24/01/2011

JÓ – UM HOMEM DE FAMÍLIA – Jó 1:1-5

INTRODUÇÃO – Na Bíblia, o livro de Jó está está no grupo dos chamados livros poéticos que são Jó, Salmos, Provérbios e Eclesiastes. Há estudiosos que dizem que o livro de Jó é “o maior poema, tanto da literatura antiga como da moderna”. Os estudiosos, também, dizem que Jó não fazia parte de Israel e que seu livro foi uma das mais antigas obras literárias – não só bíblicas - em existência. É um dos mais antigos senão o mais antigo da Bíblia. No meio de muitos estudiosos da Bíblia, inclusive alguns crentes, Jó é uma fantasia. Ou seja Jó é um simples personagem da galeria da crendice. Nós cremos, com a maioria dos estudiosos, que Jó é uma pessoa real. Viveu em uma época anterior a Moisés. Talvez tenha vivido antes do povo de Deus.

1. O FOCO É A FAMÍLIA - Em todos estes anos que tenho lido a Bíblia, descobri que nela só existem duas famílias segundo o coração de Deus: a de Josué que se comprometeu a servir o Senhor. “Eu e minha casa serviremos a Deus, o Senhor” – Josué 24:15 e a de Jó, que santificava sua família com holocaustos – verso 5. Nem a família de Abraão, nosso pai na fé foi modelo. Basta ver a confusão familiar porque, com estímulo da mulher Sara, gerou um filho com a funcionária da casa.

Quando se pensa em Jó, vem à mente seus sofrimentos. Conhecemos Jó pela história de seu terrível sofrimento. Nesta noite, não quero falar dos sofrimentos de Jó. O nosso foco é buscar na família de Jó o que o Espírito Santo tem a ensinar à nossas famílias.

2. A LIÇÃO DE JÓ PARA A FAMÍLIA. Nós mais conhecemos Jó como a encarnação do sofrimento. Ele, pelos sofrimentos que passou, descobriu melhor o Deus que ele já adorava. E nós, pela graça do Espírito Santo, nos primeiros cinco versículos do livro descobrimos um homem pastor e sacerdote de sua família. Um homem 100% crente E aprendemos como pode e deve ser uma família de crente. E isso é tremendo!

O Espírito Santo de Deus quer nesta noite lembrar às famílias de sua missão perante Deus e perante os homens. Não resistamos a este Espírito. O livro nos revela, em Jó, como ser um pai de família. Deus nos mostra o testemunho de um homem verdadeiro adorador. Um homem de caráter. Um homem comprometido com sua família. Um homem de relacionamento. Um marido e pai presente. Um pastor que cuida da esposa e dos filhos. Um sacerdote que “oferecia holocaustos segundo o número de todos os filhos” – v. 5. Um homem sempre em oração e sacrifícios ao Senhor para a purificação de sua casa. Cuidadoso da santidade de sua casa. Vamos conhecer a família da qual foi gerente e pai.

Uma família de adoradores. Jó com sua família entendeu que Deus deve ser buscado não por aquilo que ele faz ou dá. Não pelas suas promessas e milagres. Mas, sentia-se diante de Deus como alguém com quem vale muito a pena ficar íntimo, e com quem é prazeroso andar. Uma família verdadeiramente crente. Isto porque Jó foi o pai sacerdote da casa que fez da sua família uma casa cheia do temor de Deus. Uma casa, em tudo, fiel a Deus.

É importante lembrar que, até o versículo 5 do capítulo 1 Jó, não tinha noção muita clara de Deus, como o povo de Israel tinha e como nós temos. Ele conhecia a Deus por ouvir falar. Mas, cremos que o Espírito de Deus colocou em seu coração o desejo de estar sempre diante do Senhor. Só depois de passar por todo o sofrimento é que ele vai se expressar dizendo: “Antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem” (42:5). Hoje, nós temos muito mais de Deus do que ele. Se isto é verdade como está, então, a nossa família crente?

Jó, como o pai atento à formação espiritual de sua família, criava momentos de culto familiar. No verso 5 está escrito que ele “se levantava de madrugada e oferecia sacrifícios em favor de cada um dos filhos para purificá-los.” Jó sempre fazia este culto em família, porque pensava que um dos filhos poderia ter pecado, ofendendo a Deus. Os pais, que estão aqui, pensam nos possíveis pecados de seus filhos? Sua família está vivendo o Espírito de Deus ou o espírito do mundo?

