08/12/2010

Módulo- 3 O Homem, Criação Especial, Mas...o homem é a obra especial da Trindade


Para introduzir

Os elementos de uma antropologia bíblica se oferecem nos estudos sobre alma, coração, carne, corpo, espírito. Segundo essa concepção sintética tão diferente da mentalidade comum de nossos dias, que vê no corpo e na alma os dois componentes do homem, o homem se exprime todo nos seus diversos aspectos. Ele é a alma enquanto animado pelo espírito de vida; a carne aponta nele uma criatura perecível; o espírito significa sua abertura para Deus; o corpo, enfim, o exprime exteriormente. A essa primeira diferença entre as duas mentalidades acresce uma outra, ainda mais profunda. Na perspectiva da filosofia grega, trata-se de analisar o homem, microcosmo que une dois mundos, espiritual e material; a Bíblia, a teologia, não vê o homem senão diante de Deus de quem ele é a imagem. Em vez de se encerrar num mundo natural e fechado, ela abre o cenário às dimensões da história, de uma história cujo principal ator é Deus: Deus que criou o homem e que, para o remir, se tornou ele próprio homem. A antropologia, já ligada a uma teologia, se torna inseparável de uma cristologia. Assim os variados comportamentos dos homens no curso da história sintetizam-se nas duas categorias do pecador e do homem novo. E essas últimas atualizam as duas figuras reveladas em momentos privilegiados da história sagrada: Adão e o Servo de Javé, e realizadas por Jesus Cristo. O tipo autêntico do homem vivo não é portanto Adão e sim Jesus Cristo; não é aquele que saiu da terra, mas o que desceu do céu; ou., antes, é Jesus Cristo prefigurado em Adão, o Adão celeste esboçado no Adão terrestre.
A Bíblia ensina, claramente, a doutrina de uma criação especial, que significa que Deus fez cada criatura “segundo a sua espécie”. Ele criou as várias espécies e, então, as deixou para que se desenvolvessem e progredissem segundo as leis do seu ser. A distinção entre o homem e as criaturas inferiores implica a declaração de que “Deus criou o homem à sua imagem”.
Em oposição à criação especial, surgiu a teoria da evolução que ensina que todas as formas de vida tiveram sua origem em uma só forma e que as espécies mais elevadas surgiram de uma forma inferior. O homem está incluído nesta teoria. Mas o que se entende por “espécie”? É uma classe de plantas ou animais que tenham propriedades e características comuns, e que se possam propagar, indefinidamente, sem mudarem essas características. Uma espécie pode produzir variedade, isto é, uma ou mais plantas ou animais isolados, possuindo uma peculiaridade acentuada que não seja comum à espécie em geral. Por exemplo, um tipo especial de cavalo de corrida pode ser produzido por processo especial, mas é sempre cavalo. Quando se produz uma variedade, e essa se perpetua, por muitas gerações, temos uma raça.
Os evolucionistas procuram unir o homem ao irracional, mas Jesus Cristo veio ao mundo para unir o homem a Deus. Ele tomou sobre si a nossa natureza, para poder glorificá-la no seu destino celestial. Jo 1:12: - “Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.
Aqueles que participam de sua vida divina chegam a ser membros de uma nova e mais elevada raça – sim, filhos de Deus! Porém, essa nova raça surgiu – “o homem novo” (Ef 2:15) – não porque a natureza humana evoluisse até à divina, mas porque a divina penetrou na natureza humana. E àqueles que são “participantes da natureza divina” (2 Pe 1:4), diz João na sua Primeira Carta 3:2: - “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos”.


A criação segundo a Bíblia

Após criar todas as coisas, no sexto dia, Deus criou o homem e a mulher, de uma forma diferente e cuidadosa. Deu-lhes alma racional e imortal. Dotou-o de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem. Escreveu em seu coração a sua lei. Com poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixado à liberdade da sua própria vontade, que era imutável. Gn 1:27-31:- “Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. 28 Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre todas as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. 29 E disse Deus ainda: Tenho-vos dado todas as ervas que produzem semente, e se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dá semente. Ser-vos-ão para mantimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres viventes que se arrastam sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento, E assim foi.31 Viu Deus tudo o que tinha feito, e que era muito bom. E houve tarde e manhã – o sexto dia”. (Cf Gn 2:7; Sl 8:4-5; Ec 12:7; Cl 3:10).


Conhecendo a natureza humana

Conforme Gn 2:7, o homem é composto de corpo – matéria - e alma. A alma é a vida do corpo. Quando a alma se retira, o corpo morre. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente”.
Mas conforme a carta aos Tessalonissenses e aos Hebreus, o homem é composto de espírito, alma e corpo: 1 Ts 5:23: - “…o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Cf Hb 2:12).
Estas afirmações não se contradizem. O espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual do homem. Embora distintos, o espírito e alma são inseparáveis um do outro. Por estarem tão interligados, as palavras “espírito” e “alma”, muitas vezes se confundem. Ec 12:7:- “... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu”. (Cf Ap 6:9).
Mas, onde está, então, a diferença? A alma é o homem como o vemos em relação a esta vida atual. As pessoas falecidas descrevem-se como “almas”, quando o escritor se refere à sua vida anterior. Ap 6:9-10: - “Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. 10 E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” – 20:4: - “Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos”.

