqui um testemunho
de Abraão Lincol, que foi presidente dos Estados Unidos, que confessou: “Tenho
sido levado muitas vezes a ajoelhar-me pela convicção esmagadora de que eu não
tinha outra saída. Minha própria sabedoria e a dos que estão a meu redor
pareciam insuficientes para o dia”.
Líder
[pastor] que não ora será um fracassado no espírito e na alma com conseqüências
frustrantes no seu ministério e sua igreja nunca vai ter defesas contra as
variedades de bactérias espirituais. Muitos
que são chamados à Liderança, não foram ensinados, ou se esquecem que terão que
andar de joelhos em adoração permanente, para que seus liderados não pequem
contra Deus[22].
A Bíblia mostra um modelo. Seu nome é Jó.
Quem
ler o início do livro de Jó, poderá entender o que estamos dizendo. Jó, “homem
íntegro e justo; temia a Deus e evitava fazer o mal [...] De madrugada ele
oferecia um holocausto em favor de cada um deles – filhos – pois pensava:
“Talvez os meus filhos tenham, lá no íntimo, pecado e amaldiçoado a Deus. Essa
prática era constante de Jó”[23]
São
os joelhos que levantam igrejas e ministérios! Igrejas que não ficam de joelhos
se tornam comunidades de ossos secos!
A
igreja, às vezes, peca na seleção de líderes para seus ministérios quando olha
o ativismo, serviços ao pastor, patrocínio financeiro das ambições da família
pastoral, presença nos eventos, e outras demonstrações nem sempre ortodoxas.
Isto, quando não aparece alguém com o espírito de Simão, o Mago.[24] Entendemos,
porém, que existem outras amostras ou requisitos que mais devem pesar nessas
escolhas: sua fidelidade à Palavra de Deus [leitura, estudos, comportamentos],
intimidade com Deus, paixão pelas pessoas, qualidade de sua vida de esposo e
pai e seu testemunho fora das quatro paredes da igreja.
Agora
que já conhecemos um pouco a figura de Neemias e já sentimos nesta breve
história o desenho de uma Liderança segundo Deus, já podemos tentar traçar os
princípios da Liderança no Reino de Deus.
Mas cremos que qualquer perfil que se queira montar de um Líder deve ele
estar bem sustentado sobre três bases imprescindíveis. Primeiro SER UM HOMEM DE
DEUS no qual o discípulo pode olhar e confiar sem medo de perder o caminho.
Segundo: ser UM HOMEM DO REINO que busca o Reino de Deus acima de qualquer
vaidade. Terceiro: UM HOMEM DE SENSIBILIDADE que tem paixão em tudo que faz e é
presente na vida de seus discípulos na tristeza e na alegria, na pobreza e na
riqueza. Nossa visão é que o Líder não tem liderados ou súditos; mas tem
discípulos da mesma forma que Jesus não tinha servos mas, sim, discípulos e
amigos que foram treinados para serem apóstolos e assumirem sua Igreja.
Para
conhecermos os princípios da Liderança segundo Neemias, nós o faremos em três quadros:
1. O LÍDER É UM HOMEM DE VISÃO; 2. O LÍDER TEM PLANOS; 3. O LÍDER FAZ PLANOS
REALISTAS. Desenvolveremos isto à luz da ótica do Evangelho que é aplicável em
qualquer área das atividades humanas.
PRIMEIRO: LÍDER É UM HOMEM DE VISÃO
Apesar
de repetidas tentativas de reconstruir o muro[26], a
cidade ainda se encontrava em ruínas. Sem muro para protegê-la, o povo estava
sem defesas. Ladrões das montanhas podiam vir inesperadamente e levar suas
possessões. Visto como não tinham forças para defender-se, eles tinham perdido
sua posição aos olhos das outras nações[27]”. O que
é ainda pior: tinham perdido sua auto-estima. Estavam humilhados porque,
conforme diziam seus profetas, os muros de Jerusalém deveriam simbolizar
proteção, louvor[28].
Foi necessário alguém de fora – Neemias - avaliar a situação e conclamá-los a
esforços renovados.
A
verdade era que, após a restauração do templo sob a liderança de Zorobabel e a
restauração da lei sob a liderança de Esdras, é a vez da restauração dos muros
da cidade sob a direção de Neemias. “Neemias desempenhou um papel especial na
história da salvação, ou seja, no propósito de Deus para restaurar seu povo”[29]. Para
isso, ele viaja até Jerusalém, e, com sua chegada, avalia rapidamente a
situação. É a Visão de Líder. Então desafia o povo com a necessidade de
reconstruir o muro de sua cidade.[30] É a
Visão de Líder passada aos discípulos colaboradores.
Entendemos
que é da vontade de Deus que os Líderes do Reino desenvolvam as mesmas
qualidades de Liderança que Neemias possuía. Inicialmente, identificamos, aqui,
duas qualidades: 1. O Líder do Reino deve ter uma visão clara; 2. O líder do
Reino se sente profundamente comprometido com a sua visão.