Jó ensinava sua família a buscar a Deus não por causa de suas promessas e milagres mas, porque Deus é, antes de tudo, o Senhor da vida que quer de seus adoradores uma coisa só: obediência. É triste como 90% dos crentes só buscam e conhecem a Deus pelas suas promessas e milagres. E a Igreja, nestes últimos tempos, pregado isso... Não se prega mais sobree a cruz e a santificação. Qual família aqui já pensou em um programa de culto familiar semanal ou mensal? Nossa família está pensando isso. A primeira missão de pai e mãe crentes é construir uma família de adoradores.

Família de caráter. Porque Jó, o pai, era um testemunho verdadeiro e presente de fidelidade ao Deus que ele cria, sua família se tornou uma casa de pessoas com caráter. No verso 1 conta que ele era um “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal”. Era um pai de quem os filhos nunca teriam vergonha. Uma família de adoradores só podem formar filhos de caráter. Adoração não combina com falta de caráter.

A Bíblia conta histórias de filhos sem caráter que envergonhavam. Exemplos foram os filhos do sacerdote Eli e do rei Davi. O livro de Jó não tem uma palavra de acusação contra seus filhos. Qual é a explicação: Uma só. Qual? Jó era inteiramente família. Um pai – presente e companheiro - que sabia amar, ensinar e disciplinar a família. Um pai que acompanhava passo a passo o crescimento dos filhos e o comportamento fora de casa e, mais ainda, nas festas e baladas. Enquanto os filhos se divertiam, Jó ficava em oração, porque temia e pensava que os filhos poderiam estar crescendo nos vícios e na malandragem diante dos homens e diante de Deus - v. 5.

Uma pergunta aos pais: Seus filhos podem se gloriar do seu testemunho de pai 100% dedicado e íntegro em sua casa, em sua profissão e na igreja? Eles podem se gabar de seus pais?

Família que se encontra. O v. 4 tem uma informação preciosa. Diz: “Os filhos de Jó iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez. E mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles”.

Mesmo Jó sendo o grande milionário da época, sua prioridade era a sua família reunida. Os familiares da casa de Jó, com freqüência, se reuniam pelo prazer de estarem juntos. Era uma gente que não abria mão do relacionamento. A maior riqueza de uma família é o relacionamento. Existe relacionamento, existe família. Não existe relacionamento, não existe família.

Nossa família tem vivido esta experiência, duas vezes por semana. Isto é sagrado! A causa das muitas famílias se desmancharem é a falta do relacionamento livre e alegre entre os pais, entre pais e filhos e entre irmãos.

Para Jô, a família reunida com toda a liberdade, sem máscaras era mais importante do que todas as suas propriedades. Aqui eu lembro do que está em Mateus 16:26: “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro mas perder sua alma?” Jó, com certeza, pensava: “o que me adianta ser o homem mais poderoso de todo o Oriente se eu perder minha mulher e meus filhos”. Nós, maridos que estamos aqui, pensamos assim também?

Esta vida de relação familiar da casa de Jó é o resultado de seu freqüente relacionamento contínua com Deus. Com o Espírito de Deus, com um pai realmente presente de corpo, alma e coração, nenhuma família se dispersa! Infelizmente, em nossa igreja e em muitas de nossas casas, há muitos filhos órfãos de pais ausentes e mulheres viúvas de maridos ausentes. Isto é pecado. Nós, maridos, já tomamos consciência que como cabeça da casa recebemos o ministério de pastor e sacerdote para cuidarmos da santificação e do relacionamento da família? Ausência do pai, gera toda espécie de maldição!

Uma família que tem amigos. Uma das maiores desgraças de uma família fechada é ela não ter amigos. Boas e grandes amizades são uma graça e enriquecem uma família. Nós, lá em casa, podemos testemunhar esta graça. Sem amigos, a família é pobre. Há famílias em nosso meio que tem medo de ter amigos. Uma , que se fecha às pessoas, cria mofo e um certo mal cheiro insuportável! Em Provérbios 17:17 está escrito: “Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia se faz irmão”. Quantas de nossas famílias crentes sofrem e se desmancham porque não têm amigos. Um amigo que nos acompanha, nos anima, nos ensina, nos corrige é mais do que um irmão. É bênção do Senhor.