“Espírito” é a descrição comum daqueles que passaram para a outra vida. Atos 23:9:- “Daí procedeu grande clamor; e levantando-se alguns da parte dos fariseus, altercavam, dizendo: Não achamos nenhum mal neste homem. E se algum espírito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus”. E 7:59: - “Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. (Cf Hb 12:23; Lc 23:46; 1 Pe:19).
Quando alguém é “arrebatado” temporariamente fora do corpo, se descreve como ”estando no espírito”. 2 Co 12:2: - “Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu”. (Cf Ap 4:2).

Sendo homem “espírito”, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo “alma”, ele tem conhecimento de si próprio; sendo “corpo”, tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo (Scofield). Vamos explicar melhor a distinção.

Espírito, alma e corpo

O ESPÍRITO é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas criadas. O homem é dotado de vida humana e inteligência que o distinguem da vida dos irracionais. Os irracionais têm alma, mas não têm espírito. Pv 20:27: - “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração”. (Cf Jó 32:8).
Diferentemente dos homens, os irracionais não podem conhecer as coisas de Deus e não podem ter relações pessoais e responsáveis com ele. 1 Co 2:11: “Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus”. E 14:2: - “Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios”. (Cf Ef 1:17).
O espírito do homem, quando se torna morada do Espírito de Deus, é centro de adoração, de oração, cântico, bênção de serviço. Jo 4:24: - “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”. (Cf Rom 1:9; 8:16; Jo 4:23-24; 1 Co 14;15; Fp 1:27).
A ALMA é aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo do homem, usando os sentidos físicos como seus agentes, na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o mundo exterior. Originalmente, a alma veio a existir, em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos descrevê-la como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No entanto, não podemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É mais correto dizer que é dom e obra de Deus. Zc 12:1: - “A palavra do Senhor acerca de Israel: Fala o Senhor, o que estendeu o céu, e que lançou os alicerces da terra e que formou o espírito do homem dentro dele”.
Devem-se notar quatro distinções: 1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como, a vegetal. Tanto os homens como os irracionais possuem almas. Gn 1:20: - “E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu”. A palavra “vida” é “alma” no original. Poderíamos dizer que as plantas têm alma – no sentido de um princípio de vida – mas não é uma alma consciente. 2 . A alma do homem o distingue dos irracionais. Estes possuem alma, mas é alma terrena que vive, somente enquanto durar o corpo. Ec 3:21: - “Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos brutos desce para a terra?” – 3. A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano. Existe a alma humana e existe a alma dos irracionais. Os homens fazem o que os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que sejam; a sua inteligência é de instinto, e não proveniente de razão.
Os seguintes nomes aplicam-se ao CORPO: a - casa, ou tabernáculo. É a tenda na qual a alma do homem peregrina, mora durante sua viagem no tempo para a eternidade. Na morte, desarma-se a barraca e a alma parte. 2 Co 5:1: - “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. (Cf Is 28:12; 2 Pe 1:13-14). - b – invólucro. O corpo é a “bainha” da alma. A morte é o desembainhar da espada. Dn 7:1: “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbavam”. - c- templo. O templo é um lugar consagrado pela presença de Deus – um lugar onde a onipresença de Deus é localizada. 1 Rs 8:27-28: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei! 28 Contudo atende à oração de teu servo, e à sua súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que o teu servo hoje faz diante de ti”.
O corpo de Cristo foi um “templo” porque Deus estava nele. Quando Deus entra em relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa torna-se o templo do Espírito Santo. Jo 2:21, quando da descrição do “barulho” que Jesus “aprontou” no templo, o evangelista termina: “Mas ele falava do santuário do seu corpo”. (Cf 2 Co 5:19; 1 Co 6:19).

O homem caiu na lábia...

O homem e a mulher, seduzidos por Satanás, pecaram, desobedecendo a Deus, em relação à árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Por este pecado, eles saíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado, e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma. Gn 2:16-17: “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. E no capítulo 3:1-13: “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? 2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, 3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. 4 Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis. 5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal. 6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. 7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. 8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. 9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás? 10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me. 11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi. 13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi”. Paulo, várias vezes, faz alusão a esta situação. Basta conferir Rm 3:23; 2Co 11:3; Ef 2:1-3; Tt 1:15.
Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus filhos - raça humana; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteriodade, que deles procede por geração ordinária. Gn 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Cf Sl 51:5 ; At 17:26 ; Rm 5:12-19; 1Co 15:21).

O pecado, a transgressão da justa Lei de Deus, torna culpado o pecador e, por sua culpa, ele está sujeito à ira de Deus e à maldição da Lei e, assim, exposto à morte com todas as misérias espirituais, temporais e eternas. Paulo é contundente nesta doutrina na carta aos Romanos 1:21-25: “...porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. 22 Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, 23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. 24 Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; 25 pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém”. – E no capítulo 2:15: “ ...pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os. E ainda no capítulo 3:9-19: “Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; 10 como está escrito: Não há justo, nem sequer um. 11 Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.12 Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. 13 A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; 14 a sua boca está cheia de maldição e amargura. 15 Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. 16 Nos seus caminhos há destruição e miséria; 17 e não conheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante dos seus olhos. 19 Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus”. (Cf Gl 6:5; Ef 2:2-3; Tg 1:14-15).

Por- Pr Euler P. Campos

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