09/01/2012

A SENSIBILIDADE DE JESUS

O corpo de Jesus era de uma perfeição extraordinária que o tornava sensível á dor, às emoções e às pessoas.

Ao recapitular os escritos evangélicos, observa-se que ele experimentou todos os nossos sentimentos, alegres ou tristes, doces ou amargos, e em especial a dor. Apesar disto, acontecesse o que acontecesse, no fundo de sua alma reinavam sempre a serenidade e a alegria. A paz que ele se comprazia em desejar aos seus apóstolos – Lc 24:36; Jô 14:27; 20:19.26), ele a possuiu plena e continuamente. Ainda que algumas vezes os evangelistas declarem que ele sentiu certa perturbação, era sempre inteiramente dono de si – mesmo no Getsêmani, onde tão profundas foram as emoções do Filho de Deus. Ver Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-46.

Em uma circunstância particular, João expressou essa turbação por meio de uma linguagem bem significativa: [Jesus] moveu-se muito em espírito e perturbou-se – Jo 11:33b. Mas nunca vimos suas emoções o dominarem nem fazê-lo desistir de sua missão – Jo 12:27-28. Suas emoções lhe estavam sujeitas, como todo o seu ser. Apesar de sua natureza humana, com seus afetos, afeições e “paixões”, ele se conduzia sempre de maneira nobre e santa.

Voltemos, porém, á admirável serenidade de seu espírito. Era esta uma de suas qualidades que se destacavam. Seguro de si mesmo e de sua missão, Jesus caminhou diretamente, sem vacilar, até seu alvo, pois conhecia o desígnio de seu Pai celestial, que lhe traçou o rumo em todas as ocasiões. Nunca também percebemos nele pressa excessiva, precipitação ou agitação impaciente; sua tranqüilidade era inalterável. Os seus cruéis inimigos podiam fustigá-lo, espiá-lo, opor-se a ele, acusá-lo, querendo por todos os meios ao alcance deles levá-lo a perder o controle e a desistir; mas Jesus não se deixou dominar pelo medo, não perdeu o foco, e venceu.

Nas catacumbas, há uma inscrição que descreve exatamente como Jesus andava em todas as circunstâncias: com doce alma e em paz. Tão inteiro e constante era o seu domínio sobre si mesmo que, em qualquer ocasião, ele sabia permanecer senhor de suas palavras e de seus atos.

Lembremo-nos da tempestade do lago de Genesaré, tão violenta que, apesar de os apóstolos, em sua maioria, serem pescadores profissionais e terem experimentado mais de uma vez o furor das ondas, fê-los tremer. Enquanto a tempestade rugia, Jesus dormia tranquilamente na proa do barco levantado pelas ondas. Quando eles, sobressaltados, despertaram-no, Jesus se levantou sem pressa, repreendeu-os carinhosamente por causa de sua falta de fé e, com o poder e a majestade divinos, fez a terrível tempestade cessar – Mt 4:37-39; Lc 8:32-25.

Nem os endemoninhados, que interrompiam as pregações de Jesus – Mc 1:22-26; Lc 4:33-35 -, nem seus adversários, quando o insultavam grosseiramente ou quando tentavam pôr suas mãos brutais nele – Mt 9:3; Lc 7:49; 11:45; 13:14; Jo 7:20 -, conseguiram fazer o Mestre perder sua tranquilidade. Se, por prudência, ele se ocultou momentaneamente, pois não tinha direito de adiantar a hora que seu Pai havia fixado para o seu sacrifício, não o fez por medo; tinha perfeita paz – Mt 15:21; Mc 7:24; Jo 7:1.

Ninguém pôde fazer Jesus perder seu equilíbrio emocional. Em meio ao perigo e ao espanto de seus discípulos, ele cumpriu, com toda a calma, o seu dever total – Lc 13:32; Jo 11:7-10. Sua vida pública transcorreu cheia de momentos difíceis, inquietantes, perigosos, porém Jesus deslizou como um rio de tranquilas águas, que flui mansamente entre suas margens sem transbordar; e como todo o sossego se encaminha até o oceano.