Na grande, demorada e terrível crise de Jó, os amigos se achegaram a ele. Ficaram muito tempo com ele. Ficaram com ele durante trinta e oito capítulos. Prova de que ele soube construir uma rede de amigos. Foi a presença dos amigos, com seus conselhos, muitas vezes desastrosos, que preparou Jó para melhor ver Deus com seus próprios olhos porque antes o conhecia só de ouvir falar.

Uma pergunta às famílias aqui presentes: Vocês têm amigos na sociedade e na igreja em quem podem confiar e de quem podem aprender e a quem podem ajudar?

Conclusão. Para constrangimento de Deus, as igrejas estão cheias de crentes que conhecem a Deus, apenas por ouvir falar. E não conhecem a sua verdadeira vontade. Conhecem a Deus pelas suas promessas e milagres. Conhecem a Deus pela bênção da prosperidade. E não, porque ele é o Senhor. Muitos têm somente a intenção de conhecer melhor a Deus, mas não temos o desejo de se encontrar com ele na intimidade e andar com ele. Por isso, apesar de uma vida cheia de compromissos com a Igreja, vivem no deserto ou se alimentam somente daquilo que o mundo oferece. Não basta intenção. De boas intenções o inferno está cheio. São semelhantes ao povo de Israel. Quanto este povo fazia atos contrários à vontade de Deus e Deus se irava contra ele, Israel se arrependia e .declarava intenção de cumprir toda a lei do Senhor. Era apenas intenção. E não o desejo de ser fiel. Por isso Israel estava sempre longe e nunca entendeu os propósitos de Deus.

Intenção não compromete ninguém. De boas intenções está cheio o inferno. Desejo move para o compromisso determinado

Se o chefe da casa não exercer a função de pastor e sacerdote da casa, sua família crente vai continuar adorando os deuses do mundo. Para o homem viver como filho de Deus exige-se que ele se lembre que foi criado para a glória de Deus. O primeiro ministério do crente é adorar a Deus.

Por Pr Euler P. Campos
24/01/2011

11/01/2011

O meu marido é o meu pastor...

Meu marido é o meu pastor… Meu pai é o meu pastor... Salmo 23
- palavra ministrada na reunião semanal do Conselho de pastores de Uberlândia – MG

Aqui, no CONPAS, nós temos sido muito abençoados pelas várias palavras ministradas. Todas nos têm levado a pensar em nossas vidas de ministros de Deus, responsáveis pelas ovelhas que o Senhor coloca sob nossa direção. Mas, hoje, eu gostaria de trazer-nos à lembrança que, antes de sermos pastores, somos maridos e pais. Esta é nossa primeira missão. O salmo 23 vai ser o fundo de nossa reflexão.

Nas celebrações de casamentos, eu costumo dizer ao noivo que, naquele momento, ele será ordenado pastor de sua esposa. O salmo 23 é uma carta modelo de princípios básicos para todo homem-esposo e homem-pai. Eu estou seguro disto, uma vez que a própria Palavra de Deus nos exorta, inúmeras vezes, que devemos andar como Jesus andou, fazer como Jesus fez. O Senhor Jesus exerceu e exerce a função de esposo de sua igreja, sendo o marido e o pastor fiel. Ele é nosso modelo. Ele é o padrão.

Quando lemos o salmo 23 com os olhos de esposos descobrimos algo maravilhoso e um entendimento gracioso do que a Bíblia ordena ao marido como “cabeça da mulher”. Antes de se apresentar como cabeça da igreja, Jesus se apresenta como o Bom Pastor. Se entendermos que somos pastores mais que cabeça, seremos mais humanos no trato com nossas esposas e filhos. O título de “cabeça da mulher” é, na maioria das vezes, usado por maridos-pastores como um álibi para o exercício da força mais do que da autoridade. Aliás, quem muito usa da força é porque pouca autoridade tem.

Vou tentar, com base no salmo, descrever algumas das principais funções ou deveres do marido-pastor.

PRIMEIRO DEVER: Verso 1 - O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.