Líder
Cristão Tem Uma Visão Clara. Fique clara uma verdade: não é possível ser Líder
sem Visão. Qualquer projeto e empreendimento não consegue caminhar seus dias de
vida sem uma Visão clara da parte do seu criador e gestor. Isto acontece na
vida pessoal, nas empresas, nas igrejas, nos ministérios, nas famílias e em
outros tipos sociais. Por carência de Visão
clara e definida, fortes patologias espirituais, emocionais, sociais e
estruturais estressam vidas, casamentos, famílias, empresas, ministérios e
igrejas.
É
impressionante a ousadia de alguns “metidos” a Líderes se dizendo chamados em
abrir igrejas sem nenhuma Visão. Desculpem, com uma visão, sim: a da vaidade
misturada, às vezes, com uma rebeldia contra seus Líderes de sua igreja de
origem. Abrem-se igrejas como se abrem botecos! Usam e abusam de alguns dons
dados por Deus para exaltação do seu nome [seu nome e não o nome de Deus]. E
fazem questão que um out-door com sua foto destacada e arrogante anuncie sua
[não de Cristo] igreja.
“A
Visão de um Líder - de cara e coração limpos - decorre de duas coisas
complementares: uma profunda insatisfação com a situação presente e uma clara
percepção de como ela poderia estar”[31]. A Visão
começa com um sentimento de indignação diante do status quo e cresce em sua busca intensa por uma alternativa. Esta
indignação se traduz, em Neemias, por um profundo interesse pelos seus irmãos
que vivenciavam uma baixíssima auto-estima. Antes de qualquer tomada de
posição, ele começou a interceder em favor deles[32]. A Visão
clara de Neemias era mover sua vida para a restauração de seu povo. A
indignação do Líder cristão se traduz em um profundo chamado para, por ações,
levar os membros de sua igreja ao contínuo processo de conversão, transformação
crescimento. Em tudo isso, queremos
enxergar um Líder inteiramente interessado para que a Luz de Cristo brilhe na
Igreja e se derrame sobre a sociedade.
Você
que está lendo este “estudo” sinta uma coisa: Visão quer criar, quer mudar. Um
jornalista escreveu o seguinte sobre Bob Kennedy, logo depois de seu
assassinato em 1968: “Ele distinguia principalmente pela capacidade de se
indignar. Ele considerava inaceitáveis algumas situações que a maioria de nós
aceitaria como inevitáveis – pobreza, ignorância, desnutrição, preconceito,
desonestidade, convivências; os males que todos toleravam, para ele eram uma
afronta pessoal”. Estamos falando de
visão de olhos corretos e de visão de olhos “vesgos”. Lembrando de Bob Kennedy,
irmão de John Kennedy, somos alertados que Visão clara, sem “embaçamento”,
corre o risco de ser perseguida e “apagada”
pelos invejosos e medrosos “visionários de olhos tortos”. O exemplo mais célebre é Jesus Cristo, Senhor
e Salvador nosso. Líder é um profeta. Profeta não cala. [Como eu gosto da
palavra PROFETA]. E não pode calar. Profeta não tolera certas tolerâncias
diabólicas de muitas de nossas igrejas. Profeta ensina. Quantos Líderes, porque
tinham Visão clara do que precisava ser acertado e concertado em suas
comunidades, foram “excomungados” de seus ministérios!
Se
o líder é um visionário de Deus é, também, um inquieto; um criador; um agente
de mudança, ainda, que, em alguns momentos, ande pelo vale da sombra da
incompreensão, da rejeição e da solidão. Os grandes líderes da Igreja não
voavam sobre as nuvens, mas andavam caminhos de pedras.
Estamos,
como Igreja, passando por tempos de indiferença. Tempos de Laodiceia![33] Alguém
poderia dizer que indiferença é a capacidade de tolerar o inaceitável. Indiferença
é palavra que não existe no dicionário de um homem de Deus, homem do Reino,
homem de sensibilidade. Indiferença provoca vômito no estômago de Deus. A
verdadeira liderança começa com a firme determinação de não agir assim. Como
podemos tolerar aquilo que Deus acha intolerável? Nos dias de hoje cresce o
número de igrejas cuja visão é a indiferença. Algumas dessas igrejas poderiam
ser comparadas a Sodoma e Gomorra. Este
é o tempo em que a Igreja precisa de Profetas com espírito de Isaías, Jeremias
e outros e, não de “profetiços”.
Um
cuidado: a visão do líder, continuamente precisa ser testada com a visão de
Deus e da Igreja.