As influências externas jamais puderam levantar na alma de Jesus algum tipo de agitação. As aclamações populares não ao afetaram mais que do que a ingratidão dos homens. Não é que ele não sentisse com relação a estas coisas; mas sua alma estava sempre muito acima das situações. Em sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus se mostrou tão dono de si como quando esteve perante o Sinédrio, Pilatos e Herodes. Nem o Hosana ao Filho de Davi nem os gritos da turba perante o pretório abalaram sua confiança. Podemos comprovar isso em muitas outras ocasiões, como na resposta do Salvador às ameaças do tetrarca Herodes Antipas – Lc 12:32-33 – e ao orgulhoso Pilatos – Jo 19:11. Vemos a calma tranquila com que o Cordeiro de Deus lidou com os seus carrascos – Mt 26:45-46 -; a paz com que ele exalou seu último suspiro, apesar da amargura que causava à sua alma o aparente abandono do Pai – Mt 27:45-46.

Contudo, existem passagens em que vemos Jesus legitimamente indignado, pronunciando palavras de repreensão e ameaçadoras – Mt 9:30; 11;20-24; 16:23; 21:19; 23:1-39; Mc 1:25; 8:33; 9:19; 10:14; 11:14; Lc 4:35; 9:55; 11:33-52; 13:15. Ele chegou a aberta repreensão, expulsando os vendedores que profanavam o templo – Mt 21:12-13; Lc 19:45-46; Jo 2:14-17. O seu zelo pela glória de Deus ardia. E ele tinha aversão ao pecado e à hipocrisia. Por isso, NE mesmos os seus discípulos deixaram de ser repreendidos pelo Mestre quando erravam; eles tinham sido chamados à santidade. Mas sempre que Jesus permitiu que suas emoções falassem alto por alguns instantes, ele o fez deliberadamente e com um propósito em mente. Ele tinha sempre os seus sentimentos sob eficácia vigilância e controle.

O Salvador experimentou também, sobretudo no Getsêmani e no Calvário, o medo que deprime, o horror que estremece o coração, a tristeza que gera o desânimo. Que angústia entrevemos quando escapou de seus lábios o lamento: A minha alma está cheia de tristeza até à morte – Mt 26:38! Os escritores sagrados expressam com palavras fortes estas pungentes emoções – Mt 26:37; Mc 14:33; Lc 22:43. Por exemplo, um pouco antes de expirar, Jesus Cristo lamentou-se com este grito angustioso, que revela seu terrível sentimento: Eli, Eli, lama sabactani, isto é, Deus meu Deus meu, por que me desamparaste? – Mt 27:46.

JESUS SORRIA?

Alguns estudiosos têm considerado Jesus como um melancólico de rosto sempre sombrio. Mas tal opinião não se fundamenta nos evangelhos. Embora ele tenha conhecido momentos de profunda tristeza – pois tinha claríssima visão sobre a ingratidão e a dureza de coração de seu povo, sobre a covardia e a fuga de seus amigos mais chegados por ocasião de sua paixão - não devemos esquecer que sua alma, unida ao Pai, possuía habitualmente a plenitude da bem-aventurança.

Não é fácil imaginar Jesus às gargalhadas, mostrando ruidosa alegria; mas podemos acreditar que um celestial sorriso iluminava muito frequentemente seu rosto. O esplendor da natureza animada e inanimadas, as flores, as crianças, as doçuras da amizade, a certeza da felicidade eterna que atraía tantas almas, eram certamente para Jesus mananciais de doces e santas alegrias.

Não foi ele mesmo quem disse um dia que não era conveniente que seus discípulos se entregassem ao jejum e à tristeza, euqanto estivesse com ele? Estas palavras não podiam ser ditas por uma pessoa de natureza melancólica e sombria. Lucas também conta que, quando os setenta discípulos, a quem Jesus enviou para anunciar as boas novas, voltaram de sua pregação, alma de Jesus transbordou de santa alegria – Lc 10:21. E que alegria mais profunda a daquelas palavras que nos permitem ler na alma do Salvador as mais brilhantes esperanças para o futuro: E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim – Jo 12:32.

Sabendo acerca da ciência infusa do Verbo encarnado, não era de esperar, certamente, descobrir entre seus sentimentos o da admiração, o do assmbro? Mas os evangelistas testemunham que ele sentiu admiração em duas circunstâncias diferentes: diante da fé manifestada pelo centurião – Mt 8:10 – e da inexplicável incredulidade de seus conterrâneos de Nazaré – Mc 6:6. Mas, sendo homem e ao mesmo tempo Deus, Jesus podia admirar-se sem comprometer a sua ciência infinita, do mesmo modo que um astrônomo contempla com admiração um novo astro, cuja aparição ele havia previsto e anunciado muito tempo at rás.

Sugestão de leitura: Enciclopédia da Vida de Jesus, de Louis-Caude Fillion – Editora Central Gospel. São somente 1001 páginas!

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