Este versículo aponta para nosso primeiro dever: cuidar da qualidade de vida da família. O marido-pastor é aquele que está sempre promovendo a melhor qualidade de vida para sua família, tendo o cuidado para que nada lhe falte. Como? Assumindo a liderança, em todas as circunstâncias. Que jamais a família possa reclamar da falta de comida, de roupa, de lazer, por razões de descontrole financeiro ou de desatenção irresponsável do marido. É uma vergonha, mas temos visto pastores de igrejas pedindo esmolas pelas ruas. Eu conheço um caso. E, pior, alguns empurrando filhos para outras famílias cuidarem com a conversa de que Deus mandara.

Este papel é confirmado em 1 Coríntios 11:3. “Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”.

Ser cabeça não é título de chefão, de patrão. É título de guardião da família. De atalaia! É título de pastor cuidadoso!

Cuidar da qualidade de vida da família é ser o provedor dos bens materiais, afetivos e espirituais. Lembrem-se que a primeira preocupação de cuidados é a nossa casa. Se a igreja não tem condição de nos sustentar, temos que buscar trabalho fora. Infelizmente, alguns de nossos líderes anseiam serem pastores, para não trabalhar no serviço secular. É triste, mas é real: há quem abra igrejas para ser sustentado por ela. Muitas ovelhas estão sendo despeladas. Estão perdendo a gordura.

Paulo escreve, de forma contundente, em 1 Timóteo 5:8, estas palavras: “Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo”.

Já em Deuteronômio 6:6-9, o Senhor Deus nos alerta, dizendo: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”.

SEGUNDO DEVER - Verso 2-3 – “Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma”.

É dever do marido-pastor ser o agente tranqülizador na sua casa, através do amor maduro e fiel. Estar sempre criando momentos românticos e de descanso, de refrigério “em verdes pastos e à beira de águas tranqüilas”. Um passeio, um cinema, um restaurante, uma viagem turística. É triste saber que as nossas casas de pastores são as menos românticas da comunidade. Por isso, escândalos acontecem.

Alguns pastores estão se esquecendo que são gentes. Há pastores que têm medo de serem românticos e passam este medo para a esposa. Nós, pastores, estamos precisando aprender com o Espírito Santo a não termos medo de vivermos o amor erótico com as nossas mulheres. Deus cuidou de nos instruir a respeito, nos dando um manual cheio de detalhes, de como viver nossa intimidade romanciada-conjugal-sexual-erótica: o livro Cântico dos Cânticos.

Muitas coisas podemos e, até, devemos economizar em nossas casas. Mas, se queremos uma vida conjugal feliz, uma família feliz, não podemos, nunca, economizar carinhos e afetos expressos com palavras, com toques, com gestos, com lembranças. Quem declara todos os dias á sua esposa “eu te amo”? Quem escreve bilhetinhos de amor para sua esposa? Quem leva da rua uma flor para sua esposa? Quem leva café na cama para sua esposa? Quem passeia com sua esposa, de mãos dadas, pelas ruas ou pelo shopping. Não precisamos ter medo de andar fora do ambiente ou das rodinhas sagradas. Se você é um homem de Deus, onde você pisar é sagrado. O evangelho do amor conjugal também precisa ser anunciado e mostrado.

Muitos só sabem amar na cama. E, às vezes, isto não passa de uma sessão de descarrego de espermatozóides! Não sabem amar em outro lugar da casa. Nos outros lugares da casa só sabem mandar e cobrar. Temos que sair para fora da igreja, para sermos o que Jesus diz que somos sal e luz do mundo. Há famílias de pastores que só conhecem o chão da igreja e as panelinhas de irmãos. Somos, demasiadamente atentos para responder às exigências do povo da igreja! Mas, a nossa esposa não é tão exigente! O que ela quer de nós custa pouco: é a nossa presença sedutora. Ela nos quer como namorados sempre e em todo o lugar e também na igreja!

Temos investido muito nas estruturas e logísticas das nossas casas e das nossas vidas. Mas investimos pouco ou quase nada em nossa conjugalidade romântica. Temos medo de nos entregarmos por inteiro à nossa amada. Sofremos do mal do espiritualismo esquizofrênico e diabólico. Somos muito espiritualóides. E Deus é muito claro quando diz em Efésios 5:25 - “Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”. E em 1 Pedro 3:7. – “Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações”.

Guardemos uma verdade: o que temos que salvar não é o casamento, mas o relacionamento. Casamento sem relacionamento é cemitério. É uma forma de divórcio e separação. O romance é uma das armas de garantia para um casamento. A relação de Isaque e Rebeca, como está em Gênesis 26 foi salva, quando “Abimeleque viu Isaque acariciando Rebeca, a sua mulher”.