Líder
Cristão É Comprometido Com A Sua Visão. Não basta que Deus dê a Visão. De
quem a recebe Deus cobra comprometimento. Quando Neemias ouviu que os muros de
Jerusalém estavam em ruínas, e que seus portões haviam sido queimados, as
notícias o incomodaram muito, até que Deus colocou em seu coração aquilo que
ele deveria fazer. “Venham, vamos
reconstruir os muros”, ele disse.[34]
Não
basta observar que a situação atual desagrada a Deus e discernir o que pode ser
feito para mudá-la. Devemos também sentir indignação e compaixão. O líder de Visão
se deixa envolver pela Visão. Se apaixona pela Visão. Às vezes esta paixão
precisa ser administrada para que seu peso não afete doentiamente sua vida
pessoal. Conhecemos líderes que, inebriados pela Visão outorgada por Deus,
sofre quando se sentem impotentes diante de problemas e pecados nos territórios
de sua responsabilidade.
Mas,
voltando a Neemias, a sua tristeza estava estampada em seu rosto, e o rei não
podia deixar de notá-la. E ele perguntou: “Por
que o seu rosto parece tão triste, se você não está doente? Essa tristeza só
pode ser do coração”[35] Aqui
começa a ação de Deus “mexendo os pausinhos” para o que Neemias necessitava. Já
conhecemos o provérbio: quando Deus dá a visão, dá, também, a provisão. Isto é
muito claro no livro de Neemias. Confira o capítulo 2. Deus tocou no coração do
rei e que Neemias precisava foi colocado
em suas mãos. Se a Visão vem de Deus, nada é impossível, ainda que demore;
ainda que obstáculos se levantem.
A
vitória sobre os obstáculos está na personalidade e no grau de compromisso do Líder.
Se ele tem certeza da veracidade da Visão, ele tem direito a buscar do seu Líder
a aprovação para a concretização do que está colocado em seu coração pelo
Espírito Santo. E a revelação do Espírito Santo vem temperada com o poder
contagioso do otimismo. Bernard L. Montgmery, citado por Cyril J. Barber disse:
“Um Líder tem de ter otimismo contagioso e determinação a fim de perseverar em
face das dificuldades. Ele precisa irradiar confiança, depender de princípios
morais e espirituais e recursos para dar certo mesmo quando ele próprio não
está certo do resultado”.
Quem
está comprometido com a Visão que recebeu de Deus recebe também pelo Espírito
de Deus a graça de ver o impossível acontecer
e a força da determinação para, nem que seja “entre trancos e barrancos”, realizar seus sonhos que são os
mesmos sonhos de Deus. Não é porque o Líder tem a Visão da vontade de Deus que
não haverá problemas e dificuldades. Para saber disso veja Mateus 18:7; João
16:33; Marcos 4:35-41; Atos 16:9-10 e 2 Coríntios 7:5. A nossa força de
cristãos “está em que Deus nos capacita a vencer essas dificuldades enquanto
cumprimos a tarefa que ele tem para nós”.[36] E
ainda: o segredo de vencer a oposição que vem de cima, de trás, de frente e dos
lados está no nosso relacionamento com o Senhor. Por isso que uma das bases de
sustentação de um líder é ser UM HOMEM DE DEUS. A fé é sempre o ingrediente
vital. “Foi a fé que tirou Neemias do vale do desespero e transladou seus esforços em façanhas nobres.
Sua fé gerou-lhe confiança. Sua confiança inspirou a outros”[37]. O
segredo do sucesso de Neemias pode ser o de qualquer líder. Como disse João: “O que é nascido de Deus vence o mundo; e
esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”[38].
O
Líder que tem certeza da Visão lhe revelada por Deus e a abraça forte, jamais
pensa que será vencido em seus empreendimentos.
Gastamos mais tempo na descrição de O LÍDER É UM
HOMEM DE VISÃO porque daqui para frente, tudo que for descrito supõe posse de
uma visão clara.
Segundo: LÍDER NÃO ARRISCA SEM PLANOS
“Então
orei ao Deus dos céus, e respondi ao rei”.[39] Precisamos entender uma verdade: para tudo o que
Deus fez havia um plano. Deus não criou e jogou. Deus pensou – planejou – fez e
implantou. Basta ver a ordem das criações em Gênesis.
Líder Cristão Busca A Ajuda De
Deus E Das Pessoas.. Tão logo soube das condições de Judá, Neemias começou
imediatamente a interceder em favor de seus irmãos.[40] Foram
quatro meses de oração intensiva.
Abrindo um parênteses: O Líder cristão pode ter
certos desejos, certas vontades, certas sentimentos de querer agir dentro
daquilo que está pensado em sua mente e sentido em seu coração. Mas, será um
perigo ir para a luta sem buscar de Deus a confirmação do que o inquieta. Aqui,
cabe alertar: aqueles que se sentem atraídos por um serviço dentro da missão da
Igreja, devem entender também que
ministério é chamado do coração de Deus. Ele não é um reconhecimento de
serviços prestados á igreja local e, muito menos, um sentimento do coração. Sem
a revelação de Deus, qualquer ministério pode ser traído pelas motivações
traiçoeiras da alma e se tornar um “deserviço” a Deus. Fecha parêntese.