A falta de romance gera casais machucados, oprimidos, deprimidos, estressados, desalmados - sem alma. E nesta, quem leva a pior, geralmente, é a mulher. As clínicas terapêuticas estão cheias de mulheres de pastores.

TERCEIRO DEVER - Verso 3 - “guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome”.

É dever do marido-pastor exercitar o ministério da exortação para manter a família alerta contra os males. Um dos fatores destruidores de casamentos e famílias é a ausência e o silêncio do marido.

Como é estranho o marido-pastor tão loquaz e festivo com os irmãos, tão entusiasmado em suas pregações, competente animador de programas ao vivo, na igreja e tão mudo em casa! Como é esquisito o marido-pastor sempre presente em visitas às casas dos irmãos, de noite, de madrugada, de dia, faça sol e faça chuva, e em casa ele é uma figura decorativa e calada! Sua boca é um túmulo!

A casa está caindo. A mulher está sofrendo, os filhos estão se desviando e ele é, apenas, um corpo presente. Eu costumo dizer que a primeira promessa que os noivos deveriam fazer um ao outro, no ato do casamento, é: eu prometo conversar com você todos os dias de minha vida! Tenho certeza que muita coisa mudaria. Os divórcios diminuiriam. As doenças conjugais seriam curadas. Amado, se você fala muito com Deus, e deve falar mes...mo..., ele quer que você fale mais com sua esposa e filhos.

Quando eu reflito Gênesis 3 e 4, eu fico impressionado com o silêncio de Adão. Calado, enquanto Eva estava sendo seduzia pela serpente. Calado, enquanto Caim e Abel se desentendiam. Eu penso que Eva caiu, porque Adão era ausente. Caim matou Abel, porque Adão estava ausente. Os filhos de Eli foram terríveis, porque ele, Eli, era um ausente. A família de Davi foi uma das mais confusas porque ele, Davi, o grande vencedor de todas as guerras, era ausente na família. O comportamento de Eli e Davi é um alerta para nós. Porque, como nós, eles eram pais e pastores.

Pelo verso 3 do salmo 23, entendemos que o marido-pastor, à luz da mesma Palavra de Deus, está sempre levando sua casa pelas veredas dos princípios da cidadania justa, sem nenhuma corrupção de caráter. Está fechando as portas contra as contaminações das drogas. Está fazendo de sua casa uma referência para todas as famílias da sua comunidade. Os vizinhos podem dizer: vejam como eles se entendem. Como se amam!

Em Hebreus 3:13, achamos a ordem de Deus para nós, nesta área: “antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado”. E, também, em 2 Corintios 10:5-5: “derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo”.

QUARTO DEVER - Verso 4 – “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam”.

Este é o versículo mais pastoral do salmo 23 que nos chama para o quarto dever do marido-pastor: ser protetor e confortador com atitudes e palavras. Viver o amor fileo. Ser amigo e companheiro. O marido-pastor e pai é figura presente e sensível em todos os momentos pelos quais pode passar a sua casa. Porque ele tem consigo a segurança e o equilíbrio da vara que ensina, orienta, e organiza e o abraço do cajado para levantar os ânimos de sua família.

Sua casa jamais perde a alegria, apesar das sombras de tribulações nem sempre esperadas. “Ainda que a casa seja abalada e os muros caiam. Ainda que as circunstâncias se agitem e rujam. Ainda que as desesperanças tremam violentamente” - ver Salmo 46:2-3 - sua esposa e seus filhos jamais sentem medo de mal algum.

Por que? Porque esposa e filhos são guiados pela vara do pastor, que afasta os animais ferozes e ameaçadores da família. No marido e pai, eles têm segurança em seus projetos de vida. A esposa pode ter segurança em sua função de cuidadora dos valores domésticos e de sua missão de mãe, conselheira e promotora de ações eclesiais, profissionais e sociais.

Com esperança firmada na direção do cajado do pastor-marido e pai, esposa e filhos sempre têm nele um lugar onde buscar descanso no cansaço, esperança no desespero, alegria na tristeza, compreensão nos erros, entusiasmo no desânimo, água no deserto existencial.

Mulher e filhos esperam do seu pastor doméstico um ombro para se encostarem, um colo para repousarem, um braço para agarrarem. Mulher e filhos de pastor podem ser a mulher e os filhos mais limpos e bonitos da comunidade... Mulher de pastor-marido não fica velha e irritante. Porque ele é um homem bonito no amor e no cuidado. É muito triste ver o pastor que é um mel, um doce de coco com os membros de sua comunidade e um fel com os de sua casa.

Este dever tem confirmação clara em Efésios 5:25-18: “Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo”.

E em 1 Coríntios 7:3-5: . “O marido pague à mulher o que lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não vos negueis um ao outro, senão de comum acordo por algum tempo, a fim de vos aplicardes à oração e depois vos ajuntardes outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência”.

O QUINTO DEVER não está tão explícito no salmo 23. Como uma explicitação maior do que acabamos de ver, no verso 4, o quinto dever do MARIDO-PASTOR é: Ser rápido e constante no perdoar, servir e curar, com alegria. É o que poderíamos chamar de viver o amor ágape. O amor incondicional. Aquele amor incondicional que pregamos e vivemos na igreja é dever maior vivê-lo em nossa casa.

Eu já presenciei cenas terríveis, onde o marido-pastor soltava ódio pelos narizes, ouvidos e bocas. O homem bufava. Parecia um dragão soltando fogo pela boca. Eu sabia que ele também usava do braço para pintar a esposa de ematomas. E pensar que era e é, ainda, um homem a quem Deus ungiu com poderes espirituais!... E ele estava voltando de uma campanha de milagres e revelações no sul do país.

Quantas vezes nos dobramos para lavar os pés de nossas ovelhas da igreja... E não estendemos a mão para levantar as ovelhas da casa!...

Nós ouvimos, outro dia, que nosso nome é servidor, é dispenseiro, é garçon das revelações de deus. O título de pastor, às vezes, é uma armadilha. Ao mesmo tempo que a Palavra de Deus nos consagra “cabeça da casa”, ela também nos diz que amemos a esposa como Cristo amou a Igreja se entregando. Quem ama, primeiramente, se entrega. Quem ama serve. Será que nós ainda não nos tocamos com a cena de Jesus, o legítimo Pastor, se dobrando para lavar os pés, inclusive do que o haveria de traí-lo? Ou, dele, todo desfigurado na cruz, convidando o ladrão para entrar com ele no paraíso?

Quando escolhemos uma mulher para caminhar conosco, nos propusemos andar com ela, não importando o que haveria, sem preocupação de recompensa e agrados. À semelhança de Deus, nós nos propusemos amá-la primeiro. Não cobrar dela o amor primeiro. A nos entregar a ela. Não exigir que ela se entregasse a nós. A proposta primeira é que seríamos dela e não que ela fosse nossa.

O sentido do casamento é não querer uma mulher para ser nossa. E, sim, procurar uma mulher para sermos dela. É assim que Deus faz. Por isso, não temos nenhum direito de negar perdão, ainda que ela tenha nos machucado de forma terrível, a ponto de nos jogar no chão. Não temos nenhum direito de negar serviço a ela, ainda que simples e, à vista de machos, ridículos. Estou falando de serviços domésticos. Não temos direito algum para negar ajudá-la a buscar cura de suas enfermidades físicas, emocionais e espirituais. E tudo isso, na alegria. Nós temos condição de fazer isto, porque tanto a força como a alegria vêm do Senhor.

A Palavra de Deus nos ajuda, ao dizer: “qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos” - Marcos 10:44. Quem quiser ser cabeça, seja servo. E: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados” - 16:17-18. E mais: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas” - Mateus 6:14-15.

Amados, eu quero dar um testemunho. Se eu ainda estou com a família. Se ainda sou pastor. Se ainda estou aqui, eu devo isto a duas pessoas: primeiro a Deus que me amou com amor eterno e, segundo, à minha esposa que sempre me amou com o amor ágape. Ela tinha todo o direito de me expulsar de casa. De me expulsar de sua vida, porque foi machucada no mais profundo de seu íntimo. Eu era um marido imaturo e inconseqüente.