Continuando com Neemias. A
resposta á sua oração veio de uma forma muito desagradável, de “muito medo”, como se pode ver no
capítulo 2, versos de 1 a 8. A sua lealdade e seu tato o ajudaram a lidar com
aquela situação constrangedora e disse: “Como
não estaria triste o meu rosto, se a cidade em que estão sepultados os meus
pais está em ruínas, e as suas portas foram destruídas pelo fogo?”[41].
Quando o rei perguntou a Neemias o que ele queria, pediu permissão a ele para
ir a Jerusalém e reconstruir a cidade. A restauração de seu povo falava mais
alto ao coração de Neemias do que todas as mordomias ou, mesmo, a sua autoridade
gestora no palácio real. Para assumir a liderança no propósito que Deus lhe
dava, Neemias precisava ser liberado de
suas responsabilidades com o rei. E o rei lhe dá permissão para voltar a Judá.
Visão que vem de Deus abre as portas mais trancadas.
Ele não foi super-espiritual a ponto de clamar
somente a Deus e considerar a ajuda humana supérflua, nem excessivamente
confiante nos recursos humanos, de modo a considerar a oração desnecessária.
Desde que criou homem e mulher Deus não mais
trabalhou sozinho. Fez o homem à sua imagem e semelhança de modo que este fosse
capaz de assumir responsabilidades pelas descobertas, criação e administração.
Logo que Adão foi criado recebeu a responsabilidade de cuidar do jardim. Hoje,
Deus continua precisando do homem para sua seara. Para o próprio projeto da
Salvação para o qual Jesus Cristo veio enviado pelo Pai, homens – os apóstolos
e discípulos – foram chamados para serem treinados e, assim, anunciar a boa
nova e se envolver por inteiros na obra do Reino. Agora, de cada cristão, por
natureza de seu chamado, Deus espera cooperação e dedicação como obreiro do
Evangelho onde for que ele esteja inserido: família, trabalho, igreja. A partir
da conversão e, especificamente, do batismo, qualquer cristão, independente da
idade assume o compromisso de ser embaixador e profeta de Deus na Terra. Isto
não exige títulos nem rótulos. Isto não exige ordenação. Exige apenas amor e
fidelidade ao Senhor. E peca o cristão que está sempre sentado no banco da
igreja sem disposição para a causa do Reino de Deus. Deus não se satisfaz
apenas com orações, louvores e adoração. Ele quer operários do Reino.
Charles R. Swindoll em “As Trevas e o Amanhecer”
escreveu: “Você não precisa ser chamado para o ministério da Palavra para poder
testemunhar e ser efetivamente usado por Deus. A verdadeira a mensagem é a sua
vida. E, quando sua vida despertar sede em outra pessoa, você saberá as
palavras necessárias para dizer a ela sobre o Salvador”. No início, a Igreja
cresceu, não tanto pelas pregações dos apóstolos, mas por todos que ouviram a
Palavra e passaram esta mensagem para frente com testemunhos visíveis.
Mas Deus dá revelações especiais a alguns e os chama
para ministérios específicos que facilitem a implantação do seu Reino,
traduzido como sua Igreja (maiúscula), na Terra dos homens perdidos. Estes
escolhidos são os identificados como líderes: bispos, apóstolos, pastores,
presbíteros, diáconos e coordenadores diversos dentro da visão de cada
comunidade eclesial. E é destes que o Senhor espera intimidade com ele,
sensibilidade, paixão. Creio que deve cair uma tristeza no coração de Jesus
quando, nos cultos das igrejas, ele só vê religiosos sentados esperando bênçãos
e milagres ou para, apenas, cumprir uma obrigação de ir à igreja ao menos uma
vez por semana ou mês. “Religioso” é
nome de quem, se dizendo cristão, é “fiel” às leis, muitas vezes de medo
do inferno, mas sem nenhum compromisso com a obra do Senhor! A estes, Jesus continuamente
lhes dá uma ordem: “Levanta e anda!” É um risco este religioso, um dia
encontrar as portas fechadas! Igreja é gente viva, sensibilizada, incomodada,
de pé e sempre andando.
Neemias recebeu de Deus um chamado pessoal para o
ministério de restauração de Jerusalém. Foi “ordenado” Líder para um povo
espiritual e emocionalmente arrebentado. Mas não existe Líder sem cooperadores
que tenham a mesma Visão e preocupação. Neemias recebeu a Visão, desenhou seu
plano para tornar real a Visão e, claro, precisou montar a sua equipe de
discípulos para que a restauração fosse possível.