Quem a conhece sabe o que estou dizendo. Foi uma mulher experimentada por tribulações fortes: um marido que morreu afogado. Ela que rodopiou por vinte quilômetros nas águas do Rio Araguari, enquanto o marido desaparecia nas águas. Casou comigo, despreparado para a vida conjugal. Um filho preso por tráfico de droga. Uma filha morta em um acidente de carro, quando voltava da visita ao irmão na cadeia. Um filho morto por um tiro de um assaltante. Mas, jamais perdeu a fé, a alegria, a disposição e o gosto pela vida. É ela que monta a mesa da comunhão na família. Ela é amante de uma mesa. Um outro nome lhe cabe bem: relacionamento. Ela, sim, é uma mulher de Deus! E eu estou aprendendo..

SEXTO DEVER – verso 5: “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda”.

É dever do marido-pastor ter o maior cuidado com a mesa de sua casa. Um móvel que, jamais, pode faltar em uma casa de pastor é a mesa. E, evidente, também não pode faltar a cama... Mas, a cama só tem sentido se houver mesa. Mesa é comunhão. É o encontro da família. É lugar de refeição. Não é lugar para “choranças”, cobranças e discussões. É lugar para conversas alegres, para compartilhar o cálice com o vinho das alegrias e vitórias e o óleo da palavra de ânimo. Problemas se tratam em outros lugares da casa.

A mesa é lugar de se experienciar a sexualidade da família. Não estou falando sexo, mas, sexualidade. Limitando o significado de sexo, entendemos encontro de órgãos genitais. E quando falamos de sexualidade da família, estamos querendo dizer de toda manifestação que fortalece o relacionamento e a comunhão: abraços, beijos, carinhos, afetos e outros.

Cada refeição é uma celebração profética de todas as expressões afetivas. Lembrem-se: tudo bem na mesa, tudo bem na cama. Quando tudo bem na cama, a unção corre solta. Não quero nem pensar que aqui haja pastores que tenham medo de cama. Da cama de sua casa, bem entendido!

Muitas casas de pastores estão em ruínas porque ou a mesa não existe, ou a mesa caiu. E diabo nenhum pode contra uma mesa! Cuidado, amado! Porque se na sua casa a mesa cair, em sua igreja o altar vai cair. Assim, entre tantas funções do marido-pastor está a de sempre preparar uma mesa para a família perante os inimigos. É outra forma de viver o amor eros.

SÉTIMO DEVER. Verso 6 – “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias”.

É também dever do marido-pastor ser lembrado como bom marido e bom pai. A Palavra de Deus diz que é muito triste a pessoa não ser lembrada. É terrível um marido e pai ir-se, sem ter sido significativo na vida de sua casa. Ir embora devendo a qualidade de vida à sua família. O marido-pastor amigo, companheiro, amoroso, bom como Jesus, misericordioso como Jesus, é sempre lembrado. Sua presença é forte em todos os dias e em todos os momentos da vida da esposa e dos filhos. Chego a pensar que quando o pastor morre e chega diante do trono do Altíssimo, Deus diz: “Bem vindo!” E pergunta: “Mas, como ficou sua família?”

Ainda que, por circunstâncias, fisicamente, mulher e filhos estejam sós, ou estejam longe, sentem sua lembrança, sua presença. Sentem um contínuo desejo de estarem em contato com ele por telefone, por bilhetes, por flores. Eles têm a consciência segura e a lembrança prazerosa de que, com eles, estão o amor, a amizade e o companheirismo do esposo e pai.

Ou seja, a casa onde está o marido-pastor e pai é aí que toda a família quer estar, até que circunstâncias gratificantes ou pesarosas os afastem. Que nós pastores, que somos maridos, possamos, sempre, dizer o mesmo que o Senhor nos fala: eu amo vocês com amor eterno.

CONCLUSÃO

E termino com uma declaração de amor de cônjuge para cônjuge que se encontra no livro “Amar Pode Dar Certo” de Roberto T. Shinyashiki

Neste momento, penso em você
e então quisera me transformar em vento.
E se assim fosse,
chegaria agora
como brisa fresca
e tocaria leve sua janela.
E se você me escuta
e me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem o tocar.
Vou roçar nos seus cabelos,
soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia,
e embalar no meu carinho.
Mas eu não sou vento...
Agora sou só pensamento
e estou pensando em você.
E se abrir sua janela,
eu estou chegando aí,
agora... neste momento,
em pensamento... no vento.

Amados, disse Deus: “não é bom que o homem seja só”. E, hoje, ele nos diz: “não é bom que o pastor seja só, sem a companheira idônea que fiz para ele”.

Por Pr Euler P. Campos