Cada qual dos escolhidos por Neemias foi informado
da Visão – “Venham, vamos
reconstruir os muros”. Deste modo cada pessoa sabia onde deveria estar, de
acordo com o dom recebido do alto. Sabia qual era sua responsabilidade e o que
se esperava dele. Esta divisão de trabalhos, evidentemente, requeria uma
eficiente coordenação da parte de Neemias. Percebemos a verdade disto na
repetição das frases “junto a ele” e “ao seu lado” e outras, em todo o
capítulo 3. Mas esta exigida qualidade de coordenação estava acompanhada de
motivações e estímulos de modo que ninguém “deixasse
a peteca cair”.
Ou seja, Neemias
se apresenta como um homem de equipe pelo qual ele não é e não quer ser só. O
sucesso de um ministério não está nas mãos do Líder. O líder que age só é
incompetente. B. C. Forbes, citado por Cyril J
Berber, disse que “o sucesso se escreve com as letras
t-r-a-b-a-l-h-o-e-m-e-q-u-i-p-e”. Sua observação era de que “se o todo prospera,
o trabalhador individual como parte ativa, efetiva e progressiva do todo
prosperará com ele”; continua merecendo
ênfase. Por fim, a base de toda Liderança eficaz é a coordenação das ações de
todos os envolvidos. Mas para que todos se envolvam é necessário que se tenha
consciência clara da vida da igreja e do ministério.
Sem muito
detalhar, se o primeiro princípio de sucesso de Neemias em sua liderança se
deveu à coordenação, o segundo encontra-se na cooperação conseguida por ele.
Homens de lugares diferentes e de diferentes ocupações trabalharam juntos no
muro. Isto incluía sacerdotes, levitas, chefes e pessoas comuns, porteiros e
guardas, fazendeiros e “trabalhadores de sindicato”, ourives, farmacêuticos,
mercadores, empregados do templo e mulheres. Um ministério pode ser uma fonte
de avivamento se ele consegue ser formado por pessoas diferentes de origem e de
diferentes dons que Deus dá. E, é claro, que a coordenação para ser eficiente
precisa ser sábia na administração das diferenças para a realização de uma só
visão. O grande achado de Neemias que é também de qualquer Liderança madura é
que ele trabalhou com os que estavam dispostos a trabalhar para o Senhor e
conseguiu realizar o que muitos julgavam impossível.
Um segundo
princípio, razão do sucesso de Neemias pode ser visto na aprovação que ele demonstrou para com os
obreiros. Uma das necessidades do Líder é se interessar pessoalmente pelos
membros de sua equipe ministerial. Em Neemias isto se evidencia pelo seu
conhecimento dos nomes daqueles que trabalharam nos muros, por ele saber onde
eles trabalhavam e o que faziam. Ele os tratou como pessoas, não como objetos
ou ferramentas de trabalho. “Dar aprovação às pessoas pelos seus esforços
honestos é uma das chaves mais valiosas para o sucesso nas relações” - Cyril
J Barber.
Quem trabalha para o Senhor não pode ficar esperando reconhecimento; mas isto
não é desculpa para que o Líder não dê honra a quem merece honra.
Outro princípio do
sucesso do líder Neemias está no fato de que cada pessoa terminou a tarefa que
lhe foi designada. As palavras “edificou” e “reparou” estão no tempo pretérito perfeito dos respectivos
verbos. Cada um continuou ocupado. Cada um sabia o que se esperava dele, Cada
um trabalhou no seu lugar. E cada um terminou aquilo que começou. É evidente
que tudo era possível porque, mais uma vez, todos tinham consciência clara da Visão
e, principalmente, pelo contínuo treinamento e comunicação. Comunicação que
envolvia a instrução de cada trabalhador para que ele soubesse o que fazer e onde
fazer, e a delegação de autoridade para que as decisões não precisassem ser
sempre referendadas pela direção. É incrível, como até hoje, alguns Líderes
suam de medo de delegar funções. Mal sabem eles que no mundo empresarial este é
um princípio largamente experimentado como quase um princípio.
Depois desta lição de Neemias, a nós cabe não
esquecer algumas observações que não são desconhecidas. Liderança não é
sinônimo de chefe para quem vigora o princípio de “manda que pode, obedece quem tem juízo”. É muito comum,
infelizmente em nossas igrejas, que supostos líderes tentam subir a escada do
sucesso pisando nos outros. “Ninguém está apto para dirigir os seus semelhantes
se não considerar o cuidado e bem-estar deles como sua primeira
responsabilidade, seu dever, seu privilégio”.[42] Alguém
também disse: “o início da liderança é uma luta pelos corações e pelas mentes
dos homens”. Como isto precisaria ser lembrado em nossas comunidades cristãs!
Vamos gravar em nossas mentes alguns conceitos: Líder
não é proprietário de seus dependentes. Líder não tem dependentes; mas, sim,
companheiros. Líder anda na frente mostrando os caminhos e, não atrás
empurrando e chicoteando seus companheiros. Liderança não é sinônimo de
sabedoria maior. A sabedoria do líder é saber explorar a sabedoria de seus
companheiros liderados. Deus criou o homem para ajudá-lo a administrar sua
criação. Jesus escolheu doze e um conselho de três para iniciar a administração
de sua nova Igreja. Liderar sem um conselho de pessoas, também comprometidas, é
arrogância que pode se converter em erros gravíssimos e, pior, em ditadura. E
como existem ditaduras “apost´ólicas”
em nossas comunidades!
A história deste Líder – Neemias – conta que ele “orou ao Deus dos céus”. Vamos lembrar, mais uma vez, que o Líder
cristão é um homem de oração, porque para administrar o que o Senhor lhe
confiou, ele precisa estar continuamente ligado à fonte de revelações e de
sabedoria e discernimento. Ou seja, orar e agir não são atitudes incompatíveis.
Não precisamos escolher entre oração e ação. [A palavra oração é a composição
de dois comportamentos: “ora/ação]. Ambas são necessárias. E uma sem a outra
pode levar a um perigoso desequilíbrio e a fracassos estressantes e
depressivos. Fica evidente nos dois primeiros capítulos de Neemias que ele era
um homem de oração. Mas isso não o impediu de pedir permissão ao rei para ir a
Jerusalém, nem de pedir cartas de salvo-conduto aos governadores das províncias
próximas ao Eufrates, além de uma carta adicional a Asafe, guarda da floresta
do rei, pedindo-lhe para fornecer madeira para as obras de reconstrução.
Líder Cristão Tem Alvos Possíveis. Cyril J. Barber, tantas vezes já citado neste
rascunho de estudo, diz que Neemias é um líder sábio. Ele sabe que o objetivo
que coloca para o povo tem de ser atingível. Se o alvo for alto demais e eles
não conseguirem atingi-lo, eles vão desanimar-se e perderão confiança nele.
Isto quer nos dizer duas coisas, primeiro: quando Deus dá uma missão a alguém
ele não dá uma missão impossível; segundo: todo líder, quando lança um projeto
desafiador, principalmente ministerial, ele precisa ter certeza do que ele pode
contar a nível de pessoas comprometidas, a nível de recursos e a nível de
estrutura. Aqui está a causa de muitos desmanches de ministérios. Destacando-se,
nisso, o desinteresse dos membros da comunidade.
É mais do que claro que a escolha de companheiros
para qualquer projeto e, mais ainda, para um projeto ministerial, precisa ser
feita com sabedoria, discernimento e estudo das personalidades. Não podemos
confiar em todo mundo que encontramos. Corremos o risco de termos junto conosco
pessoas com intenções disfarçadas. Ciúmes e rivalidades estão ao nosso redor.
Quantos pastores e líderes homens de Deus levaram rasteiras por aqueles em quem
muito confiaram! Quantos espíritos de Jezabeis se encontram infiltrados nas
comunidades e ministérios! Outra vez, aqui, Jesus insiste: “orai sem cessar!”[43]
Não há dúvida que, junto com o desafio, o Líder deve
ter uma carga forte de estímulos convincentes. E o maior dos estímulos é
converter seus irmãos ao propósito revelado de Deus. É “fazer a cabeça” de seus
futuros colaboradores que o que propõe não é um sonho seu, mas um sonho de
Deus. Não é proibido sonhar. Mas é bom buscar de Deus para saber se o sonho tem
a sua aprovação. Se se chegar à conclusão, com ajuda de conselheiros, que ele é
aprovado de Deus só resta colocar a “mão no arado” sem pensar em retroceder[44].
Por falar em sonhos, todo trabalho ministerial
precisa ter uma pitada de sonhos. Aliás, a vida precisa de sonhos. Sonho é
sinal de vida. O mundo costuma fazer pouco caso dos sonhadores. “Lá vem aquele sonhador!”, diziam os
irmãos mais velhos de José. “Vamos
matá-lo, e então veremos o que será de seus sonhos”[45].
É característica natural do líder cristão ser um sonhador dos sonhos de Deus. É
nos sonhos de Deus que ele busca inspiração para pensar a realidade do
Reino. Seus sonhos são realistas. “Os
sonhos noturnos desaparecem com a luz suave da manhã. Assim, os sonhadores
precisam se tornar pensadores, planejadores e trabalhadores”[46]. Para
todo líder cristão visão é igual a sonho. Ter visão é ter sonhos. Pessoas de
visão precisam se tornar pessoas de ação, apesar dos sonhos. Sonhos não são
para serem simplesmente sonhados e, sim, para serem acordados para a realidade
dos projetos. Sonhos de líder são para serem reais.
Neemias, apesar de inspirado pela Visão de
reconstruir a cidade, precisou fazer planos. Logo que chegou a Jerusalém, ele
decidiu fazer um reconhecimento pessoal da situação, saindo à noite para
examinar os muros de Jerusalém. Assim, a verdadeira liderança inclui visão e
ação, sonhos e planos[47].
Terceiro: LÍDER É PERVERANTE E
DETERMINADO
“Todas as nações vizinhas [...] perceberam
que essa obra havia sido executada com a ajuda de nosso Deus”[48]
Neemias
não parou depois que o rei lhe concedeu o pedido inicial. Continuou com seu pedido até que todas as necessidades
tivessem sido supridas. A virtude da perseverança foi sua força e seu estímulo.
Havia ele colocado a mão no arado e nunca gostaria de ser rejeitado por Deus
por qualquer pequeno passo de retrocesso. Retroceder no trabalho do Reino seria
traição à confiança que o Senhor depositara nele. Para isto, Neemias se
preparou muito bem. Ele conhecia suas necessidades. Sabia que o Senhor o chamou
e lhe mostrou onde estava a provisão – os recursos. Estava perto. Assim, com
determinação – sinônimo de perseverança – faz uma lista e, agora, sem medo mas,
com a autoridade que veio do Senhor fala ao rei: “Se for do agrado do rei, eu poderia levar cartas do rei aos
governadores do Trans-Eufrates para que me deixem passar até chegar a Judá”[49]
Jamais
Neemias restauraria Jerusalém somente com a sua sabedoria, discrição e
habilidade. E seria muita fraqueza em formato de arrogância o Líder cristão que
não quisesse ou não pudesse atrair discípulos para com ele empreender a obra de
Deus. É com esta lembrança que recordaremos ainda dois princípios de liderança:
O Líder do Reino atrai discípulos; e o líder do Reino se recusa a ficar
desanimado.
Líder
Cristão Atrai E Forma Discípulos – Uma das provas da determinação do
homem de Deus Líder, que chega ser um carisma, é a força do convencimento
acompanhada da atração. Na verdade, isto está implícito na palavra Líder. O Líder que tem convicção de sua Visão
não tem medo de ter companheiros de ministério. No serviço ministerial, ele não
tem medo de ser confrontado e passado para trás. Além do mais, em se tratando
do Reino de Deus, nenhum ministério é propriedade de ninguém. Assim, convencido
do seu chamado, o Líder toma a iniciativa e convence outros a se juntarem a
ele. É muito natural... Porque ninguém é Líder sem ninguém! Individualismo no
caráter do Líder é uma anomalia. Se não é bom que o homem fique sozinho, muito
pior é o Líder achar-se necessário por si só sem outros.
Certamente
alguns Líderes na história de ontem e muito de hoje foram e são individualistas
ao extremo. São Líderes que têm medo de seus discípulos. Porque tem medo de perder sua reputação e seu “poder”. O Líder autêntico, no entanto,
inspira as pessoas a seguir sua liderança, pois ele entende que sua função
depende da cooperação de todos. No Reino de Deus mede-se a qualidade do Líder
pelo número e qualidade de seus discípulos. O capítulo 2 de Neemias parece
indicar que ele deixou de lado seu individualismo e passou a agir de forma
coletiva. Enquanto o versículo 5 revela uma atitude individualista [“que ele – o rei – me deixe ir à cidade [...] para
que eu possa reconstruí-la”], os versículos 17-18 permitem perceber ver uma
mudança de atitude [“Então eu lhes disse:
[...] Venham, vamos reconstruir os muros de Jerusalém”].
Como
já comentamos e, agora, repetimos: a base de toda liderança eficaz é a
coordenação correta que acredita na cooperação e sabedoria para honrar seus
parceiros e discípulos e delegar, Na Bíblia, o Líder cristão tem toda uma base
de como ser Líder à imagem e semelhança de Jesus Cristo que liderou, mesmo
sabendo que seria traído por um dos discípulos mais próximos.
Líder
Cristão Se Recusa A Ficar Desanimado. Quando alguém se dispõe a fazer a obra
de Deus, deve estar preparado para enfrentar oposições camufladas ou descaradas.
Se por um lado, em muitas igrejas, Líderes estão se apossando de tronos mais
altos do que o de Deus, outros, pela sua fidelidade, são alvos de forças
contrárias pesadas que se unem contra eles. E muitas dessas forças vêm de entre
seus próprios escolhidos e de entre suas próprias “crias” – seus filhos na fé.
Eu
penso que, quanto mais fiel é um ministério, maiores serão as forças
adversárias. Não dá para esconder que um grande ministério não significa
ministério biblicamente aprovado! Temos assistido grandes ministérios
frutificando em escândalos e em abusos da ingenuidade de suas ovelhas. Mas é
certo que a hostilidade passa a se manifestar abertamente de maneiras
horripilantes: acusações, rejeições, “gelamentos”, desprezos, escanteamentos, chantagens e até expulsões. A história é
trágica em contar vidas de grandes Líderes que morreram abandonados pela sua
própria igreja.
Nem
todo Líder agüenta tanta crucificação. O mínimo pelo que alguns passam é pelo
desânimo. Ser líder no Reino é uma
escolha privilegiada da parte de Deus. É um depósito de confiança do Senhor em
seus escolhidos. É, em contra-partida, uma entrega total ao serviço de Deus,
mas, sem a espera de medalhas de honra ao
mérito. Ser chamado a Líder é um chamado a não mais se pertencer e até a
uma possível crucificação. Cuidado, estas afirmações não significam largar a
família para ser total da igreja ou do ministério. A família, ainda é o seu
primeiro ministério. Tudo é uma questão de sabedoria e discernimento. Aliás,
gostaria de fazer uma colocação: ninguém deveria aceitar o chamado para um
ministério sem a consulta e a aprovação da família – marido ou mulher e filhos.
Quando há um chamado para o marido ou para a esposa, o ministério é da casa,
ainda que um dos dois não se envolva, de cabeça, nas ações ministeriais.
Na
verdade, o desânimo é o principal e comum obstáculo para um Líder. Hoje, não
está fácil para um Líder comprometido bíblica, séria e apaixonadamente com a
obra de Deus suportar resistências, escândalos e tolerâncias aos pecados de
seus próprios Líderes, maquinações de seus “irmãos” também líderes e as
respostas frias e indiferentes dos membros de sua igreja às convocações.
Nesta
exposição, nossa referência é a liderança de Neemias. Por sonhar, na
fidelidade, os sonhos de Deus ele não ficou isento às crucificações de fora e
de dentro. Teve que enfrentar um antagonismo virulento promovido por
Samabalate, o horonita, por Tobias, o amonita e por Gesém, o árabe. Primeiro
eles zombaram de Neemias e o desprezaram, e, então, lançaram acusações falsas
sobre ele, sugerindo que ele estava se rebelando contra o regime persa. Acrescente-se
a isso o enfraquecimento de seu próprio povo, diante de fortes pressões, a
ponto de se deixarem dominar pela depressão[50]. E
Neemias sente a solidão de seu cargo. Quantos Líderes têm amargado a solidão de
seu cargo pela diversidade das adversidades que vêm de cima, dos lados e de
dentro. Entre as múltiplas adiversidades, o escárnio e a difamação são armas
venenosas nas mãos do inimigo. Ainda que
passe pelo vale da morte, o verdadeiro Líder, no entanto, não desiste; ao
contrário, ele persevera. Se Jesus diz que no mundo todos teremos aflições ou
podemos dizer, ainda, que na igreja, todo líder sério e fiel terá aflições que
podem chegar a ter o nome de conspirações iradas. As adversidades são provas da
realidade da fé e da maturidade de qualquer um e muito mais do Líder. Em todo
sinal de problemas, Neemias, no lugar de cair na tentação do desânimo, parte
para a tarefa de animar dos desanimados. O Líder segundo Neemias e Jesus Cristo
“não joga a toalha”.
CONCLUSÃO
Quisemos
focar estas seis qualidades para a liderança na Igreja - Reino de Deus. Mas elas podem ser aplicadas
a todo outro tipo de Liderança, entendendo que se o Líder é chamado pelo nome
de cristão, em qualquer lugar que ele se distinga, dele serão cobradas maior
responsabilidade e maior qualidade no seu exercício. Portanto, por esta Visão
de liderança que acabamos de ver em Neemias, Líderes são os. esposos em seu
casamento, os pais em suas famílias, os professores nas escolas e nas
faculdades, os empresários em seus empreendimentos, os administradores e
gestores de recursos humanos, os gerentes comerciais, os chefes de
departamentos, e a lista continua. Em algumas partes do mundo, os Líderes
estudantis são também muito influentes. E a cobrança maior virá do Senhor que
escolheu, capacitou e proveu seu escolhido. Que o exemplo de Neemias possa
servir de revelação e inspiração.
E
entendamos mais uma coisa: A base da vida de Neemias era sua fé. Em razão de
sua fé, ele pode dar motivação aos seus liderados. Sabia que a desistência
seria o mesmo que deixar Deus do lado de fora. Deus tinha permitido que muitos
– grandes e pequenos – se opusessem à obra. Mas jamais ele se permitiria
duvidar da providência de Deus. Nada é pior para o Líder que a dúvida do
chamado. A dúvida é um beco sem saída que leva ao fracasso e, por conseqüência,
à depressão! A fé, por outro lado, cria uma esperança clara da certeza de seus
atos. E quando há certeza dos atos a realização é certa. Sem fé nada acontece.
Em Hebreus está escrito: “Sem fé é
impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproximar [ou por ele for
chamado a ação] precisa crer que ele
existe e que recompensa aqueles que o buscam”.[51]
[2]
Neemias 4-6 fala de uma série de crises que surgiram enquanto a reconstrução
dos muros estava em andamento
[22] O
pensamento de Neemias devia estar saturado da Palavra de Deus porque em seu livro
cita trechos tais como: Deuteronômio 4:25-31; 5:10; 7:21; 9:29; 30:1-5;
Levítico 26:27-45; 1 Reis 8:29; 2 Crônicas 6:20.36-40; 7:15; Salmo 130:2.
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